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POLÍTICA

O herdeiro do irismo

A morte do ex-prefeito e ex-governador Iris Rezende (MDB) traz à tona um questionamento nos bastidores da política goiana: quem será o principal herdeiro político de Iris Rezende daqui para frente.

Naturalmente, Dona Iris de Araújo continuará o legado do marido, bem como os demais familiares. São eles - por direito - responsáveis pelo espólio memorial e histórico, já que carregam uma convivência eternizada com o líder emedebista e o sobrenome.

No velório, na terça-feira, Dona Iris, que é voz relevante da legenda, com histórico na Câmara Federal e uma candidatura à vice-presidente, disse para Ronaldo Caiado (DEM): "O voto dele era seu!". Assim, ela também declarou seu voto: em 2022 votará no atual governador.

Na vida pública, portanto, o herdeiro natural passa a ser o governador Ronaldo Caiado (DEM), que desde a campanha de 2014 tornou-se companheiro das fileiras iristas em campanhas e proposições para Goiás. No discurso, nas entrevistas e debates, além de Maguito Vilela, foi Caiado quem melhor defendeu Iris diante inúmeras campanhas de difamação e violência simbólica.

Sua eleição ao Senado Federal é atribuída em grande medida ao trabalho de Iris Rezende, que conduziu a campanha lado a lado. Iris perdeu por 5% a disputa contra Marconi Perillo (PSDB). Já Caiado teve uma diferença de 10% em relação ao segundo colocado.

Ainda na noite de terça-feira, 9, o governador anunciou que o Governo de Goiás realizará políticas públicas nas cidades a partir da volta dos Mutirões – conjunto de prestações de serviços e orientações que Iris instituiu em seu primeiro mandato como governador (1983-1986).

Na verdade, antes da pandemia, em 2019 e parte de 2020, já existiam parcerias de Ronaldo Caiado com Iris em ações programáticas realizadas nos bairros de Goiânia.

Caiado assumiu ao longo dos últimos anos a imagem de irmão mais jovem do gestor, concedendo a Iris palavra final na maioria dos projetos futuros.
O governador entendeu Iris, homem de partido, quando ele defendeu a candidatura de Daniel Vilela, em 2018. Iris preferia Caiado, mas seguiu as orientações do partido.

Caiado também aceitou a disposição do emedebista em se aposentar da política. E deu a Iris a opção de uma candidatura em 2022, caso optasse por retornar à vida pública.

Um encontro no escritório político de Iris, no início deste ano, serviu para Caiado formalizar o convite e demonstrar que existia uma forte relação entre os dois.

A aliança entre Ronaldo Caiado e Daniel acabou por selar esta tendência. Sem Iris, o MDB seguirá com Caiado, tendo como missão dois cenários: impedir retrocessos em Goiás. E renovar os comandos políticos do Estado, oxigenando a paisagem com jovens lideranças. Dentro desta lógica dentre partidos, Daniel é o primeiro escolhido para representar a renovação.

A união entre os dois fortalece um grupo político que tem tudo para dar certo, já que une a história de dois ex-governadores amigos (Iris Rezende e Maguito Vilela), a tradição das legendas, um exército de militantes, grande capilaridade nos municípios e uma gestão atual sem escândalos e que procura colocar ordem na casa.

Elogio de Iris
No encontro em seu escritório político, na avenida T-9, setor Marista, Iris chegou a se manifestar nas redes: "Receber o governador Ronaldo Caiado é sempre motivo de alegria. Um amigo que a vida pública me deu. Hoje tivemos a oportunidade de falar sobre inúmeras questões do nosso Estado. Bom ver sua liderança, sua motivação. Ele trabalha incessantemente por Goiás”. Dias depois, o emedebista retribuiu a visita e foi até Caiado – gesto entre ‘governadores’ que jamais ocorreu em Goiás.

Genealogia da aproximação

A aproximação oficial de Iris e Ronaldo Caiado ocorreu em 2014. Na época, o democrata disse para Iris: se fosse ele o candidato do MDB ao governo de Goiás, sem qualquer dúvida, o apoiaria. Na época, o MDB caminhava para lançar um desconhecido, empresário Júnior Friboi, que teve certo protagonismo naquele momento. Ronaldo Caiado rejeitou a indicação.

Ao ter certeza de que democrata estaria do seu lado, Iris se colocou na disputa. Para a escolha, o emedebista teve que optar entre Ronaldo e o PT. Em 2010, o democrata já tinha sinalizado interesse em apoiar Iris para o governo, ciente de que o ex-governador tinha o direito de gerir novamente o Estado.

Mas o MDB optou por uma aliança com o PT, partido antagonista de Ronaldo Caiado, já que, no Congresso Nacional, ele fazia questão de denunciar os escândalos de corrupção das gestões de Lula e Dilma Rousseff.

Em 2014, o PT goiano se antecipou e traiu Iris, que buscava segunda aliança com o partido. Antônio Gomide, então prefeito de Anápolis, optou em lançar sua candidatura solo – opção que afastou o PT do MDB e o tornou uma legenda ainda menor no Estado. Caiado, então, se aproximou de Iris e reatou a relação de cordialidade que tinha com o líder.

Anos 80
Mas bem antes Iris e Caiado já estavam sintonizados – ainda que de lados opostos. Em 1986, em paralelo à carreira de médico, Ronaldo Caiado tornou-se também líder da UDR. Sua função: pressionar o governo Sarney em defesa dos produtores rurais.

Pressionado pelo forte movimento que Caiado encabeçava, Iris Rezende, então ministro da Agricultura, convenceu o governo a investir no agronegócio, reduzindo juros e impostos. Deste encontro ocorreram duas grandes supersafras que ajudaram o país a sair da imensa crise iniciada no começo da década.

ANA PAULA REZENDE:
“Agradeço a todos que oraram pelo meu pai”

Em uma postagem em suas redes sociais, Ana Paula Rezende Machado Craveiro, uma das filhas do ex-governador de Goiás e ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende, falou sobre a morte do emedebista e agradeceu a todos pelas orações ao político.

Ana Paula escreveu ainda que “foram dias de muita luta, muita vontade de viver, mas que Deus sabe o que faz”. Na publicação, ela agradeceu a Deus o privilégio de ser filha de Iris, pela história pública e a vida do pai.
Ao final da mensagem, Ana Paula afirmou que nesse momento só pede conforto aos corações.

O ex-governador de Goiás e ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende morreu aos 87 anos na madrugada desta terça-feira (9) em São Paulo. O emedebista estava há mais de três meses internado em recuperação de um acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH) sofrido em agosto.

O corpo de Iris Rezende foi sepultado no cemitério Santana, em Goiânia. O ex-prefeito recebeu homenagens do governador Ronaldo Caiado, prefeito Rogério Cruz, parlamentares, prefeitos, vereadores, empresários, profissionais liberais, servidores públicos, população em geral. Mais de 4 mil pessoas estiveram no velório, no Palácio das Esmeraldas.

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