As políticas públicas de Iris Rezende foram estudadas por diversos pesquisadores. Teses e dissertações de sociologia, ciência política, direito, história, comunicação e urbanismo procuram entender uma das figuras mais populares da política brasileira.
As conclusões de alguns estudos são controversas, tendo muitas vezes questionamentos quanto às consequências das escolhas de gestão do ex-governador, que faleceu nesta terça-feira, 9. Mas a maioria reconhece o impacto das ações, que tiveram grande alcance nas comunidades e - de uma forma ou de outra - marcaram as cidades.
“Habitação popular em Goiânia: Vila Mutirão, mil casas em um dia”, dissertação de mestrado de Silvio Antônio de Freitas, trata de um dos fatos que mais jogaram luzes na carreira política do ex-governador.
Defendida em 2007, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), a pesquisa revela os bastidores do programa “Mutirão da Moradia”, executado em 1983. “Na conclusão, fica claro que os objetivos políticos do então governador foram alcançados, mas que a experiência construtiva em larga escala não foi aprimorada”, escreve Silvio.
Uma das interpretações de Sílvio é de que o sucesso do mutirão se deve, em parte, ao modelo tecnológico adotado, que difere do sistema convencional utilizado na atualidade. “Tendo com base um processo de racionalização construtiva de pré-fabricação e utilizando peças pré-moldadas foi possível atender às exigências de construção de unidades habitacionais em grandes quantidades e em curto espaço de tempo, conforme solicitado nos programas do Mutirão da Moradia implantado pelo governo estadual. O programa e o processo tecnológico adotados também vislumbraram o baixo custo para abrigar a população pobre, que morava em condições precárias e de maneira irregular em Goiânia e em outras cidades do interior”.
O pesquisador lembra que o sistema utilizou “peças leves, capazes de serem transportadas e manipuladas por duas pessoas”.
As imagens que circularam do canteiro de obras tornaram Iris popular no Brasil, a ponto dele postular a indicação do MDB para disputar a presidência da República, em 1989.
Ministro da Agricultura no governo Sarney, Iris perdeu a indicação nos bastidores – já que ganhava com sua imagem pública pós-mutirão, mas não tinha articulação suficiente junto aos demais emedebistas.
Ulysses Guimarães, deputado federal de São Paulo, acabou tendo um desempenho pífio nas eleições, fato que escancarou o erro do PMDB em ignorar Iris.
Evangélico da Igreja Cristã, Iris teria apoio da nascente bancada evangélica, mas acabou também traído pelo grupo, que seguiu com Fernando Collor de Melo, quando o ex-presidente acabou tornando-se um fenômeno do marketing.
Meses depois, as lideranças evangélicas optaram em ignorar o MDB sem Iris. Mas a candidatura esmaeceu por conta, principalmente, da força das elites políticas paulistas. Elas insistiram em Ulysses: uma liderança sem carisma, experiência no Executivo e já idosa, que concorreu numa disputa dominada por caras novas como Collor e Lula.
Iris Rezende e o Mutirão
As pesquisas que procuram reconstituir o Mutirão da Moradia revelam passo a passo a construção da imagem pública do político. Ex-prefeito de Goiânia, o gestor sempre comunicou estar pronto para trabalhar, sem preguiça e totalmente abnegado ao trabalho. A cena se repetiu ao longo da vida pública. Quando prefeito, em seu último mandato, durante janeiro, o Paço Municipal e mesmo a Câmara Municipal de Goiânia permaneciam sem movimentos. Mas Iris estava incólume na sede da Prefeitura. São raras as notícias sobre viagens do ex-prefeito. Por isso mesmo esta imagem de “trabalhador” atravessou décadas.
Uma reportagem do Diário da Manhã, de 12 de outubro de 1983, ajudou a estruturar este traço central de sua personalidade política. Nela, aparece Iris cadastrando pessoalmente vinte famílias para morarem na Vila Mutirão. O jornal relata como Iris abordou os moradores da invasão da Vila São José e os comunicou de que teriam direito à moradia. A reportagem foi replicada pela mídia nacional e revelou um personagem novo: o gestor que estava ao lado da população como servidor.
O mesmo DM, em 12 de outubro, Iris mostrava uma busca de cronometria das obras, fato que comunicava exatidão e verdade. O título anunciava “uma casa a cada 36 segundos”. No texto, Iris falava para a equipe de reportagem: “Ao raiar do dia 16 próximo estarei como comandante e como operário. Todo serviço que um operário fizer, eu farei também”.
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