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Exemplo

Como ex-senador e jornalista Alfredo Nasser civilizou Goiás

Maior orador de Goiás no Congresso, jornalista e advogado venceu concursos de poesia, fundou jornais e substituiu Tancredo Neves como ministro

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Considerado o maior intelectual da política goiana, o ex-senador Alfredo Nasser (1907-1965) deixou memórias e relatos sobre exercício raro da integridade na política. Não deixou bens, mas fez o bem. As pessoas que conviveram com o político relatam que ele era educado até para pedir água. “Era um gênio. Lia um livro atrás do outro”, recorda o jornalista Batista Custódio.

Em série que trata da goianidade, o DM traz nesta edição a figura emblemática de um dos políticos que mais marcaram o século passado com sua imagem sólida de retidão, integridade e cultura.

Nasser contribuiu para o surgimento de uma segunda imagem do goiano: o ‘self-made man’, culto, civilizado, obstinado pela erudição. É esta construção icônica que ajudará a balancear e se contrapor à imagem do caipira - interiorano e morador de “cidades jardins” - que se firmou ao longo de décadas.


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Welliton Carlos

Nasser foi habitar a selva de pedra e viver do seu discurso. Era o oposto ao que se tentou plantar aqui – a imagem do Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, atolado na terra e que foi inúmeras vezes emulado. Ainda agora nas redes sociais tenta-se perpetuar este modelo ideal de goiano. Mas a contribuição de Nasser foi o uso da palavra para a ebulição de direitos.

Ele conviveu com fraudes eleitorais que o prejudicaram, foi perseguido por opiniões sinceras e tornou-se mito da política goiana devido aos discursos agudos nas trincheiras da UDN. Até os familiares se revoltavam contra sua posição. “Nunca nomeou parente. Muitos falavam mal dele por isso. Mas era franco e muito humano”, lembra Batista.


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Fonte: Reprodução


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Recentemente, a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), ao mudar sua sede de lugar, o abandonou no antigo prédio. Seu busto esquecido - obra do seminal escultor Angelos Ktenas - permanece no Palácio Alfredo Nasser, mas sem a presença daqueles que mais deveriam influenciar.

Quem conhece Nasser sabe que ele faz falta pela convicção, moral e probidade. Como jornalista, lançou veículos de comunicação combativos, como “A Coligação”, “Jornal do Povo”, “Jornal de Notícias” e depois inspirou os mais jovens a criarem o lendário “Cinco de Março”, fruto dos esforços de Batista Custódio, Telmo de Faria e Consuelo Nasser – sobrinha criada por Alfredo Nasser, após ele assumir a “tutela” das filhas de Gabriel Nasser.

Foi um verdadeiro pai, dizia Consuelo – mãe de Júlio Nasser, presidente do DM, e do jornalista Fábio Nasser.

Nos bastidores se especula que o maior orador do Estado não chegou ao cargo de governador por conta das traições partidárias, veleidades das elites políticas e preconceitos.

O tema é rumoroso, polêmico e objeto de estudos de história, sociologia e ciência política. Em um deles, Clever Luiz Fernandes, ao defender dissertação de mestrado na Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás (UFG), que virou livro pela editora Kelps, revela os bastidores das decisões da UDN em Goiás, tendo Nasser como um dos personagens centrais. “História da UDN nas eleições em Goiás (1945-1966)”, escrito há duas décadas, mostra os dissabores enfrentados pelo advogado e jornalista.

Parlamentarismo

Desde sempre Nasser se estabeleceu como político de expressão nacional. Durante o gabinete parlamentarista de Tancredo Neves, que tentou contornar a crise dos militares contra João Goulart, ele substituiu o político mineiro como ministro da Justiça e depois o próprio como primeiro ministro, quando este representou o país no exterior. “O único goiano que governou o Brasil”, lembra Batista.

No início da juventude, foi jornalista das folhas que geraram a “Folha de S. Paulo”. Deixou reflexões políticas que ajudaram a construir a imagem da moral goiana. Daí seu discurso ser tão presente no imaginário simbólico da goianidade através do conservadorismo não radical e da sinceridade como pressuposto do diálogo. Da palavra dada, palavra cumprida.


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O ex-deputado Ayr Nasser deixou registrado em documentário da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) o desprendimento financeiro do político, que dava seu dinheiro para as pessoas e muitas vezes ficava sem nada. Nasser, conforme o ex-deputado, gastava tudo com as pessoas na rua.

Governador “quase eleito”, Nasser foi trocado por Coimbra Bueno

Filho de pais libaneses, que em grande parte se assentaram em Caiapônia, Alfredo Nasser assimilou a cultura árabe. Mas logo se mudou para São Paulo, onde foi trabalhar nos jornais “Folha da Noite” e “Folha da Manhã”.

Em plena ebulição da Semana de Arte Moderna venceu um prêmio de poesias cuja banca era integrada por Oswald de Andrade.

Em 1935 tornou-se deputado estadual. Aos 30 anos, sua principal bandeira era combater o Estado Novo instituído por Getúlio Vargas. Tornou-se editor do jornal “A República”, de Totó Caiado. Coube à família Caiado, na Cidade de Goiás, cortejá-lo para a vida política, uma vez que o grupo enxergava nele um intelectual com perfil público. E Nasser foi um dos políticos que se colocou contra a mudança da capital goiana, denunciando que tratava-se de estratégia para privilegiar Pedro Ludovico e isolar a antiga cidade.

Conforme Eurico Barbosa, existiram graves desentendimentos entre Nasser e Pedro nos anos 1930 e 40. "Um dos mais brilhantes deputados da oposição naquela época era Alfredo Nasser", recorda no documentário da Assembleia.

Em 1946 foi convidado para concorrer ao Governo de Goiás, mas acabou trocado pelas elites da legenda, que optaram pelo ‘outsider’ Coimbra Bueno. É ainda uma incógnita tal troca, mesmo com as pesquisas adiantadas na UFG e PUC-GO.


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Fonte: Reprodução

Políticos de seu próprio grupo faziam de tudo para impedir suas postulações, seja com a divulgação de fama de doente seja com a imagem de pobre, como Fábio Nasser registrou em livro biográfico sobre o tio-avô.

Seu discurso a respeito dos ataques sofridos se perpetuou no tempo: "Prefiro perder por falta de dinheiro do que ganhar com falta de vergonha".

“Comigo não, passa fora, canalhas!”, desabafou em seu discurso de despedida da UDN, passagem abordada pelo pesquisador Clever Fernandes.

Mas eis uma das demonstrações de sua superioridade nas urnas: Nasser teve mais votos como candidato a senador (43.436 votos) do que Coimbra Bueno (40.742), eleito governador naquele ano.


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O resultado demonstrou que existia uma evidente aclamação pelo seu nome, além de grande prestígio político. A história hoje demonstra como Nasser foi superior no imaginário público e deixou um rastro civilizatório maior do que o substituto, além de grande contribuição pública.

Alto clero

Político com grande expressividade nacional por integrar o “alto clero” das discussões nacionais, Nasser foi responsável pela federalização da Faculdade de Direito e consequente movimento pela criação da Universidade Federal de Goiás (UFG). Relator do Plano Salte, foi um dos responsáveis pelos estudos do plano econômico da administração do presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1950). O projeto de lei visava estimular a saúde, alimentação, transporte e energia do país.

Foi ainda um dos responsáveis pela restruturação da Polícia Federal, no estudo de novas atribuições e investigações do ‘iter criminis’.

