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Padilha é o elo entre Caiado e Lula pela governabilidade

Ministro de Relações Institucionais teve apoio do governador de Goiás para impedir novas deslocamentos de golpistas em direção ao Distrito Federal

Passados quase dois meses, são cada vez mais comuns acenos de políticos ex-aliados de Jair Bolsonaro (PL) em direção ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que esteve no Palácio do Planalto duas vezes em dois meses.

Ao iniciar conversações com o Palácio do Planalto, Caiado, que no primeiro turno ficou neutro e no segundo turno da sucessão presidencial apoiou Bolsonaro, disse que tem convicções democráticas e é defensor do pleno estado de direito no país.

Semana passada, Ronaldo Caiado esteve no gabinete do ministro Alexandre Padilha, 4º andar do Palácio do Planalto, ao lado da governadora em exercício do Distrito Federal,, Celina Leão para buscar apoio do Governo Federal para projeto de gestão compartilhada do transporte na região do Entorno do Distrito Federal, que vai subsidiar parte do custo da passagem.

A primeira vez que Caiado esteve no Palácio do Planalto foi a reunião do presidente Lula da Silva com os 27 governadores, dia 27 de janeiro último, quando houve um pacto em defesa da democracia e do pleno estado de direito no Brasil.

Pelos corredores do prédio já passaram, inclusive, nomes do próprio partido do ex-presidente, como o senador Romário (PL-RJ) e o líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes, e deputados federais do PSDB, partido notoriamente conhecido pela oposição ao PT.

Por trás das negociações está o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável por articulação do governo, que não tem traçado fronteiras políticas na busca pela governabilidade. Levantamento do jornal O Globo mostrou que, desde que assumiu o posto, o petista já se reuniu com pelo menos seis parlamentares que apoiaram o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Entre os nomes, estão os deputados federais Pinheirinho (PP-MG), Juarez Gosta (MDB-MT) e Coronel Ulysses (União - AC).

Relação pacífica

Foi com Alexandre Padilha que o governador de Goiás se reuniu no Palácio do Planalto. O encontro, que contou também com a presença da governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (PP), teria como objetivo discutir a ligação dos dois estados via transporte púbico. Ao sair da reunião, Caiado defendeu uma “convivência pacífica e respeitosa” com o governo Lula e alegou que os “estados não sobrevivem sem a participação da União. “Essa é a maneira republicana de se governar. É lógico que estado não sobrevive sem que haja essa participação conjunta com o governo federal, tanto é prova disso que estamos aqui hoje para tratar de um assunto de extrema relevância, que é o transporte coletivo na região do Distrito Federal e do entorno”, falou Caiado.

O governador goiano pontuou também que em seu primeiro mandato, precisou do apoio da oposição para garantir sua governabilidade, mesmo só contando com o apoio de 14 prefeitos durante a campanha eleitoral. “É extremamente importante essa convivência pacífica e respeitosa ao resultado das urnas. Não teria outra maneira de responder que não seja essa. Eu quando governador de Goiás tive o apoio de 14 prefeitos e governei com 246. Nunca discriminei alguém por não ter tido apoio dele”, afirmou.

Apoios no PL

Para angariar espaço para Lula dentro do PL, o governo se valeu de conflitos internos que emergiram no partido após as eleições. Nos cálculos de lideranças do próprio partido, até um quarto dos 110 deputados e senadores da sigla tendem a votar com o Executivo, como antecipou o blog da colunista Malu Gaspar, de O Globo, em troca, claro, de cargos e influência. O grupo é formado por congressistas sem vínculos fortes com o bolsonarismo, que integram o chamado “PL raiz”, e que rivalizam com políticos do grupo duro de apoio a Bolsonaro.

No PSDB, as conversas têm acontecido com deputados federais, que ganharam livre acesso ao Palácio do Planalto. Como noticiou o colunista Lauro Jardim, os parlamentares Dagoberto Nogueira (MS) e Leda Borges (GO) foram recebidos por Alexandre Padilha.

Quem também se aproximou de Lula foi o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, ex-ministro no governo de Bolsonaro. Os dois se reuniram para enfrentar a tragédia das chuvas no litoral paulista, o que incomodou parte da militância bolsonarista.

Demanda de Goiás

A principal demanda de Ronaldo Caiado com o Governo Federal é a mesma dos demais governadores: compensação pelas perdas sobre ICMS dos combustíveis.

