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Ex-subsecretária do DF é denunciada por planejar blitz para barrar eleitores de Lula em 2022

Após derrota de Bolsonaro, grupo teria contribuído para atos de 8 de janeiro

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A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou a delegada da Polícia Federal (PF) Marília Ferreira Alencar, ex-subsecretária de Segurança Pública do Distrito Federal, por participação em uma organização criminosa que buscava impedir a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022. Segundo as investigações, Marília teria coordenado blitze em diversas regiões do país para dificultar o acesso de eleitores petistas às urnas.

Mensagens obtidas pela PGR revelam que a ex-subsecretária identificava locais onde Lula possuía maior votação e orientava a realização das operações. Em um dos diálogos, ela menciona a necessidade de reforço da Polícia Federal (PF) e cita o objetivo de reduzir votos para o petista. “[Em] Belford Roxo (RJ), o prefeito é vermelho. Precisa reforçar PF. Menos 25.000 votos no 9 [nine, referência a Lula]”, escreveu.

Organização e articulação das blitze

Antes de ocupar a subsecretaria no DF, Marília era diretora de Inteligência do Ministério da Justiça durante a gestão de Anderson Torres. Segundo a PGR, ela teria articulado a estratégia de bloqueios viários para restringir o trânsito de eleitores favoráveis ao PT. As trocas de mensagens indicam que a ação foi planejada em um grupo chamado “Em off”, composto por Fernando de Souza e pelo coordenador de operações Leo Garrido, este último ainda não denunciado.

A denúncia aponta que os investigados realizavam levantamentos detalhados sobre redutos eleitorais petistas para definir os locais das operações. Em uma das conversas, Marília informa que Pelotas (RS) registrou vantagem para Lula no primeiro turno e sugere ações para dificultar o acesso de eleitores. “Pelotas foi 52×36 [%] pro Lula. 202 mil habitantes. Os caras têm que rodar essas bases”, escreveu. Em resposta, Fernando sugere o envio de equipes ao Rio Grande do Sul.

No dia 16 de outubro de 2022, quinze dias antes do segundo turno, Leo Garrido comunicou ao grupo que os planos para operações na Bahia, Ceará e Pernambuco estavam finalizados. Os estados nordestinos concentram grande parte do eleitorado de Lula.

Uso de força policial e manipulação eleitoral

A PGR sustenta que o grupo utilizou a estrutura do Estado para interferir no processo eleitoral. No dia do primeiro turno, em 2 de outubro de 2022, Marília sugeriu uma ofensiva contra as pesquisas eleitorais ao delegado da PF Fernando de Souza, então diretor de operações do Ministério da Justiça.

“A análise das comunicações confirma o esforço incessante, crescente e coordenado para manipular o processo eleitoral – não somente pelas narrativas infundadas de fraude, mas também pelo empenho de força material impeditiva do acesso de presumidos eleitores do adversário às urnas”, destacou a PGR.

As investigações também identificaram o uso de planilhas para mapear a distribuição de votos no primeiro turno. Os dados foram utilizados na criação de um painel de Business Intelligence (BI) solicitado por Marília. Segundo a PGR, o então diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, aderiu às diretrizes do grupo e direcionou recursos da PRF para executar os bloqueios.

Ligação com os atos de 8 de janeiro

Após a vitória de Lula, os esforços do grupo teriam se voltado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder. Segundo a denúncia, essa articulação culminou nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Na época, Marília e Fernando ocupavam cargos na Secretaria de Segurança Pública do DF e tinham a função de monitorar as manifestações.

A denúncia afirma que, por volta do meio-dia do dia 8 de janeiro, Marília foi alertada sobre a intenção dos manifestantes de “tomar o poder”, mas apenas às 16h50 enviou a primeira mensagem sobre o reforço da Força Nacional. Para a PGR, a demora evidencia a inércia da cúpula da Secretaria de Segurança Pública do DF diante das ameaças.

“Anderson Gustavo Torres, Fernando de Sousa Oliveira e Marília Ferreira de Alencar já haviam aderido aos planos da organização criminosa desde muito antes, o que ficou evidente no pleito eleitoral de 2022, quando coordenaram a utilização indevida da estrutura da Polícia Rodoviária Federal para obstaculizar o trânsito de eleitores a zonas eleitorais em regiões do Nordeste.”, destaca a denúncia.

A PGR menciona os atos do dia 8 de janeiro no documento, mas esclarece que a denúncia tem como foco a tentativa de golpe eleitoral de 2022. As investigações sobre a atuação de oficiais da Polícia Militar do DF e outros envolvidos nos ataques serão conduzidas separadamente.

Posicionamento da defesa

A defesa de Marília Alencar divulgou nota afirmando que confia na análise técnica do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a denúncia. Os advogados sustentam que a delegada apenas cumpria suas funções no Ministério da Justiça, monitorando possíveis crimes eleitorais, sem qualquer intenção de interferir no pleito.

“Da mesma maneira, ao exercer a função de subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) há apenas três dias, atuou para prevenir os atos de 8 de janeiro de 2023, o que será demonstrado por seus advogados”, conclui a nota.

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