Seu nome batiza centros de ensino – como a Faculdade Alfredo Nasser – e seus atributos são declinados pelos políticos mais cultos. A UFG concedeu ao advogado o título de doutor honoris causa. Durante a fase aguda da ditadura, tentou manter diálogo com os militares, em busca de pacificação e não violência contra os jovens que se rebelaram contra a repressão.

Dentre suas últimas ações, foi convocado para representar o parlamento brasileiro na Conferência da Organização dos Estados Americano (OEA). Era considerado um dos parlamentares mais civilizados, cuja característica era o pensamento próprio, a reflexão e defesa da dignidade.


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Líder das oposições, Alfredo Nasser teve candidatura ao governo sabotada

Estudo de mestrado de Clever Luiz Fernandes, defendido na Universidade Federal de Goiás (UFG), na Faculdade de História, revela como a UDN da era Alfredo Nasser surgiu para defender a liberdade no país e combater o regime estadonovista. Em Goiás, principalmente, significou a “união” contra o ludoviquismo que moveu a oposição por longos anos – a maioria destes anos marcados por doloridas derrotas.

Em um dos trechos do estudo da UFG, o pesquisador Clever Fernandes analisa a formação da UDN no Estado, suas convenções e personalidades: “José Fleury [N.R: ex-deputado federal] não esteve na convenção de Anápolis. Este só veio ingressar na UDN ao término da sua segunda convenção realizada em Goiânia, quando foi lançada a candidatura do saudoso Alfredo Nasser a governador do Estado, substituída, depois em má-hora, pela de Jerônimo Coimbra Bueno”.

Na convenção da UDN, explicam os historiadores, Nasser teria vencido Jalles, por resultado apertado, mas, enfim, vencido. Daí o espanto de muitos acadêmicos com a traição de um grupo cuja base estava nos atos solenes de representatividade.

Em sua pesquisa, Clever revela os bastidores da escolha de Nasser para se candidatar ao governo e a resistência iniciada pelo ex-deputado federal Jalles Machado, pai do ex-governador Otávio Lage: “O jornalista Alfredo Nasser saiu vencedor na convenção, porém o partido sofreu o primeiro desgaste pois o deputado federal Jalles Machado que, segundo Willmar Guimarães, ao iniciar os trabalhos, havia feito uma exortação aos convencionais no sentido de, todos num compromisso de honra, se curvarem às decisões das urnas, foi o primeiro a se rebelar contra o resultado delas, constituindo a única nota dissonante do certame, provocando verdadeiro tumulto a que não faltaram veementes protestos dos presentes. Seu gesto antidemocrático se inspirou, estamos certos, no fato de não ter sido êle o eleito candidato, senão o resultado das urnas seria certamente acatado”.

Alguns testemunhos da época relatam que a estratégia do grupo derrotado por Nasser não era ganhar as eleições e trazer à tona uma nova forma de prática política antagônica ao sistema que combatiam. Logo, disputar e ganhar ou perder. O foco era combater Pedro Ludovico nas urnas, ainda que o princípio democrático da UDN fosse colocado em risco.

Para muitos, “Coimbra” seria um nome neutro, entre a UDN e os descontentes com o excesso de poder de Ludovico que começavam a se afastar dele e do PSD. Em boa matemática, Coimbra, sendo menos UDN do que Nasser, atrairia os votos do grupo udenista e até mesmo de dissidentes de Ludovico.

Ou seja, a própria sigla passaria a conviver, segundo a pesquisa e outros autores, com o espírito golpista – ainda que batizasse o ato como estratégia de campanha. Ao DM, durante entrevista em 2017, o ex-deputado Olinto Meirelles, que acompanhou de perto aquele cenário político, relatou que os modos da UDN eram “muitas vezes não compreendidos” por até mesmo quem estava no processo.

Na pesquisa de Clever, demonstra-se como surgiu o pensamento que destroçaria o sonho de Nasser, ‘solapando’ sua candidatura: “Neste novo quadro que se descortinou Alfredo Nasser não representava os interesses que o haviam eleito na convenção estadual, pois agora as lideranças acreditavam que era necessário, para aglutinar todos udenistas e pessedistas dissidentes, um homem que não fosse ligado a nenhum partido, e o engenheiro Coimbra Bueno era o homem ideal, segundo Jalles Machado, por isso, era lícito solapar a candidaturas dos correligionários”.

Conforme Clever, “o ex-deputado estadual Francisco de Britto [ N.R: jornalista que foi presidente da UDN e deputado estadual ] ao recordar este momento histórico, em um primeiro momento não toma posição e, em seu relato, é como se Nasser tivesse aceitado prontamente esta mudança manobrada por lideranças descontentes do resultado da convenção udenista”.


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Mas o autor da pesquisa interpreta o silêncio de Nasser aos tipos catalogados pelo sociólogo Max Weber: “Não se pode esquecer que, segundo Weber, a paixão é uma das três qualidades indicada para quem se lança na carreira política. Paixão no sentido de uma objetividade, de dedicação apaixonada a uma causa, não no sentido daquela emoção íntima, como excitação estéril (WEBER: 1982, 138). E é possível buscar relação entre este acontecimento e esta ideia weberiana e afirmar que Nasser não provocou um racha na UDN neste momento devido esta paixão a causa maior de ver o ludoviquismo fora do poder”.

Historiador cita “senso abnegado” de político goiano

Conforme relatou o historiador José Asmar, "a perspicácia e o senso abnegado de Nasser facilitaram as coisas" (ASMAR: 1994, 89). Clever Fernandes lembra reflexão do ex-deputado estadual Francisco de Britto: “Francisco de Britto afirma, sem comentar os acontecimentos, que caracterizada a dissidência, foi a UDN consultada sobre a possibilidade de uma coligação partidária, mediante a escolha de novo candidato à chefia do governo estadual. Resultou daí a candidatura do engenheiro Jerônimo Coimbra Bueno à Governadoria, com o deslocamento de Alfredo Nasser para a senatória (BRITTO: 1980, 164)”.

De acordo com o autor da pesquisa, em um segundo momento de suas memórias, Britto lamentou: "a UDN transigiu, no que cometeu grave erro, porque nunca mais se lhe apresentariam condições de eleger candidato próprio e, no momento, a dissidência pessedista só tinha um caminho a trilhar" (BRITTO: 1980, 213).

Segundo Clever, existiam reflexões antagônicas: aceitar os termos para a coligação, para Britto, foi um "grave erro"; já para Domingos Vellasco, um dos fundadores do braço mais à esquerda da UDN, "um simples ato de inteligência política". “ (...) Em um artigo, no Jornal "O Popular", dia 21 de Novembro de 1946, um dos principais signatários do movimento udenista em Goiás dava conta de como via o momento e as transformações que a política goiana estava passando: (...) para ele, o “senador Ludovico Teixeira não soube compreender que o povo goiano, cansado de oligarquias e de mandonismo, está ansioso por uma política arejada, eminentemente democrática e progressista”. “Contrariando essa aspiração popular, que ganhava corpo dentro mesmo do PSD. - O senador Ludovico e seu Estado maior racharam ao meio o seu próprio partido. Feita a dissidência, a coligação com a UDN e a ED era uma consequência lógica; e o lançamento de uma candidatura, como a do engenheiro Coimbra Bueno, um simples ato de inteligência política (apud: LIMA: 1947, 114)””.

