A disputa eleitoral de 2024 em Goiânia ainda não tem um mote definido, mas é cada vez mais certo que a tendência é de afastamento de clássicos eleitorais, como a corrupção ou problemas de ordem pessoal e privados. Motivo: os pré-candidatos não têm passivo saliente na área até o momento. E o assunto tornou-se redundante desde 2018, quando o lavajatismo dominou corações e mentes e esgotou a fonte de indignação momentaneamente.
Na imprensa, despontam Rogério Cruz (Republicanos), Vanderlan Cardoso (PSD), Adriana Accorsi (PT), Bruno Peixoto (UB) e Ana Paula Rezende (MDB) como pré-candidatos. Gustavo Gayer (PL) é também pré-candidato e sofreu avarias após embate com a deputada federal Silviê, que trouxe à tona fatos anteriores à vida pública do político bolsonarista.
Nenhum dos cotados para a disputa da Prefeitura de Goiânia tem denúncias substanciais de improbidades e corrupção. Nenhum traz condenações carimbadas pela prática política. Resumo da ópera: outros temas dominantes de campanha, que costumam pautar as eleições, estão abertos - caso das obras ( seja a demora na execução ou seu volume), a segurança pública, sistema de saúde, políticas sociais, competência, etc.
A campanha de 2020, em Goiânia, foi pautada por dois temas antagônicos: a pandemia de covid-19 ( que vitimou o prefeito eleito) e uma variante de escândalo de corrupção, quando Vanderlan Cardoso, então líder nas pesquisas, teve um áudio divulgado durante a campanha. Nele, o político defendia um suspeito de corrupção. Na ocasião, o então candidato elogiou o senador Chico Rodrigues, flagrado com dinheiro na cueca. "Não tem nada que desabone Chico Rodrigues", disse em 2020.
Saber os rumos de uma disputa é essencial para a equipe de campanha, uma vez que todo discurso, propostas e debates costumam ser guiados pela opinião pública. Os news-value (valores notícia) também alimentam a campanha e se nutrem do teatro montado na campanha. É mais fácil - numa campanha - nadar com a correnteza do que contra - ou seja, "pautar" assuntos costuma ser caro e exige credibilidade da informação.
O momento é de realização de pesquisas qualitativas, que sondam um conjunto reduzido de eleitores sobre o que pode tornar-se relevante para eles nos próximos meses.
Cada cidade tem sua narrativa. Goiânia costuma ter - volta e meia - narrativas dominantes de "competência" e "bom gestor" (Nion Albernaz, em 1989), " ventos de mudança" e "fadiga do eleitor" (eleição de Darci Accorsi, em 1992, quando o PT se constituiu como alternativa de poder), "antecipação de uma onda" (Pedro Wilson, 2001, que surge com a boa imagem do PT nacional), "tocador de obras" (o retorno e permanência de Iris a partir de 2004), o "apadrinhamento", "continuidade da tranquilidade aparente" ou "puxador de votos" (eleição de Paulo Garcia, na terceira onda do PT no município, em 2012, com apoio do MDB irista), a "qualificação" e "emoção" (quando Maguito se elegeu, em 2020. A campanha foi também emotiva, com o líder acamado).
Até o momento, nas ruas, o que se percebe é uma visão dissonante do prefeito - ora encarado como responsável e que cumpre o programa deixado por Maguito ora sem pulso e experiência para terminar obras que se arrastam pelo mandato herdado. Saber a saúde política de Cruz é essencial para se constituir a campanha, uma vez que ele é peça chave da disputa e atrairá críticas dos demais pré-candidatos.
Jornalista, advogado, mestre em Comunicação, mestre em Direito e doutor em Sociologia pela UFG. Editor-geral do Diário da Manhã