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Em ano de eleições, Lula tenta atrair votos de bolsonaristas

Palácio do Planalto tem consciência da dificuldade da missão de conquistar a maioria das 5.570 prefeituras em outubro

Lula da Silva: percorrer o país este ano em busca de votos ao PT e aliados Lula da Silva: percorrer o país este ano em busca de votos ao PT e aliados

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai buscar, neste segundo ano do mandato, dialogar com eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A decisão foi tomada após pesquisas de opinião apontarem dificuldade do presidente em aumentar sua popularidade.

O Palácio do Planalto tem consciência da dificuldade da missão. Acredita, no entanto, que o impacto de políticas públicas voltadas para setores que outrora apoiaram Bolsonaro pode ser o grande trunfo da gestão petista.

A estratégia mira evangélicos, setores do agronegócio e integrantes das forças de segurança e das Forças Armadas. Outro público-alvo são os chamados trabalhadores “precarizados”, como motoristas de aplicativos.”

“Brasil: só um povo”

Em ano de eleição municipal, os aliados de Lula apostam também em discursos contra a polarização e defesa da unificação do país. Nesse sentido, o governo lançou em dezembro a campanha “O Brasil é um Só Povo”. A peça publicitária divulgou ações com referências ao eleitorado bolsonarista.

Há trechos de vídeos em que atores comemoram as iniciativas com frases típicas, por exemplo, do público evangélico. Pesquisas internas identificam resistência especial por parte desse grupo.

Na propaganda sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma mulher comemora que um familiar conseguiu um emprego em obras do programa: “Graça alcançada, Senhor”, diz.

O agradecimento cristão também é utilizado em um vídeo sobre o Bolsa Família. A atriz agradece o benefício dizendo: “Graças a Deus”.

Na propaganda sobre o Minha Casa, Minha Vida, um pai de família celebra que um vizinho conseguiu a casa própria: “Ô, glória!”

As peças se encerram com a seguinte frase: “Querer o melhor para nossos filhos, isso é o que nos une”.

Evangélicos

Outra demonstração da tentativa de aproximação foi percebida em viagem do presidente ao Espírito Santo em dezembro, quando Lula falou diretamente aos evangélicos. “Se preparem, porque a gente vai provar que o que resolve o problema de um povo não é a instigação ao ódio, utilizando a boa-fé do povo evangélico para mentir, para dizer que a gente ia fechar igreja, que a gente ia fazer banheiro unissex. Eles têm que saber de uma coisa: se tem um cara nesse país que acredita em Deus, é esse que está vos falando aqui”, destacou.

Ainda no último mês de 2023, durante a Conferência Nacional do PT, Lula alertou aos integrantes do partido a necessidade de “aprender a construir um discurso” para os evangélicos. Na ocasião, o presidente também falou aos militantes que a polarização vista na última eleição deve continuar no próximo ano. “Vai ser outra vez Lula e Bolsonaro disputando as eleições nos municípios”, apontou.

Auxiliares de Lula reconhecem a dificuldade também de se aproximar dos evangélicos, que não têm um canal de diálogo privilegiado com o Planalto e tampouco receberam políticas públicas específicas. Pesquisa Ipec mostra que o percentual desse grupo que considera a gestão Lula ótima ou boa é de 29%, enquanto no total da população é de 37%.

Petista: melhora da economia para quebrar resistências no não-eleitor

Ainda enfrentando dificuldades para atrair setores que se aproximaram do bolsonarismo nos últimos anos, como evangélicos e produtores rurais, o governo Lula chega o final do primeiro ano redobrando a aposta na agenda econômica na tentativa de quebrar resistências.

Os principais trunfos são a reforma tributária aprovada pelo Congresso e usar obras de infraestrutura, como as previstas no novo PAC, para gerar empregos. Há, no entanto, uma série de obstáculos no caminho, além da sensação, mesmo entre aliados, de que, até o momento, houve apenas a reciclagem de programas de gestões petistas anteriores. Lula tem cobrado novos projetos insistentemente dos ministros, como fez em reunião na semana passada, em dezembro.

O Planalto quer mirar eleitores que consideram a gestão regular — segundo uma pesquisa interna, esse público é composto majoritariamente por jovens, negros, mulheres, trabalhadores informais, adultos sem filhos e desempregados. No levantamento, que tem sido apresentado a ministros, as quatro prioridades listadas por esses segmentos são saúde pública, emprego, educação e segurança.

Enquanto sua gestão patina em alguns bolsões bolsonaristas, Lula vê com urgência a construção de uma pauta social consistente direcionada aos evangélicos de direita de classe baixa. Até o momento, o gesto do governo foi se afastar de pautas identitárias e, ainda que haja a avaliação de que as fricções hoje são menores do que durante a disputa contra Bolsonaro, prevalece a sensação de que pouco foi feito — até entre lideranças evangélicas que ajudaram na campanha.

Novas viagens para conquistar lideranças do agronegócio

Ano passado, Lula recebeu as principais lideranças católicas do país no Palácio da Alvorada. Auxiliares responsáveis pela interlocução com religiosos admitem dificuldade em fazer um evento semelhante com evangélicos, pois os líderes com os quais o Planalto tem mais proximidade são pouco representativos. Lula tentará chegar nos segmentos mais distantes pelo bolso.

Petistas afirmam que Lula perdeu oportunidade de ter feito o lançamento do Plano Safra em áreas rurais do país, no Sul ou Centro-Oeste, no ambiente próprio do público-alvo do programa. Com orçamento de R$ 364,2 bilhões, a iniciativa é considerada uma das principais armas para se aproximar do agronegócio, setor com forte influência bolsonarista.

Auxiliares defendem que o presidente viaje mais para estas regiões e argumentam que as idas frequentes ao Nordeste, especialmente à Bahia, não o tiram da zona de conforto. Lula deve ir a Porto Alegre conversar com ruralistas e a Rio Verde (GO) inaugurar a ferrovia Norte-Sul.

Lula vai se dedicar mais às articulações políticas internas para mergulhar, enfim, no contato direto com os parlamentares, além de fazer campanha para o PT e aliados país afora.

Promessas de lado

Outro desafio é a comunicação. Depois de Lula pedir mais “profissionalismo” dos auxiliares ao divulgar o que o governo vem fazendo, a Secretaria de Comunicação (Secom) tem chamado a atenção de ministros para comunicarem ações gerais do governo, não apenas de suas pastas. Ao visitar um estado, por exemplo, um titular de área técnica, como Saúde e Educação, deverá citar dados de beneficiários do Bolsa Família e do número de carros vendidos com desconto no estado.

Um alerta foi ligado quando a pesquisa apontou que parcela da população não vê diferenças entre os programas habitacionais Minha Casa, Minha Vida, de Lula, e Casa Verde Amarela, de Bolsonaro, e cenário semelhante ocorre na comparação do Bolsa Família com o Auxílio Brasil.

“O presidente Lula trouxe de volta programas imprescindíveis para a população, resgatou o prestígio internacional e está fazendo o Brasil voltar a crescer. Daqui para a frente, vamos ter mais entregas na ponta”, disse o ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta.

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