Esta tese de que ocorreu, de fato, uma jogada inteligente era perceptível dentre os que defendiam o esquecimento do nome de Alfredo Nasser para o governo. “Para Willmar Guimarães as articulações para concretizar a coligação aconteceram "na calada da noite, pela madrugada a dentro, encenou-se o último ato da comédia. Os protagonistas, na depuração de uma lista de candidatos, estancaram-se frente a dois nomes: Lindolfo Louza e Coimbra Bueno. No ato final, ao cair do pano, saiu vitorioso o nome de Coimbra Bueno”.

Trocado por um outsider, Nasser poderia, então, pleitear a candidatura ao governo na próxima disputa. Mas não foi isso que ocorreu. Clever lembra trecho de Fábio Nasser sobre a sensação e versão da família em relação ao que ocorreu, sem deixar de citar que não existiu, de fato, unanimidade na escolha de Nasser: “Escolhido por unanimidade (grifo meu) candidato oficial do partido na disputa pelo Palácio das Esmeraldas. Foi quando alguns companheiros, liderados pelo oponente udenista Jalles Machado (Pai de Otávio Lage), organizaram um pequeno bloco contrário à indicação. Após uma breve luta em que Nasser cedeu às pressões, anulou-se a soberana escolha dos convencionais a pretexto de um argumento que seus oponentes julgaram fundamental: "Nasser não tem dinheiro para sustentar a campanha". Visando evitar um racha, ele aceita os termos de um traiçoeiro acordo: nas próximas eleições, em 1950, ele seria o candidato ao senado ou ao governo de Goiás - à sua escolha (CUSTÓDIO: 1995, 35-6) ".

Como disse Fábio, pelas informações que teve, caberia ao tio-avô escolher em 1950 o que desejaria disputar. Mas Nasser foi sabotado novamente: dessa vez em erro claro da UDN, que tentou repetir a jogada, agora manjada, de lançar um outro outsider – o médico Altamiro de Moura Pacheco. “A UDN no poder estadual chegou, após um mandato difícil entre outras coisas devido a composição desfavorável na Assembléia Legislativa, desgastada inter e intrapartidariamente. A tarefa da escolha do sucessor de Coimbra Bueno não era tarefa fácil, as lutas subterrâneas já estavam acontecendo desde 1947, as alas udenistas estavam se articulando em torno de nomes. Apesar da vantagem de votos obtida por Alfredo Nasser nas eleições anteriores, superando até mesmo o número de votos conquistado pelo governador Jerônimo Coimbra Bueno, o que o qualificaria como candidato natural na sucessão governamental. A indicação, que teoricamente era natural, não aconteceu. O senador não recebeu sequer indicação para reeleição, gerando um racha no edifício udenista”, relata o autor da pesquisa.


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Como político decidiu sair da UDN

De acordo com o estudo de Clever Fernandes, existiam, além da versão de Francisco Britto, outras três narrativas sobre o atrito entre Nasser e UDN e que culminou com a sua saída da sigla: “uma, Fábio Nasser Custodio, afirma que ele rompeu de forma dramática com a UDN no final da Convenção e "num discurso de improviso e inflamado" o autor atribui estas palavras ao senador udenista: "Meu cérebro parou, esmagado pelo rolo compressor das emoções". E, parafraseando Rui Barbosa, finaliza: "Passa fora canalha!" (CUSTODIO: 1995, 38)”.

A outra, de José Asmar, explica Clever, traz “narrativa romantizada”. Ela descreve a saída de Alfredo Nasser: “De Quarta para Quinta-feira, 5 de Outubro de 1950, ele não dorme. Redige manifesto desligando-se da UDN. A noite, Alberto Rassi, pertencente ao PSD mas amigo fraterno, em seu carro, com José Luiz Bittencourt, conduz à Rádio ZYG-3. E ele narra as maquinações de bastidores, a vã ponderação dos deputados fieis Ruy Brasil Cavalcanti e Joaquim Gilberto. Resolvem estes: -Lançamos dois candidatos à senatória: o Governador Coimbra Bueno e Nasser. A divisão prejudica. Também, para uma só vaga, os recursos de um e de outro são desiguais. E Nasser reclama de mentiras, de má-fé na formação da chapa e deformação aética em informação de última hora, sobe falsa desistência da candidatura. (ASMAR: 1994, 111)”.

A terceira versão seria da escritora Rosarita Fleury. Ao contrário de Fábio Nasser Custódio e Asmar, ela não pinta com “cores fortes” este momento. Procura amenizar o drama. Por exemplo, afirma que Altamiro de Moura Pacheco não concordava com o afastamento de Nasser. “Em consequência houve entendimentos demorados e cuidadosos até que, numa reunião em Palácio, ficou assestado entre Coimbra e Nasser a decisão dos dois se candidatarem ao mesmo tempo ao Senado pelos partidos coligados UDN e PSP, a que se reuniram no decurso da campanha, o PRP, PR e PTN. Foi esse o erro político que deu origem à derrota, embora Altamiro percorresse o Estado todo, não para pedir votos, mas com a finalidade altamente elogiáveis de esclarecer seus planos e propósitos administrativos (no caso de vir a ser eleito) e agradecer as manifestações recebidas (FLEURY: 1981, 24-5)”.

Para o pesquisador da UFG, não se sabe ao certo qual das versões expressa a verdade do afastamento de Nasser do “Partido da Eterna Vigilância” – expressão que sintetizava a imagem que a UDN desejava comunicar à sociedade. Para ele, não se sabe se “foi em uma reunião dramática do diretório udenista, como narra Britto; no final da convenção estadual, como afirma Custódio; na transmissão radiofônica, como assegura Asmar; ou na reunião palaciana pacificadora, como conta Fleury”.

Clever Fernandes sintetiza, todavia, o que se sentia na época: “Certo é que não existia espaço para ele [Alfredo Nasser] nas fileiras da UDN. Por isso, transferiu-se para o PSP, contudo continuou udenista”.


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Fonte: Reprodução

UDN tem sucessão de derrotas nas urnas

Apesar da vitória com Coimbra Bueno em 1947, o grupo político de Alfredo Nasser, fora da UDN, mas coligado com ela, amargou a derrota novamente em 1950 para o grupo de Pedro Ludovico. Em sua pesquisa de mestrado, Clever Fernandes consegue sintetizar bem com as palavras de Nasser o que foi aquela campanha eleitoral. Ele rememora os desgastes do grupo político oposicionista, mas que naquele momento era situação: “Iniciei afirmando que esta terceira convenção e campanha eleitoral da UDN provocou um desgaste inter e intrapartidário memorável. Finalizo com um comentário quase literário de Alfredo Nasser, publicado no Jornal de Notícias, no dia 12 de Outubro de 1952, assegurando o ódio e a dificuldade relacional entre os líderes da UDN e PSP”.

“Durante o Govêrno do sr. Coimbra Bueno, com sombra, água fresca e biscoitinho de Palácio, nós nos havíamos odiado sem o menor respeito, certos de que o sr. Pedro Ludovico poderia não ser uma onça morta, mas seria, sem dúvida, um velho leão desdentado. Quando a derrota sobreveio, por circunstâncias outras, o ódio aumentou antes as recriminações recíprocas. Não havia líder oposicionista que não quebrasse esquina para evitar um encontro com os antigos aliados. O sr. Altamiro de Moura Pacheco, a quem havíamos tirado de sua clínica e dos seus estudos para um passeio, em traje de rigor e pista asfaltada, até o Palácio das Esmeraldas, já havia recolocado seu avental e voltado aos seus livros. Nos últimos dias da Campanha de 1950, quando a ofensiva pessedista desorientou completamente as forças da situação, êle compreendeu que se havia metido entre loucos, mas era tarde, pois o portão do hospício estava trancado. Ficou, então, de relógio à mão, aparentemente para não se atrasar nos comícios. Na realidade, para ver se as horas passavam mais depressa”.

