Os atos de vandalismo e depredação ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto e à sede do Supremo Tribunal Federal, em 8 de janeiro de 2023, foram motivados por uma narrativa fantasiosa e anacrônica, segundo Tales Ab´Sáber, psicólogo e professor da Unifesp. Ele aponta que a mobilização violenta ocorreu quando a trama estratégica de um golpe já havia sido descartada, após o ex-presidente Jair Bolsonaro deixar o Brasil em 30 de dezembro de 2022.
Mesmo sem base concreta para a realização de um golpe de Estado, a insurreição teve razões evidentes. Segundo Ab´Sáber, os apoiadores de Bolsonaro se mobilizaram durante semanas em frente a quartéis e em tentativas de paralisação de caminhoneiros, criando um ambiente propício para ações extremistas. A ausência de Bolsonaro contribuiu para o caos, pois o ex-presidente não desmobilizou seus seguidores.
O psicanalista Christian Dunker, da USP, destaca que a imaginação dos participantes foi alimentada por ideias ultrapassadas, como o temor do comunismo e a falta de acurácia política. Ele descreve o episódio como resultado de um processo narrativo que alimentava a expectativa de um grande ato de ruptura. Dunker, que esteve em Brasília dias antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, visitou os acampamentos bolsonaristas e observou a vulnerabilidade emocional e financeira de muitos dos presentes, além de discursos messiânicos.
Ab´Sáber enfatiza a necessidade de responsabilização legal para evitar novos episódios semelhantes. Ele alerta que a tentativa de golpe é crime, e o cumprimento rigoroso das leis é essencial para manter a estabilidade constitucional e psíquica do país.