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POLÍTICA

O Brasil cresce em Goiás

A escolha de Raquel Dodge para a cobiçada Procuradoria-Geral da República movimentou a cidade de Morrinhos, na Região Sul de Goiás, com comentários e lembranças da família que viveu na cidade até 1970. Parentes, amigos e ex-professores ainda se lembram da garota “branquinha, mirrada e dedicada” aos estudos que foi alfabetizada no Grupo Escolar Coronel Pedro Nunes e mudou-se com a família quando o pai foi aprovado em concurso e ingressou na magistratura estadual.

Raquel Elias Ferreira Dodge foi escolhida pelo presidente Michel Temer para a chefia do Ministério Público Federal e será sabatinada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado para ocupar o cargo. A ela caberá o comando de ações vitais para a democracia e para a estabilidade política do Brasil na atualidade, como as Operações Lava Jato, Patmos e a denúncia criminal que pesa contra o próprio Sarney pelo singelo delito de corrupção passiva.

A indicada para a PGR nasceu em Morrinhos, uma secular cidade encravada entre alguns morrotes nas cercanias que deram o nome inicial de Vila Bela de Morrinhos. Filha do advogado José Rodrigues Ferreira e da dona de casa Ivone Elias Cândido Ferreira – ela e mais uma irmã e dois irmãos, Raquel nasceu em 26 de julho de 1961 e foi batizada no dia seguinte. “Naquele tempo era comum batizar a criança com poucos dias de nascido devido ao medo dos pais sobre o filho ficar pagão”, confidencia uma amiga da família. Seus padrinhos foram os fazendeiros amigos de seus pais, Osvaldo de Oliveira Guimarães e Sebastiana Rodrigues Ferreira, que tinham até algum parentesco. O batistério ainda registrado na Paróquia Nossa Senhora do Carmo foi atualizado até mesmo com a averbação do registro do casamento de Raquel com o cidadão americano Bradley Lay Dodge, um professor da Escola das Nações, uma aristocrática instituição de ensino para filhos de integrantes do corpo diplomático de Brasília.

A família morava em frente ao Grupo Escolar Coronel Pedro Nunes e os filhos foram alfabetizados nessa mesma escola. A tia de Raquel, Ivonete Elias Cândido, era professora nessa escola e foi uma das responsáveis pela alfabetização da sobrinha. “Ela era dedicada, estudiosa e alegre. Os pais incentivavam os filhos a estudarem com afinco para poderem almejar um futuro promissor”, lembra a tia e mestra.

Quando o pai foi aprovado para o cargo de juiz de direito por um concurso público a família perdeu o vínculo com Morrinhos. Ivonete lembra que todos se mudaram para Araguacema, hoje no Estado do Tocantins e depois para Formoso. “Algum tempo depois o pai dela foi aprovado para o Ministério Público Federal e se mudaram para Brasília. Raquel, já mocinha estudou com afinco e entrou para o curso de Direito da Universidade de Brasília”, comenta.

Padrinho

A mesma tia Ivonete lembra que Raquel Elias Ferreira teve um professor na UnB que se encantou com o talento da aluna Raquel e a levou para sua assessoria no Superior Tribunal de Justiça. “Esse professor se chamava Marco Aurélio Mello”, lembra a tia, sem saber precisar se é o mesmo ministro do STF atual. Dali pra frente Raquel, que já tinha o pai no Ministério Público Federal precisou apenas lapidar seu saber jurídico, estudar e ser aprovada para a mesma carreira ministerial.

Raquel ingressou no MPF em 1987 e galgou cargos até ser sub-procuradora-geral, estágio inferior apenas ao chefe do MPF. Dedicada aos estudos e à carreira jurídica ela só se casou aos 31 anos, em dezembro 1992 com o americano Bradley, com quem se transferiu temporariamente para os Estados Unidos em busca de um mestrado na prestigiada Universidade de Harvard, já como Mrs. Dodge e os dois filhos. Aliás, os rebentos vivem e estudam nos Estados Unidos ainda. Sofia é psicóloga e faz mestrado e Eduardo é estudante de design.

Mas, para ser procuradora-geral da República Raquel Dodge, como é conhecida precisou trilhar um difícil caminho. A família teve um dos irmãos dela falecido esse ano de câncer e a mãe, Ivone, comentou com a irmã que a escolha de Raquel para a PGR significou uma boa nova, após “tanta notícia ruim” que tiveram esse ano.

Raquel foi bem votada em outra eleição para PGR, perdendo para o atual titular do cargo, Rodrigo Janot. Agora ela também ficou em segundo, mas com uma votação muito mais expressiva e pouquíssimos votos atrás do segundo colocado. Um paradigma para os integrantes do MPF é que o primeiro da lista fosse o escolhido e Raquel quebrou essa tese, sendo a segunda e ficando com a indicação.

A escolha ter recaído sobre ela tendo como parte do fundamento a birra de Michel Temer com Rodrigo Janot, de quem Raquel é opositora, não é segredo nenhum pra ninguém. A tia Ivonete rebate qualquer insinuação de que ela poderá ajudar Michel Temer por ter sido escolhida. “Ela não vai ajudar corrupto nenhum. Ela sempre foi muito justa e vai continuar sendo, tenho certeza”, arremata a tia. Outro cabo eleitoral de peso para Raquel Dodge foi o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que na noite de segunda-feira se reuniu às escondidas com Temer e endossou o nome de Raquel.

Entretanto, até as pedras da PGR sabem que o primeiro colocado na eleição, Nicolao Dino, só não foi escolhido porque recai nele toda a ira do ex-presidente Sarney e de parte do PMDB, principalmente os que estão mais envolvidos com a corrupção, a roubalheira e as propinas. Nicolao é irmão do governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), que sepultou todo o legado do clã Sarney no Maranhão e a curriola do PMDB não perdoa quem lhe fere pela gatunagem.

Raquel Dodge, aos 55 anos, terá a chance de manter sua biografia intacta, promovendo a Justiça com retidão e gozar do respeito dos colegas e da sociedade brasileira. Ela foi implacável em ações importantes como o Mensalão do DEM, que prendeu o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda e na prisão do ex-deputado Eduardo Cunha. De perfil centralizador      ela já disse que o enfrentamento à corrupção será prioridade em sua gestão.

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