A pesquisa relata os sentimentos de Nasser que ficaram registrados naquele momento. Um deles é de que até ele mesmo teria esse ímpeto de abrir mão para o que colocaram, em Goiás, como causa maior: "O receio de que um desentendimento entre os oposicionistas venha dar a vitória às forças políticas chefiadas pelo sr. Pedro Ludovico dissipa tôdas as divergências". Nasser tecia comentários ácidos e críticos ao esquema político baseado no ludoviquismo, com foco no combate da violência. Como intelectual que era, ele não aceitava que a violência adotasse outros meios que não o discurso para convencer e conquistar o poder: “O que me espanta é que o Governador, a esta altura de sua vida pública, possa acreditar na violência como fôrça de persuasão. Não sei como não percebeu, ainda, que a cada desmando, mais se abre o vazio à sua volta e mais a falta de moderação une a todos contra a sua chefia”.

Jaguncismo

De acordo com os udenistas, na pesquisa realizada no âmbito da UFG, o ápice dos atos de violência no governo ludoviquista ocorreu em agosto de 1953 quando ocorreu o assassinato do jornalista Haroldo Gurgel. O governo foi responsabilizado, atribuindo o crime a jagunços do PSD”.

Segundo Francisco de Britto, era prática comum todo tipo de violência contra jornalistas em Goiás. E apesar de negar o apoio ao projeto da “Polícia Militar que visava depor o governador”, revela que o lado legalista - neste momento - falou mais alto que o golpista da UDN.

O estudo cita descrição de Britto detalhada sobre aquele episódio: “No dia 8 de Agosto de 1953, às 11 horas, estava eu parado na esquina da rua 3 com Av. Araguaia, quando um amigo chegou correndo e me disse, com o pavor estampado no rosto: "- uma coisa terrível vai acontecer, um grupo de jagunços está à procura do Haroldo Gurgel e vão matá-lo, na certa. Ele está no Lorde Hotel, para onde eles se dirigiram". Haroldo Gurgel era o redator-chefe do jornal "O Momento", que naquele dia havia publicado um suelto criticando em termos irreverentes e maliciosos o Diretor da Empresa Força e Luz, de propriedade do Estado. Tomei o automóvel e me dirigi para aquele lado, na esperança de encontrar um elemento pessedista responsável que impedisse a violência. Acreditava que o objetivo dos jagunços era surrar e desmoralizar o jornalista e jamais assassiná-lo. Cheguei tarde demais. Antes de estacionar o carro em frente ao Grande Hotel ouvi tiros e vi o povo correndo pela Av. Goiás, alguns gritando de passagem: "- Mataram o Haroldo Gurgel!" era verdade, infelizmente, tendo sido também baleado o jornalista Antônio Carneiro Vaz, diretor-proprietário do "O Momento". A notícia do crime incendiou a cidade. Pouco depois um grupo de rapazes, à frente o poeta e jornalista José Décio Filho, desfilava pela Av. Goiás conduzindo o corpo do jovem assassinado, que foi depositado à entrada do Palácio das Esmeraldas. Dali, foi o cadáver transportado para Assembleia Legislativa, onde ficou exposto à visitação pública. A consternação era geral. O povo chorava de dor e de revolta por aquela juventude estupidamente sacrificada. O sepultamento se deu no dia seguinte, com grande acompanhamento, tendo o cortejo que conduzia o ataúde se transformado em passeata de protesto. Estudantes, políticos, operários anônimos se uniram para verberar o crime monstruoso. Ao defrontar o Palácio das Esmeraldas, rumo à Catedral, a multidão se deu conta de que havia ali um dispositivo militar montando guarda e que o próprio Governador Pedro Ludovico, cercado de familiares e de amigos, se mostrava em atitude de desafio. À noite reuniu-se o alto comando da oposição para exame da situação, na residência do Dr. César da Cunha Bastos. E já havíamos deliberado, como única medida plausível, lançar um manifesto ao povo profligando o ato de banditismo, quando recebemos um emissário da Polícia Militar que, segundo ele, estava disposta a depor o Governo naquela noite, desde que contasse com a cobertura política da oposição. Tudo estava pronto para o gesto de represália ao clima de terror implantado na Capital, com a tropa exacerbada por causa da prisão do tenente Clementino Gomes, punido por haver protestado, de público, em discurso na Av. Anhanguera, contra o assassínio do jornalista. A proposta foi repelida, por unanimidade. Não podíamos jogar irresponsavelmente com o destino de tantas pessoas agindo emocionalmente e trocando o caminho da lei pelo da violência que sempre havíamos combatido (BRITTO, 1980, 192-3)”.

Conforme o estudo “História da UDN nas eleições em Goiás (1945-1966)”, a morte de Haroldo Gurgel forçou a união da oposição. O grupo resolveu publicar um “boletim manifesto ao povo”, documento em que responsabilizava Pedro Ludovico pelo crime.

Manifesto

Segundo a pesquisa, o documento foi redigido pelo melhor redator de todos, a pena afiada de Alfredo Nasser. Além dele, assinaram César Bastos, Jalles Machado, José Fleury, Hélio de Brito, Nicanor de Faria, Walfredo Maia, Clodoveu Alves de Castro, Lisboa Machado, João Neto de Campos, Salviano M. Guimarães, Willmar Guimarães, Emival Caiado, Manoel Demóstenes, Osmar Sampaio, José de Assis Moraes e Diógenes Sampaio.

Tal manifesto lançou as base da campanha oposicionista. As palavras de ordem dos artigos de jornais e discursos reuniam a defesa da moralidade administrativa, da segurança e o fim do banditismo.

Venerando de Freitas Borges - ao flagrar a gigante onda publicitária que sobreveio ao assassinato - relatou que a “violenta campanha desencadeada em todos os recantos do território goiano, era o reflexo do ódio que explodia e envenenava o ambiente. José Ludovico de Almeida e seu companheiro de tantos anos - Pedro Ludovico eram os responsáveis pela calamidade ... bandidos e assassinos, usurpadores e aproveitadores da situação, eis a propaganda que enchia o terreno da política, naquêles dias agitados que precederam o Pleito de 1954”.

