O Controle de Atividades Financeiras (Coaf), apresentou um relatório à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga atos criminosos e golpistas de 8 de janeiro no Congresso Nacional. O documento revela que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aplicou R$ 17 milhões em investimentos em renda fixa durante os primeiros seis meses do ano.
O relatório do Coaf também aponta que, no mesmo período, Bolsonaro recebeu um montante de mais de R$ 17 milhões em 769 mil transações através do Pix, representando quase a totalidade dos R$ 18,5 milhões movimentados pelo ex-presidente. Tais movimentações são consideradas "incompatíveis com os rendimentos" de Bolsonaro, segundo o órgão de combate à lavagem de dinheiro.
As aplicações financeiras foram realizadas em Certificados de Depósitos Bancários (CDB) e Recibos de Depósito Bancário (RDB), as principais modalidades de investimento em renda fixa do mercado, atreladas à variação da taxa básica de juros, a Selic.
O relatório ainda destaca que Bolsonaro não possui bens cadastrados em seu banco e possui participação de 24,90% no capital da empresa Bolsonaro Digital Ltda., com um faturamento presumido de R$ 460 mil. Esses valores, no entanto, não são compatíveis com os rendimentos mensais declarados pelo ex-presidente.
O Coaf levanta a possibilidade de que as movimentações financeiras atípicas estejam relacionadas à campanha de doações organizada por aliados de Bolsonaro para pagar as multas impostas a ele por desrespeitar o uso obrigatório de máscara em espaços públicos durante a pandemia do novo coronavírus.
Apesar de ter arrecadado R$ 17 milhões por meio da vaquinha, o ex-presidente ainda não quitou as multas, que somam quase R$ 1 milhão. Parte desses valores foi bloqueada pela Justiça, e segundo a Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo, Bolsonaro possui sete dívidas ativas com o município.
Aliados do ex-presidente argumentavam que a arrecadação era necessária para ajudá-lo a enfrentar o que chamavam de "assédio judicial", custeando "multas em processos absurdos".
Em resposta às acusações, a defesa de Bolsonaro repudiou o vazamento das informações bancárias e afirmou que tomará providências criminais para investigar os autores dos vazamentos. Os advogados do ex-presidente garantem que a origem do dinheiro repassado a Bolsonaro é lícita e classificam as suspeitas levantadas pelo Coaf como levianas e infundadas.