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Política e Religião

Líderes religiosos fazem igrejas de "currais eleitorais"

Templos foram classificados como currais eleitorais ao serem usados por pastores para pedir votos para candidatos às eleições deste ano

Um vídeo no qual um fiel se revolta com candidatos tendo a oportunidade de fazer política e pedir votos no púlpito ganhou as redes sociais nas últimas semanas. E nos últimos anos muitos candidatos tem se aproveitado da questão religiosa para se promover, e contado com a ajuda de líderes religiosos para fazer isso, e o questionamento é, será que esses líderes religiosos se perderam ao se envolver com política? Será que foi uma questão de ego? Ou será que eles simplesmente se corromperam?

Vale ressaltar que essa mistura política e religião, ao longo da história, não trouxe muitos benefícios. E hoje o que se vê é que líderes de denominações sejam elas cristãs, evangélicas, católicas ou de qualquer outra religião, parecem ter esquecido com as escrituras sagradas, ou melhor, o que a Bíblia prega.

Para quem tem conhecimento da palavra vai lembrar da passagem em que Jesus sobe a Jerusalém, para a festa de Páscoa e ao entrar no templo encontra comerciantes no local. Jesus não apenas fica enfurecido com a prática adotada ali, e começa a destruir as bancas e diz “este lugar é casa de oração”.

“Patologia”

O cientista social Lehminger Mota explica que há um processo natural que pessoas que frequentam os mesmos templos, terem pensamentos políticos semelhantes ou até mesmo surgir alguns candidatos na denominação que eles fazem parte. Ele salienta que isso não é o problema, mas que existe uma “patologia” na forma com que alguns líderes religiosos estão fazendo política.

“O primeiro problema e mais grave é que alguns líderes religiosos não podem querer que alguns dogmas religiosos sejam abraçados como valores de Estado por meio de leis; o segundo por sua vez é a forma como esses líderes, principalmente dos denominados neopentecostais, abordam os fiéis, ao afirmar que o candidato que ele defende é ungido de Deus e que o seu adversário ou adversários são enviados do demônio”.

Em outra análise o professor da UFG e da PUC-Goiás, e sócio do Instituto Signates de Pesquisa, Luiz Signates traz essa problemática não apenas de agora, mas desde o início dos tempos. Ele pontua que o Estado assumiu de uma vez a administração pública e laicizou várias atividades que antes foram criadas pela igreja.

Quando ele faz uma análise sobre a questão que envolve o Brasil, Signates afirma que mesmo com todas as revoluções que ocorreram pelo mundo, com o rompimento de Estado e Igreja, isso na verdade não houve no Brasil e que os governos em nosso país jamais foram laicizados.

“Currais eleitorais”

O pesquisador Signates corrobora o que diz Lehminger sobre as igrejas principalmente às chamadas neopentecostais. E classifica que a maneira dos líderes das denominações agirem tem aberto espaço para a corrupção, através dos acordos políticos e por meio de barganhas, e faz com que os fiéis estejam em verdadeiros “currais eleitorais”.

“O segundo critério é contraditório ao primeiro. Os segmentos religiosos fazem parte da sociedade e tem o direito de organizar e promover politicamente os seus interesses. Acontece que no Brasil, as igrejas evangélicas, especialmente as neopentecostais tem exorbitado esse direito, buscando não se representarem, mas cooptar com o Estado e ocupá-lo, transformando seus fiéis em verdadeiros currais eleitorais, o que permite espaços para conchavos e corrupção”.

Para o professor a fórmula aplicada até o momento obteve resultados, mas ele prevê que com a democracia mantida ela não terá um bom futuro. “Os fiéis dificilmente admitirão serem massa de manobra de interesses contraditórios às recomendações morais e teológicas. É possível notar que há grupos contrários em todos os setores, e que mais cedo ou mais tarde eles irão vencer”.

Poder afrodisíaco

Questionado sobre se líderes religiosos se perderam no caminho, por se envolver com a política, Signates é categórico ao afirmar que o poder é afrodisíaco. “A sedução que ele [poder] comporta quase sempre corrompe a ética das religiões e sobrepuja os interesses espirituais”, ressalta.

