O debate eleitoral se intensificou e os candidatos buscam se acertar com segmentos importantes de eleitores. Com mais de 30% da população de 215 milhões de brasileiros, os evangélicos são determinantes para a eleição em qualquer nível. E quem ganhar a simpatia da maioria de eleitorado tem maiores chances de ser vencedor.
A busca pela influência evangélica está em todos os níveis. Na última semana a bancada se reuniu com Jair Bolsonaro (PL). Antes que o presidente pedisse o reforço do apoio, ele já ouviu os pedidos dos líderes que desejam uma sintonia fina com o Palácio do Planalto em relação às pautas de interesse. Afinal eles sabem o valor de sua influência politica.
Para não ficar para trás, o pré-candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu para que o PT criasse núcleos de evangélicos em 21 Estados, na tentativa de recuperar, nas eleições de 2022, os votos que perdeu 2016 e 2018. O próximo passo é a criação de comitês que unam líderes neopentecostais aos demais partidos de esquerda, como o PSB, com o qual petistas negociam formar uma federação. Homem de confiança do ex-presidente, Gilberto Carvalho, ex-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, comanda as articulações.
Na esfera estadual, também há uma busca pelas lideranças evangélicas. O governador Ronaldo Caiado (UB) tem participado dos eventos religiosos, demonstrado maior afinidade e inclusive já firmou o apoio do prefeito Rogério Cruz (Republicanos), pastor da Igreja Universal do Reino de Deus. O governador tem demonstrado estar atento não só às demandas do eleitorado da fé, mas também à capilaridade que existe dentro deste segmento.
O prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (sem partido) também tem buscado se aliar aos evangélicos, ele que é membro da igreja Assembleia de Deus. Tem participado de encontros com líderes religiosos tanto na sua cidade, como no interior.
O deputado federal Major Vitor Hugo, que também se coloca como pré-candidato ao governo do Estado tem forte ligações com os evangélicos. Além dos militares, sua base eleitoral está nas igrejas e cada vez mais ele busca aproximação, principalmente na cidade de Anápolis, onde muitas lideranças o apoiam devido sua proximidade com o presidente Jair Bolsonaro.
Forte atuação
Entre os que buscam uma vaga no Congresso é importante também entender o contexto da influência evangélica para entrar na disputar. A Frente Parlamentar Evangélica (FPE) conta com quatro parlamentares goianos que atuam efetivamente: os deputados Glaustin da Fokus (PSC) e João Campos (Republicanos); e os senadores Luiz do Carmo (sem partido) e Vanderlan Cardoso (PSD). Mas além deles, outros goianos compõem a Frente. São eles: Alcides Rodrigues (Patriota), Célio Silveira (PSDB) e Lucas Vergílio (SD). Excluindo o senador Vanderlan, os demais estão na busca pela reeleição, e atuam fortemente junto aos evangélicos para contaram com sua influência e apoio.
O certo é que na política ninguém articula sem a participação dos evangélicos. São grupos que possuem influência, sabem do potencial e buscam ampliá-lo.
A Igreja Universal do Reino de Deus, que tem o bispo Edir Macedo como sua principal liderança, exerce forte influência na política goiana. Além do prefeito Rogério Cruz, contribuiu com a eleição do deputado federal João Campos e do deputado estadual Jeferson Rodrigues, além de vereadores em Goiânia, Aparecida e Anápolis. Nas eleições deste ano, vai apoiar a Jeferson Rodrigues para a Câmara Federal e Thelma Cruz para a Assembleia Legislativa.
A Igreja Fonte da Vida, comandada pelo apóstolo César Augusto, também atua forte nas eleições. O pastor Fábio Sousa, filho de César Augusto, já foi vereador, deputado estadual e deputado federal. Este ano, é candidato novamente à Câmara Federal. O vereador Dr. Gian, é genro de César Augusto.
A igreja Assembleia de Deus, comandada em Goiás pelo pastor Oídes do Carmo, também atua firme na política. O deputado estadual Henrique César (PSC) é genro de Oídes do Carmo. O senador Luiz do Carmo (sem partido) é irmão de Oídes. Eurípedes do Carmo, ex-prefeito de Bela Vista e presidente da Goiás Fomento é irmão de Oídes.
Outras denominações evangélicas, como Videira, (dirigida pelo pastor Aluizio Silva)também influenciam no processo eleitoral, apadrinhando candidatos majoritários e proporcionais, a cada eleição em Goiás. A Luz para os Povos, do pastor Sinomar Silveira, também atua no processo eleitoral. Seu filho, pastor Silmeyzon Silveira, foi deputado estadual e candidato a prefeito de Goiânia.
Quem são os líderes com peso nos templos das igrejas
Se na eleição de 2018, o eleitorado evangélico fez diferença para eleger o presidente Jair Bolsonaro (PL) – 7 em cada 10 votaram nele, segundo o Datafolha –, neste ano seus rivais na disputa pelo Palácio do Planalto têm se mobilizado para atrair ao menos parte do segmento.
No país, os chefes evangélicos são: Silas Malafaia (Assembleia de Deus Vitória em Cristo), Edir Macedo (Universal do Reino de Deus), R.R. Soares (Internacional da Graça de Deus), Estevam Hernandes (Renascer em Cristo), Manoel Ferreira (Assembleia de Deus Ministério Madureira), José Wellington Bezerra da Costa (Assembleia de Deus), Samuel Câmara (Igreja-Mãe), Renê Terra Nova (Ministério Internacional Renovação), Henrique Vieira (Batista do Caminho) e Ariovaldo Ramos (Frente de Evangélicos)
O PT, por exemplo, decidiu lançar em fevereiro um programa de entrevistas no YouTube voltado para evangélicos, com discussões sobre religião, costumes e economia. A ideia é chamar pastores, políticos e acadêmicos de esquerda para falar com esse público, na tentativa de reaproximá-lo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do partido.
O Podemos, por sua vez, escalou o advogado Uziel Santana, ex-presidente e fundador da Associação Nacional de Juristas Evangélicos, para organizar encontros de Sergio Moro pré-candidato da legenda, com lideranças evangélicas – o foco inicial são conversas com pastores menos conhecidos e de igrejas tradicionais, como a presbiteriana, batista e adventista, para conhecer melhor projetos sociais que elas desenvolvem.
A maioria dos líderes mais famosos e influentes, porém, têm declarado, nos últimos meses, a manutenção do apoio a Bolsonaro, por uma série de fatores: de compromissos públicos com a proteção da família tradicional à defesa da imunidade tributária para as igrejas, passando por críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), visto como potencial ameaça à liberdade de expressão e religiosa dos cristãos e como um poder que interfere no Legislativo.
Até que ponto eles de fato os líderes evangélicos poderão influenciar o voto de seus rebanhos não é algo exato. Alguns estudiosos do assunto apostam que, neste ano, o peso da pauta moral poderá ser menor na escolha do candidato à Presidência e o fator econômico pode ganhar força, sobretudo em camadas mais populares que sentem mais a inflação e o desemprego.
É o que prevê o professor e cientista político Vinicius do Valle, que, entre 2011 e 2017, estudou a fundo o voto de evangélicos da Assembleia de Deus. Para ele, neste ano, os pastores que estão na ponta, nas pequenas igrejas de bairro, tendem a se envolver menos na discussão eleitoral.