Política

A nova ordem mundial ‘unipolar’ de Kissinger

Diário da Manhã

Publicado em 27 de janeiro de 2016 às 01:40 | Atualizado há 3 meses

  • Harry S. Truman concretiza a visão de Theodore Roosevelt de se criar as Nações Unidas, frisa
  • Stálin estaria convencido de que o sistema capitalista inevitavelmente produziria guerras, avalia
  • JFK autorizou o uso de tropas de combate em 1962, no Vietnã, confidencia o ex-secretário de Estado

– Os EUA querem a paz mundial e a harmonia universal.

É o que afirma o ex-secretário de Estado Henry Kissinger em ‘Ordem Mundial’, Editora Objetiva, 2015. Os seus princípios seriam aplicáveis ao mundo inteiro, informa. John Fitzgerald Kennedy defendia um novo mundo baseado no direito e na liberdade, recorda-se. Os EUA reconstruíram as economias devastadas pela segunda guerra mundial, criaram a Aliança Atlântica e armaram uma rede global de parceria econômica e de segurança, explica.

– Os EUA estiveram na linha de frente de todas as revoluções tecnológicas.

Com dados nas mãos, ele relata que após o conflito mundial, em 1945, os EUA representavam 60% do PNB mundial. “O empreendimento levado adiante pelos Estados Unidos na Guerra Fria começou como uma defesa dos países que compartilhavam a visão americana de ordem mundial. O adversário, a União Soviética, era visto como um elemento que havia se desgarrado da comunidade internacional, mas que terminaria um dia por se reintegrar a ela”, observa.

– Harry S. Truman concretiza a visão de Theodore Roosevelt de se criar as Nações Unidas.

 

Plano Marshall

Depois da segunda guerra mundial, os EUA lançaram o Plano Marshall, em 1948, criaram a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte], marco fundador da nova ordem internacional, se engajaram em apenas cinco guerras, adianta. O autor se refere à Coreia, Vietnã, Guerra do Golfo, Afeganistão e Iraque. Em três, abandonaram as guerras no meio do caminho: Vietnã, Afeganistão e Iraque, frisa.

– Os EUA realizaram um esforço global para conter o expansionismo soviético.

O analista do cenário mundial diz que a estratégia global de Josef Stálin era complexa. O bigodudo do Kremlin estaria convencido de que o sistema capitalista inevitavelmente produziria guerras. Por isso o fim da segunda guerra mundial não passaria, na melhor das hipóteses, de um armistício, destaca. O líder soviético considerava Adolf Hitler um representante sui generis do sistema capitalista, não uma aberração nascida do sistema.

– Os estados capitalistas continuavam a ser adversários depois da derrota de Adolf Hitler, não importa o que seus líderes dissessem ou mesmo pesassem.

 

Guerra da Coreia

Henry Kissinger avalia que a guerra da Coreia representa uma linha que dividiu o século XX ao meio. Os EUA renunciaram à vitória, registra. Os EUA perderam a aura de invencibilidade. O que iria assombrá-los nas selvas do Vietnã, analisa. Harry S. Truman enviara conselheiros civis ao Vietnã do Sul para resistir às guerrilhas no ano de 1951, sublinha. Já Dwight D. Eisenhower havia acrescentado assessores militares, em 1954, afirma.

– JFK autorizou o uso de tropas de combate em 1962.

“O governo Kenedy estivera prestes a participar da guerra, e a administração Lindon Johnson assumiu essa decisão por estar convencida de que o ataque norte-vietnamita ao Vietnã do Sul era cabeça de ponte de um esforço sino-soviético rumo ao domínio global, e que precisava encontrar a resistência das forças americanas; caso contrário, todo o Sudeste Asiático cairia sob o controle comunista”, anota em Ordem Mundial o escritor Henry Kissinger.

– Os EUA acreditavam na Teoria do Efeito Dominó, segundo a qual a queda de um País diante do comunismo levaria a outros  a caírem também. Aplicava-se, então, a Doutrina de Contenção para frustrar os objetivos do agressor [Como no modelo da Otan, Organização do Tratado do Atlântico Norte] e para fomentar a reabilitação econômica e política [ Como no Plano Marshall].