O boletim “Ao povo goiano”, escrito por Nasser, marcou as décadas seguintes e tornou-se registro das tensões daqueles dias sob a ótica da oposição. A pesquisa da UFG registrou seu conteúdo: “JAGUNÇOS do sr. Pedro Ludovico Teixeira, Governador do Estado, fuzilaram, hoje às 11 horas, num dos logradouros mais movimentados desta Capital, à vista de centenas de pessoas, o Jornalista Haroldo Gurgel e feriram gravemente o diretor de "O Movimento", Carneiro Vaz e seu irmão João Vaz. Os sistemáticos e repetidos atentados a homens de imprensa, denunciados e verberados inutilmente pelas oposições coligadas e seus jornais, culminaram, assim, num ato de inominável selvageria, sem precedentes na história política de Goiás, realizado com premeditação e sangue frio, à plena luz do dia, para escárnio e escarmento de um nobre e culto povo. E se juntam, dessa forma, às ladroeiras ostensivas de lotes e terras devolutas, à negociatas, ao assalto despudorado aos cofres públicos, ao nepotismo, às cenas do mais torpe vandalismo, que rebaixam Goiás à condição de senzala e reduzem os foros de cultura do seu povo a uma simples expressão de banditismo. Não é a primeira vez que o sangue dos homens de imprensa escorre pelas ruas de Goiás sob o tenebroso consulado do sr. Pedro Ludovico Teixeira. E, provavelmente, não será a última. Mas esta luta não se deterá enquanto a moralidade administrativa e o respeito à integridade física dos cidadãos não retomarem seu curso em terras goianas; enquanto os criminosos não forem punidos e os ladrões da economia pública andarem insultando com a sua riqueza ilícita o povo faminto e desesperado. Esta luta continuará até que os goianos, pelas urnas, tenham corrido do poder com os homens que o enxovalham e degradam. Um dos assassinos, perpetrado o crime, homizou-se no próprio Palácio das Esmeraldas, de cujas sacadas quis atirar no povo, que ali se aglomerava. Na hora da covardia o criminoso procurou abrigar-se sob a asa protetora do seu chefe e de lá é possível que a justiça humana não o tire. Mas a sua presença na casa que deveria ser a de todos os goianos basta para identificar os verdadeiros responsáveis pela tragédia. Assim, ninguém espere quaisquer providências por parte do Govêrno. O próprio boletim oficial assinado pelo chefe do Gabinete Militar da Governadoria, é um insulto aos sentimentos do povo goiano. O assassinato foi visto por todos e todos conhecem os criminosos, notórios profissionais do crime a serviço do Govêrno. Goiânia, 8 de Agôsto de 1953. (NASSER: 1965, 20)” Conforme apurou Clever Fernandes, “as repercussões foram ruins para o Estado, que se consolidava com a imagem de terra de banditismo”. O historiador Cleumar Moreira, também da UFG, “indicava, em sua pesquisa, a existência de um sindicato do crime com o objetivo de assassinar fazendeiros, políticos, entre outros (MOREIRA: 2000, 73-4)”.

Eleições de 1954

As eleições que se sucederam foram galvanizadas por profundos conflitos e disputas, nas ruas, urnas e Justiça. Neste pleito, Alfredo Nasser não obterá nova vitória para representar Goiás no Senado, por poucos votos. O caso despertou toda sorte de críticas de que teria ocorrido fraude nas urnas.

UDN e PSD se enfrentaram de forma histórica, sendo tal embate lembrado até hoje pelos que sobreviveram ao tempo. “E, no editorial do Jornal do Povo, Paulo Braga ao rebater esta acusação busca (de)marcar a diferença entre a UDN e o PSD através da trajetória histórica do PSD goiano. E esta história delineada por ele revela, o que Lúcia Hippolito concluiu em sua pesquisa, "o PSD é o partido micheliano [N.R: referência ao pensamento de Robert Michels, que tratou da tipificação da "lei de ferro da oligarquia". Nesta ótica, todas as formas de organização deste modelo social, até mesmo democráticas, desenvolverão tendências oligárquicas. Daí que a verdadeira democracia é impossível] por excelência" (HIPPOLITO: 1985, 135)”.

No “Jornal do Povo”, Paulo Braga descreveu a escolha de Galeno Paranhos: “Os jornais do situacionismo escrevem constantemente que a oposição coligadas não tem candidatos à Governadoria do Estado, razão pela qual procura o deputado Galeno Paranhos, pertencente ao PSD. Vamos examinar esta inverdade que o situacionismo lança a todo instante como se fôsse ela, para nós motivo de desagregação na nossa vontade de vencer. A começar de 1930, época em que o sr. Pedro Ludovico assumiu a direção política estadual, tem êle a doce esperança de transformar Goiás numa dinastia. Os fatos passados e recentes comprovam esta afirmativa. Terminando o período da interventoria, graças ao 29 de Outubro, na convenção que realizou para escolha do candidato ao cargo de governador, contava o PSD com homens da envergadura de Achiles de Pina, Taciano de Melo, Hosanah Guimarães, Galeno Paranhos, Colemar Natal, Serafim de Carvalho, Claro de Godoi, Misac Ferreira Júnior, Rogéri da Paraúna, José Porto, Elpídio Brandão e outros. Estes homens postos à margem porque o sr. Pedro Ludovico já escolhera, com seu sucessor, o sr. José Ludovico de Almeida, membro de sua família. A repulsa que tal preferência provocou é conhecida de todos. Houve uma fragmentação do PSD surgindo aí a oposição, que vem honrando as tradições democráticas de Goiás. Assumindo o Govêrno voltou o dr. Pedro a acalentar o seu não esquecido desejo de se perpetuar no poder por intermédio de membros de sua família, descendentes ou colaterais. Já estava há muito no seu bôlso do colete o nome que deveria herdar o poder. Era êle, pela segunda vêz, à falta de outro parente em condições, o sr. José Ludovico. Contra esta prepotência de absolutismo de poder, contra esta ameaça de dinastia, se levantou no PSD um homem, Galeno Paranhos. Veio se juntar àqueles que vêem em Goiás outros homens, bem mais à altura de exercer o mandato de primeira magistrado estadual. com a sua atitude desassombrada não só protestou contra a escolha de agora, bem como alertou o povo votante de Goiás para a trama que se realiza, entre paredes, para que o sr. José Ludovico, terminando o mandato, ceda o seu lugar ao sr. Mauro Borges, da descendência do sr. Pedro Ludovico. Possui a oposição homens capazes de exercer o pôsto de Governador. São eles tantos que difícil se tornará para o eleitorado a escolha. Isto não acontece no PSD porque não muda: Ludovico, Ludovico e Ludovico. Poderia, neste caso, a oposição deixar de prestigiar a atitude espartana do deputado Galeno Paranhos? Não, por que êle terá imitadores. Nem todo o PSD é constituído de homens sem virtudes, sem o apanágio que lhes vem do partido. O nome que o sr. Pedro Ludovico pretende, mais uma vez aproveitar para candidatura pessedista não possui o espírito democrático que é, hoje, o sustentáculo da liberdade e não tem a ambição de colocar Goiás acima dos interêsses da Família”.

De acordo com a pesquisa, Willmar Guimarães teria dito que “no processamento das eleições de Goiânia se deu aquela Balbúrdia, que todos viram. Provamos, com certidões, que nesta capital 747 elementos votaram mais de duas vezes. Foram entregues títulos em branco, com assinatura do Juiz, para serem preenchidos pelos cabos eleitorais...[O Desembargador Alceu Galvão] declarou pela Folha de Goiás, que houve centenas de eleitores fantasma em Goiânia”.

Juiz “irresponsável”

De acordo com o estudo da UFG, o deputado pessepista afirmou: "perdemos as eleições em Goiânia, porque não podemos suportar o peso do eleitorado fantasma, fabricados pela química de um Juiz irresponsável e venal”.