O governador Ronaldo Caiado prioriza, no Fórum de Governadores, as discussões sobre formas de a União repor as perdas de arrecadação com o ICMS. Na agenda, os governadores já se reuniram com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, em Brasília.

O chefe do Executivo goiano argumentou, em coletiva à imprensa, que o grupo procura uma segurança jurídica. Ou seja, aquilo que a Constituição garante, mas infelizmente não está sendo aplicado. “Você não pode simplesmente mudar a forma de arrecadação no meio de um orçamento”, frisa.

A redução das alíquotas do ICMS dos combustíveis, energia e telecomunicação, impostas no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2022, deve gerar somente neste ano, uma queda de arrecadação ao tesouro estadual de R$ 5,5 bilhões.

Segundo Caiado, a reunião no Ministério da Economia foi esclarecedora para dar início às tratativas sobre como se dará a compensação aos Estados. “Ou seja, de que maneira se dará essa compensação? O governo federal vai arcar 100% com nossas perdas ou será parcelado?”, destacou.

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a União inicie a compensação de perdas do Estado de Goiás (GO) decorrentes da redução de alíquotas do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo. O governo estadual estima que a queda de arrecadação, entre agosto e dezembro de 2022, foi de R$ 2,4 bilhões. A decisão liminar foi proferida na Ação Cível Originária (ACO) 3614.

Alexandre Padilha

•Relações Institucionais tem status de ministério e já foi comandada por ele no primeiro governo Lula, antes de ganhar mais destaque na Saúde pela criação do programa Mais Médicos

•Atualmente deputado federal, ele foi ministro da SRI entre 2009 e 2010, quando o então presidente Luiz encerrava seu segundo mandato. Ele já trabalhava no ministério há mais tempo: começou como chefe de gabinete até galgar a chefia pasta, como o mais jovem ministro do governo, aos 38 anos

•A partir de 2011, com a chegada de Dilma Rousseff (PT), passou para o Ministério da Saúde, onde permaneceu até 2014

•Infectologista, Padilha estabeleceu como prioridade de sua gestão reduzir o déficit de médicos no Brasil, especialmente em regiões carentes e afastadas dos grandes centros urbanos.

•Padilha deixou o Ministério em 2014, para disputar o governo de São Paulo naquele ano. Na corrida estadual, ficou em terceiro lugar no pleito que consagrou Geraldo Alckmin (então no PSDB, hoje vice de Lula)

•Após a derrota, Padilha foi secretário municipal de Saúde de Fernando Haddad (PT), em São Paulo.

•Em 208, concorreu a deputado federal por São Paulo, sendo eleito

•Nas eleições de 2022, foi reeleito para seu segundo mandato na Câmara – para assumir o Ministério, ele se licenciou do cargo

Petista acena a governadores para ampliar apoio político

Petista acena a governadores para ampliar apoio político

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta atualizar a forma de tocar o país ao lado dos governadores. A iniciativa, mais do que uma tentativa de reconstruir a harmonia na federação — estilhaçada pela animosidade que marcou os tempos de Jair Bolsonaro —, visa a ampliar a sustentação política do governo central, como ocorreu na República Velha, e manter a maior proximidade possível com potenciais adversários políticos — e eleitorais.

O último gesto de Lula nessa direção não poderia ser mais explícito. Na primeira visita a um estado, foi ao Rio de Janeiro, berço eleitoral de Bolsonaro governado por Cláudio Castro (PL), do partido do ex-presidente. Na ocasião, ambos trocaram sorrisos e conversas ao pé do ouvido, além de promessas de trabalho conjunto durante os discursos.

“O que importa é que temos maturidade, presidente Lula, pois juntos temos a missão de trabalhar para esse povo”, disse Castro. Lula devolveu a gentileza prometendo mais investimentos. Nos bastidores, o petista estimula emissários a tentar levar o governador para um partido da base, como União Brasil e PSD — o prefeito Eduardo Paes, do PSD, aliás, foi o responsável por unir os dois no evento.

O aceno de Lula aos governadores já vinha sendo feito desde a campanha, mas ganhou força após a intentona golpista de 8 de janeiro. No dia seguinte, os 27 chefes estaduais foram ao encontro do petista para defender as instituições da República. Duas semanas depois, voltaram a se encontrar na capital federal para lançar a Carta de Brasília, na qual reafirmaram o compromisso com a democracia, mas também lançaram o compromisso de pactuarem parcerias concretas e criaram o Conselho da Federação.

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