 

Era Nixon

Lindon Johnson sai do poder em 1969. Assume Richard Nixon, que chega a enviar 500 mil americanos para combate no Vietnã. A ideia era dar sustentação à Ordem Mundial, pontua. “A preservação da credibilidade americana na defesa de seus aliados e do sistema de ordem global – um papel que os Estados Unidos tinham desempenhado por duas décadas – permaneceu como parte integrante dos cálculos de Richard Nixon”, frisa.

– A crise do Watergate, a restrição pelo Congresso dos EUA da ajuda em 1973, a eliminação completa em 1975 levaram o Vietnã do Norte a conquistar o Vietnã do Sul…

Richard Nixon era o presidente mais bem preparado desde Theodore Roosevelt, conta Henry Kissinger. Para ele, os EUA deveriam ser parte de um equilíbrio permanente. O responsável pelo Watergate dizia que teríamos um mundo mais seguro e melhor se tivermos EUA, Europa, URSS, China e Japão cada um contrabalançando o outro, num equilíbrio constante. Já em 1971, acreditava que os EUA estavam preparados para um diálogo com Pequim, relata.

– O primeiro diálogo em 20 anos.

A paz, para Richard Nixon, seria fortalecida por contínuas demonstrações de força e por uma comprovada disposição de agir globalmente. Ele defendia uma ordem mundial que associasse poder e legitimidade. A abertura com a China isolaria a URSS ou a levaria a melhorar as suas relações com os EUA. Esse era o cálculo estratégico. Não custa lembrar: Richard Nixon ainda visitaria a Europa Oriental. Na lista, Iugoslávia, de Josip Broz Tito, Polônia e Romênia.

– Cai Richard Nixon e entra Gerald Ford.

 

Nova agenda

Democrata, Jimmy Carter assume a Casa Branca. Ele consolida a relação com a China, reage à invasão do Afeganistão pela União Soviética, distancia-se das ditaduras civis e militares e cobra uma agenda de direitos humanos na América Latina, em particular do Brasil, e enfrenta desgastes com a crise com a abertura do Porto de Mariel, em Havana, Cuba, pelo ditador comunista Fidel Castro Ruz, líder da revolução de 1º de janeiro de 1959.

– Ronald Reagan era o homem apropriado e afinado para a década de 1980. Ele combinava poder e legitimidade.

Com Ronald Reagan ocorre o fim da guerra fria. Ele queria dialogar com Konstantin Chernenko e estava otimista com Mikhail Gorbatchev, que assumiu o poder em Moscou em março de 1985. Henry Kissinger lembra ainda que George Bush, pai, foi quem lidou com os destroços da guerra fria. O homem derrotou também Saddam Hussein na guerra do Golfo, Kwait. O democrata Bill Clinton derrota, nas urnas nos EUA,  George Bush. Mudança de rota.

De Bill Clinton:

– Nosso propósito primeiro deve ser o de expandir e fortalecer a comunidade mundial das democracias baseadas em economia de mercado. (…) A política americana aspiraria a um mundo de democracia vigorosas, que cooperariam umas com as  outras e viveriam em paz.

Arguto observador da cena internacional, Henry Kissinger diagnosticou que, pelo menos no Oriente Médio, o fim da guerra fria propiciou não a época do consenso democrático pela qual muitos ansiavam, mas uma nova era de confronto ideológico e militar. O ex-secretário de Estado afirma que depois de 11 de setembro, o ataque às torres gêmeas, era inevitável uma resposta americana. As guerras do Afeganistão e do Iraque.

– Os EUA criaram um programa secreto para derrubar Saddam Hussein.

Henry Kissinger é cáustico:

– O democrata Barack Obama promoveu uma estratégia de saída. Com mais ênfase na saída do que na estratégia.

 

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Serviço

livro

Título: ‘Ordem Mundial’

Autor: Henry Kissinger

Editora: Objetiva

Ano de edição: 2015

Número de páginas: 428

Avaliação: Bom

 

 

“O democrata Barack Obama promoveu uma estratégia de saída. Com mais ênfase na saída do que na estratégia.”

Varlam Chalamóv

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