O advogado e jornalista Galeno Paranhos não conseguiu a vitória de fato, mas venceu (tardiamente), explica o pesquisador, conforme se verá após a palavra final da Justiça: “No final o entusiasmo udenista venceu, mas não levou. Pois, o Jornal Cidade de Goiás assegura que, "há quem afirme, com segurança, que as oposições venceram nas urnas, mas que poderosas forças estranhas à vontade do eleitorado modificaram grosseiramente o veredicto das urnas democráticas". E, conforme Emival Caiado, Galeno Paranhos foi vitorioso, entretanto, a anulação de 12 mil votos do Interior e a realização de eleições suplementares garantiram a vitória do PSD. Então, em entrevista concedida a Míriam Bianca Ribeiro, o ex-deputado udenista desabava "se quando a gente perde, tá perdido. E quando ganha não leva, então isso não é democracia. Então eu vou conspirar na área militar" (RIBEIRO, 1996, 55). Revelando o lado golpista da UDN goiana. Para César Bastos, o processo eleitoral, "foi uma fraude grosseira do Tribunal, pois ganhamos as eleições, mas não levamos" e confessa que esta fraude roubou-lhe também o mandato de deputado federal, declarando a Filadelfo Borges que “... diante de tantas adulterações do produto da urna, deixei de ser o mais votado da UDN e fiquei na primeira suplência. O PSD não me queria na Câmara Federal (LIMA: 1987, 78). Já o udenista Antônio Lisboa Machado assegura que o resultado das eleições foram manipuladas pelo partidarismo e facciosidade do desembargador Alceu Galvão, pois, "ele com alguns juízes espoliaram o nosso candidato, tirou dele a vitória. Deixou de atender a vários recursos nossos". Na história udenista, o interessante neste processo eleitoral é que ele foi marcado por várias "denúncias de fraudes, impugnação de urnas e um processo na justiça que, no final do período acabou dando ganho de causa ao candidato Galeno Paranhos. Só que, quando saiu a sentença, já estava praticamente vencido o prazo para o qual havia sido realizado aquela eleição". Assim, a UDN venceu nas urnas e judicialmente, mas não governou”, relata.

“O fato é que o resultado prevaleceu deixando José Ludovico de Almeida no poder até 31 de Janeiro de 1959, quando transmitiu a governadoria para José Feliciano. Os números desta eleição foram: Juca Ludovico, candidato do PSD/PTB, teve 106.540 votos, ou 50,3% dos votos validos; contra 105.412, ou 49,7%, atribuídos ao candidato da coligação UDN/PSP, o ex-pessedista dissidente, Galeno Paranhos. (CAMPOS, 1985, 211)”.

Para o que interessa esta reportagem, a vida política de Alfredo Nasser, os números das urnas também foram controversos. Ele perdeu por pouco. “Na disputa para senátoria os vitoriosos foram o candidato da Coligação UDN/PSP, o ex-governador Jerônimo Coimbra Bueno, com 103.590 votos, ou 25,3% dos votos válidos, seguido pelo candidato do PSD/PTB, o velho cacique Pedro Ludovico Teixeira, com 103.470, ou 25,2%”, diz o estudo. Admite-se entre os seguidores do líder da oposição que os recursos usados por Nasser na campanha não chegavam a 10% do que foi dispendido por Coimbra Bueno.

“Os derrotados no pleito senatorial foram Alfredo Nasser, obteve 101.694 votos, ou 24,7%; e Dário Délio Cardoso com 101.716 ou 24,8%. Neste ponto, a UDN apesar de não ocupar as duas cadeiras do senado, quebrou o monopólio do PSD/PTB que estavam ocupando as três cadeiras senatoriais goianas. Na Câmara Federal as oito cadeiras foram divididas ao meio apesar da diferença de votos atribuídas as duas legendas: o PSD/PTB obteve 108.767 votos, ou 52,9%; e UDN/PSP 96.680, ou 47,1% dos votos válidos. (CAMPOS, 1985, 212-3). Ficando como representantes de Goiás na Câmara Federal os seguintes deputados: UDN/PSP - César da Cunha Bastos, Emival Ramos Caiado, João d'Abreu e Nicanor Silva. Do lado ludoviquista, PSD/PTB - Anísio Rocha, Benedito Vaz, Cônego José Trindade e Wagner Estelita.

Se em Brasília ocorreu certo equilíbrio entre PSD e UDN, na Assembleia Legislativa ocorreu relativa diferença pró-PSD. O PSD elegeu 14 deputados: Agenor Diamantino, Berenice T. Artiaga, Clotário de Freitas, Cylleneo França, Gerson Castro Costa, Jahyr Abrão Estrela, Jerônimo Pinheiro de Abreu, José Santos Freire, Misach Costa Ferreira, Natal G. de Araújo, Nelson Siqueira, Pedro Celestino Filho, Venerando F. Borges e Wilson da Paixão.

A UDN, por sua vez, conquistou nove cadeiras: Antônio José Oliveira, Antônio L. Machado, Ary D. de Almeida, Edmundo J. M. Neto, Felicíssimo E. S. Neto, Francisco de Britto, José Augusto Ferreira, Waldir Castro Quinta e Willmar Guimarães. Já o PSP elegeu cinco: Gabriel C. Guimarães, Joviano R. Segóvia, Lincoln Xavier Nunes, Mario Mendonça Neto e Paulo Limírio Malheiro. O PTB emplacou quatro: Almerinda M. Arantes, Antônio de Queiroz, Antônio R. Monteiro e Luiz Milazzo.


		Como ex-senador e jornalista Alfredo Nasser civilizou Goiás
Fonte: Reprodução

Pacto?

Conforme revela o estudo, a legislatura começou com grandes embates na Alego, mas o tom conciliador de Juca Ludovico e a própria postura da UDN era inacreditável, chegando mesmo a se tornar um “pacto”. “O surpreendente aconteceu, a UDN fez uma oposição cordial ao governo de José Ludovico de Almeida, que no final virou pacto”.

De acordo com Clever Fernandes, “o udenista Francisco de Britto e o udeno-pessepista Alfredo Nasser, no decorrer do exercício do governo, propuseram até mesmo a “prorrogação do mandato do pessedista ilegitimamente no poder”. “E, significativo é o diálogo reconstruído por Nasser, em seu discurso no encerramento da Convenção da UDN, entre os dois representantes da oposição e o Governador Juca Ludovico no Palácio das Esmeraldas”, conforme reproduz reflexão de Nasser: “Ali, no salão de despachos, olhando para o aparêlho de ar refrigerado que não funcionava e para as janelas que não se abriam, fomos diretos ao assunto: - Senhor governador, o quadro da vida estadual na hora em que se pede o apoio das oposições e o sacrifício dos seus interêsses partidários, é estarrecedor. Conte conosco. Nada queremos do seu govêrno, nem favores, nem mercês. Temos um programa. Aquí está. Cumpra-o e terá bem merecido da terra. - As oposições nada reivindicam? - Perguntou-nos o sr. José Ludovico. - Nada, fora do interêsse público. E ainda há mais: se um dos nossos, companheiros, qualquer que seja ele, aceitar um favor, sequer, do seu govêrno, será expulso publicamente das fileiras oposicionistas. Tôdas essa declarações constataram, posteriormente, de documentos oficiais. Sinceramente comovido, embora sem nos ter servido, ainda, uma xícara de café, o governador disse uma grande frase: - Os senhores tomaram uma decisão revolucionária que só o futuro poderá interpretar em tôda a sua grandeza e significação”.