O professor é objetivo e lembra que as lideranças religiosas tem o direito de se candidatar a um cargo público. Mesmo com essa afirmação, Signates lembra que os religiosos ou o líder religioso ao ser eleito não pode querer satisfazer os seus próprios interesses, pois ai já deixaria de ser público e passaria a ser privado e que seria algo que transcende as dimensões paroquiais de qualquer denominação. “Compreender isso exige uma grandeza moral que infelizmente algumas lideranças religiosas se imiscuem na política brasileira nem sempre têm demostrado”, pontua.

O vídeo com os candidatos ao fazerem uso do púlpito para pedirem voto foi lembrado. Signates afirmou que a lei eleitoral não permite esse uso, que o mesmo é proibido, e que ai temos um problema jurídico. Ele informou inclusive que os candidatos que adotam essa medida preferem pagar uma multa do que simplesmente cumprir a lei. “É o Brasil com déficit de cidadania. Os fiéis não deveriam admitir serem tratados como massa de manipulação por seus líderes”.

Signates pontua que religião e política não deram certo quando se misturaram, e que quando isso ocorreu, o contexto em questão era de uma ditadura ou monarquia.

“Meu povo perece por falta de conhecimento”

No decorrer do texto a Bíblia foi lembrada e ela volta a figurar novamente nesta matéria. Para quem acredita que apenas nos últimos anos a mistura de religião e política ocorreu no Brasil se engana, pelo menos é o que indica a entrevista da missionária Cida Aquino, pois em 2007 ela acompanhou tudo isso de perto. A verdade é que de 2018 para cá desde que alguns candidatos passaram a usar o nome de Deus em suas campanhas ficou mais evidente que a ideia era não trabalhar nas pautas da população cristã propriamente dita, mas conquistar o voto daquele eleitorado.

Durante a nossa conversa Cida pontua que estava em uma congregação no ano de 2007, ano de eleição e pode acompanhar de perto a movimentação dos líderes religiosos e dos políticos.

Lembra que o professor Signates afirmou que essa junção é perigosa pela questão de abrir espaço para a corrupção, foi justamente o exemplo que a missionária presenciou na denominação que ela estava naquela época. “Muitas vezes o candidato não tem os recursos para te pagar ali, nesse momento vem os acordos “olha se eu ganhar eu te dou um cargo de chefia, de assessoramento, de direção”, e essa é a maneira que procede e viemos esses acordo no ano de 2007″.

A missionária afirma que ao presenciar esses atos ela se tornou dissidente de templos religiosos como o mencionado por ela. Cida pontua que fica uma sensação ruim quando observa esse tipo de coisa acontecer, pois conforme ela o líder daquele templo religioso faz “barganha”com igreja, que nesse caso entende se como fiel que frequenta aquele templo ou denominação.

“Deus nos fez ser seres racionais, nos deu uma inteligência racional para a gente pensar, mas infelizmente as pessoas tem preguiça de pensar, refletir, raciocinar. Isso é tão verdade que tem uma palavra na Bíblia que diz assim “O meu povo perece por falta de conhecimento”, e isso acontece porque não busca; na verdade você entra em uma casa e a Bíblia está ali mofada aberta no Salmo 91, mas a pessoa não pega na Bíblia. Essas pessoas não conseguem ficar cinco minutos em uma oração, e se você pedir para ela ficar 20 minutos em uma oração ela já fica incomodada e logo quer sair”.

A missionária diz que essas pessoas são manipuladas, e não só o cristão, o evangélico cristão, mas o católico e o espírita, e que eles se permitem serem manipulados, pois não buscam e classifica eles como preguiçosos. “Eles são manipulados porque não buscam o alto conhecimento, são maria vai com as outras, e votam em outro candidato pelo simples fato de outra pessoa ter falado para votar nele, e não é assim, falta muito alto conhecimento, muita busca nas pessoas. Essa busca de querer ser independente nas suas escolhas”.

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