Programa

De fato, existia um “programa“ proposto por Nasser que assegurava o apoio das oposições ao projeto. Respeito aos direitos individuais, defesa do patrimônio público (terras devolutas principalmente), contratação de servidores somente mediante concurso público, licitação na compra de material e nos contratos para prestação de serviços, isenção e imparcialidade do executivo nos pleitos eleitorais e democratização do ensino eram alguns dos temas “civilizatórios” propostos por Nasser e seu grupo.

Conforme Britto, em reflexão publicada no estudo da UFG, "inaugurava-se em Goiás, um novo estilo de convivência política, com a proscrição dos sovados métodos da oposição sistemática e do governo autoritário e despótico".

Diante desta postura, surgiu uma nova camada na imagem de Nasser: a de que oposição tem limite. E ele deve ser o interesse público – algo praticamente impensável hoje em dia, uma vez que as forças opositoras, mal terminam as eleições, fora raras exceções, já se organizam para sabotar, de alguma forma, os projetos e propostas do governante.

Conforme Nasser, via estudo de Clever Fernandes, a “oposição não deve ser uma força cega - As obras do Governador não podem ser seccionadas e nem enfraquecidas pelas lutas de sua sucessão - Se estão errados os Deputados em prorrogar por mais um ano, o Govêrno do Sr. José Ludovico, então o patriotismo é uma palavra vã”. E, segue afirmando, que "a oposição não deve ser uma fôrça cega adstrita ao único objetivo de destruir o govêrno constituído, para substituí-lo".

A proposta de Nasser e seus seguidores era promover a coincidência dos mandatos eletivos dos cargos para os executivos com o de presidente da República. Com esta propositura, o mandato do então adversário Juca Ludovico era prorrogado.

Muito se especulou na época sobre o que teria ganhado a oposição ao adotar este comportamento inesperado. Clever Fernandes não traz uma conclusão factual sobre o episódio, mas lança temas para debates: “Estas sentenças de Nasser contradizem a longa trajetória das oposições goianas, quiçá brasileiras. Será mesmo mudança de mentalidade na política estadual? Ou oportunismo da oposição, para mudar as peças no grande tabuleiro do poder goiano, já que o velho cacique era aglutinador das idéias anti-prorrogacionistas? Pois, na cultura política nacional, entendimento entre oposição e governo desinteressado representa novidade. Pode-se até mesmo afirmar transformação ou, um termo caro aos historiadores, evolução na mentalidade política dos goianos. Pois, a proposta de apoio da oposição cordial UDN/PSP, estava firmada exatamente nestes termos: Não receberemos nada em troca.”

Após a vitória da prorrogação, Alfredo Nasser se pronunciou: “A prorrogação é um programa de trabalho, não é uma crônica de libertinagem. É um movimento de salvação pública, não é um expediente de violação constitucional. Os motivos que a determinaram, prevalecem. O seu espírito continua. O governador gostou dessa tirada. Daí por diante a idéia da pacificaçãoteria que surgir e surgiu”.

Passada a luta pela emenda que prorrogava o mandato de Juca Ludovico, que foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), onde a proposta de Nasser e outros ruiu, surgiria outra missão urgente: que candidato escolher para enfrentar o ludoviquismo?

Antes o grupo de apoio de Juca tentou manter a trégua entre UDN e PSD, indicando nomes mais distantes de Ludovico. Mas ele acusou o distanciamento do então governador, motivado, conforme Venerando de Freitas, pelo namoro de Juca com a UDN. “Dia a dia mais se separam os srs. Juca e Pedro. A situação atual entre os dois é verdadeiramente tensa. O senador Pedro Ludovico Teixeira torpedeou a candidatura Sílvio de Melo o que quer dizer: afundou a pacificação. Enquanto o sr. José Ludovico volta a insistir naquele nome de comum acordo com as oposições. Enquanto isso os oposicionistas apertam o cerco com receio de o rompimento não sair até o 16 de março. Oposicionistas nos primeiros dias de carnaval, em grande número e constantemente, visitaram o Governador Juca em sua casa de campo. O tempo urge e eles querem descalçar as botas da pacificação. Até o dia 16/03 tudo devera estar decidido, vez que a convenção do PSD se realizará naquele dia”, disse Venerando.

Para piorar, e ampliar o cenário de nova guerra, a imagem que surgiu: um Juca Ludovico fracassado em estender seu mandato (com a oposição dos próprios integrantes de seu partido) e pacificar a relação entre situação e oposição. Diante do fracasso, Alfredo Nasser completou com otimismo: “de minha parte, no âmbito limitado de minha influência pessoal, e política, tudo fiz para que, ajudando a Goiás, como os seus interêsses reclamavam e reclamam, não vos levasse aos sacrifícios de uma campanha eleitoral. Mas o PSD quer lutar. Então vamos dar uma surra nêle de criar bicheira. Depois a gente põe criolina.”

A crise se instalou e ainda em seu governo, a oposição voltou com tudo, conforme a pesquisa colaciona aspas: o homem que deseja passar à posteridade como "governador de todos os goianos", com esta encarnação falsa do "magistrado moderno" rola do pedestal e se confunde com quantos se deixaram envolver pela política sem horizontes. As palavras nada significam se não são confirmadas por atos inequívocos. Se o sr. José Ludovico de Almeida quer manter o título ambicionado, se pretende mesmo ser um governador diferente, não desminta a si mesmo, nem alimente a esperança de iludir os seus co-estaduanos. A opinião pública está vigilante e julgará S. Excia inexoravelmente”, discursou Francisco de Britto.

Para enfrentar José Feliciano - o nome do PSD ludoviquista - a UDN buscou, pela primeira vez, um udenista autêntico. Clever cita reflexão de Britto sobre o momento: “O candidato da coligação UDN-PSP, pela primeira vez um udenista histórico, foi o Dr. César da Cunha Bastos. Fez ele uma campanha de alto nível, que entretanto não conseguiu sensibilizar o eleitorado. Sua linguagem era mais doutrinária - "Não compro nem vendo mentiras", disse ele no discurso com que se apresentou ao povo como postulante à Governadoria. Essa frase, que bem definia o seu caráter, foi o primeiro passo para a derrota. Porque, infelizmente, em política, a mentira vale muito mais. (BRITTO: 1980, 206)”.

Em entrevista publicada no Diário da Manhã, em 6 de agosto de 1981, o derrotado falou sobre a experiência: “A partir do instante em que falei, durante discursos de comício em Uruaçu, que empossado à frente do Governo destinaria um trato de terra a cada posseiro, a preço simbólico. Uruaçu era centro nervoso das operações de José Porfírio. A reação contra mim, por parte de fazendeiros com idéias de latifundiários começou aí”.

Ao “O Popular”, em 7 de novembro de 1982, o governador eleito, José Feliciano, deu extensa versão sobre aquelas eleições: “os acordamos cedo. Nós procuramos trabalhar já nos primeiros clarões do dia. Saímos pelo estado fazendo comícios, sondando as bases, consultando políticos e pedindo apoio em todo o interior. O resultado da Convenção foi amplamente comentado em todo o Estado e isso nos favoreceu. A primeira coisa que eu fiz

após a convenção, foi um agradecimento público por ter chegado até aquele estágio ... Então era o meu avião. Todas as despesas foram custeadas pela minha família. O candidato a senador também me apoiava, fazia despesas. Os candidatos a deputado se arrumavam como podiam e formávamos uma caravana enorme rumo ao interior. Se por acaso entrasse um avião do Estado em nossa campanha, imediatamente os nossos adversários estavam tirando fotos e publicando nos jornais. Nós considerávamos esse trabalho dos oposicionistas como uma boa fiscalização no sentido de coibir o uso da coisa pública ...As estradas eram muito ruins. Tínhamos de usar o avião como única saída. Acontece, porém, que muitas vezes devíamos ir do aeroporto até a cidade a pé e quase sempre a distância era de cinco a seis quilômetros. Foi por isso que gastamos três pares de botina. Pelo ritmo da campanha, pelo sistema adotado na época, quando chegávamos à cidade havia uma grande passeata. No norte, por exemplo, não havia carro. Então descíamos do avião e fazíamos tudo aquilo a pé. No local do comício, a multidão já estava esperando. Só que não havia bandas de música nem cantores profissionais animando o comício. Os próprios políticos da região é que faziam discursos e se encarregavam de entreter os presentes, enquanto a caravana de políticos não chegava. Os cinco quilômetros de dança, evidentemente, foram medidos pelos tamanhos dos salões em que participávamos dos bailes do PSD, em cada uma das cidades onde íamos. Nós saímos do comício e após participar de um banquete na casa de algum líder político da região, nos dirigíamos para o baile, onde tínhamos de permanecer firmes até de madrugada. Mas não procurávamos moças bonitas para trabalhar. Dançávamos com as velhas, as líderes políticas, que nos rendiam votos. As moças muitas vezes não interessavam para os políticos, porque elas não rendiam votos. Eram comícios animados e bailes mais animados ainda, muitas vezes realizados numa bela Segunda-feira e que só terminava na manhã de Terça. Como estávamos á procura dos votos, tínhamos de suportar tudo e não dar sinais de cansaço. No dia seguinte, tudo se repetia novamente.... as campanhas era muito exaltadas. Geralmente havia os famosos acertos de contas entre os adversários. Em campanha política não se pode desprezar três elementos importantíssimos e voláteis: gasolina, pinga e foguetes. Isso dava uma certa exaltação ao pessoal e muitas vezes durante comícios, apareciam elementos esfaqueados com intestino à mostra. Tivemos assassinatos, muitas brigas. Geralmente, quando íamos numa cidade, ou antes da nossa chegada, ou depois, acontecia uma coisa desagradável. E durante os comícios a gente ainda pedia, recomendava para que não fizessem distúrbios, que evitassem brigas, mas não havia meios de conter a violência. Esse respeito não significava dar colher de chá um ao outro, mas os candidatos se respeitavam porque eram homens de conduta ilibada, eram homens de projeção social, econômica e política. o ambiente era diferente. Não havia molecagem na campanha. Eu tive como adversário um homem de muita projeção no sudoeste goiano, o Dr. César da Cunha Bastos, que militou na política durante muito tempo, desde a revolução de 30. Era um candidato de muito peso eleitoral, um bom candidato. Então tivemos de trabalhar muito e começamos cedo nossa campanha”.

De acordo com Clever Fernandes, os fatos políticos apresentados na pesquisa confirmam o comportamento errático do maior partido oposicionista da história de Goiás – nem mesmo o PT, com a política das massas, teve a presença nos pleitos estaduais como a velha UDN. Errático no sentido de pregar uma coisa, mas, no fim, realizar opções que se digladiavam contra os pressupostos de combate.

A troca de Nasser em 1947, para o pesquisador, foi trabalho de facções golpistas que estavam dentro da legenda.

Para ele, o jornalista e advogado era um “líder autêntico” do partido: “Em 1947, quando da primeira eleição para governador do Estado após o fim do Estado Novo, o partido em convenção indicou o nome de Alfredo Nasser, líder autêntico, que tinha fôlego eleitoral para ganhar as eleições. Ao invés disso, as façcões do partido articulam um golpe contra a sua candidatura, apoiando um elemento externo. Isto demonstra que o germe golpista já estava incubado na UDN desde a sua fundação e que não seriam permitidas ascensões de lideranças autênticas, mesmo que o custo fosse a derrota eleitoral. Essa intolerância com relação as lideranças autênticas provoca um asfixiamento político obrigando-as a saírem do partido”.

A partir da disputa de 1950, o autor fecha uma conclusão sobre os erros seguidos da UDN goiana, que deixou suas “oligarquias sufocarem” Nasser: “Em 1950, a indicação de Altamiro de Moura Pacheco, figura inexpressiva politicamente, no lugar de Alfredo Nasser, o candidato natural do partido, que se elegeu na senatória em 1947 obtendo mais votos do que o próprio governador Coimbra Bueno, não sendo indicado nem para o senado, graças a articulações realizadas pelas oligarquias no interior do partido que sufocaram a ascensão deste líder. A UDN perde a sua maior liderança autêntica, Alfredo Nasser, que sentindo não ter mais espaço no partido, filia-se ao PSP. A UDN é derrotada de forma esmagadora pelo PSD, que tinha como candidato, Pedro Ludovico, abrindo a possibilidade de perpetuação do mesmo no poder. Segundo César Bastos, “nós tivemos uma derrota mendonha, a UDN quase que se esfacelou”. Como explicar que a UDN, possuindo um candidato de peso eleitoral optasse pela candidatura de um elemento sem militância política? A resposta a esta encontra-se, em parte, na lógica interna do partido, ou seja, o que pesa nas decisões partidárias não é só o calculismo político, racional e burocrático por essência, mas as “vaidades ocas”, isto é, o personalismo descentralizado dos líderes e oligarquias no interior do partido”.

Para Clever Fernandes, as oposições pagaram caro por isso, deixando com que Goiás tivesse como consequência destes desmandos partidários internos uma sequência de gestões dos ludovicos, carismáticas, mas sem o mais óbvio dos princípios da democracia – a alternância de poder. “O baixo desempenho eleitoral do partido é consequência desse comportamento político em apoiar lideranças inexpressivas e sem histórico de militância o que acarretou uma sequência de derrotas que acabaram por reforçar a sua atitude golpista, isto é, a UDN construiu suas próprias derrotas devido as suas lutas internas que não possibilitavam uma coesão partidária que pudesse dar sustentação às lutas externas ao partido. Mesmo no parlamento estadual goiano o que se viu foi uma momento de estabilidade e depois um decréscimo na representação do partido. Ao contrário do que se divulga sobre a UDN nacional, a UDN goiana não é um partido cuja origem social de seus membros está ligado às classes médias urbanas pois como se pode perceber a maioria tem origem rural”.

Para a amiga Maria Cabral Arantes, que faleceu em 2020, próxima de Consuelo e de toda família Nasser, a imagem que deve perdurar de Alfredo Nasser é a de um homem “idealista”. “Ele tinha frases bonitas criadas na hora”, diz.

Ela foi uma das responsáveis por guardar da memória de Nasser e a divulgar no estado, sempre concentrada no altruísmo e dedicação à cultura, Goiás e o povo goiano – símbolos que marcaram a trajetória do jornalista que escolheu a política como razão de viver. “Era extremamente polido, calmo. Um homem que tinha educação nata. Era de uma educação admirável. Foi um intelectual desviado para a atividade política”, disse Eurico Barbosa.

Para Batista Custódio, que é conhecido pela divulgação da espiritualidade, tanto Nasser quanto Pedro estão unidos após se desencarnarem. Se aqui na terra foram adversários políticos, em outro plano espiritual, com certeza, estão juntos, uma vez que eram “homens cultos e de grandeza”.

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