Política

Manoel dos Reis: “a solução para o Brasil é o parlamentarismo”

Diário da Manhã

Publicado em 26 de janeiro de 2017 às 00:38 | Atualizado há 8 anos

O ex-prefeito de Goiânia, Manoel dos Reis e Silva, avalia, do alto de sua experiência política e da atenta observação que Goiás está se safando da crise brasileira por obra do governador Marconi Perillo que “é sério e de realizações”. Aos 91 anos e com uma lucidez invejável, atualizada com a leitura diária de jornais e acompanhamento de todos os fatos nacionais, ele opina sobre as principais questões que estão no centro dos debates e ainda oferece alternativas para a superação das dificuldades.

Médico e empresário que atuou por mais de meio século em Goiânia ele comentou efeitos e repercussões da deposição da presidente Dilma Rousseff, das dúvidas que pairam sobre o presidente Michel Temer e seu ministério e se vale de exemplos bem sucedidos do passado para a solução das crises.

Em entrevista ao Diário da Manhã Manoel dos Reis opinou sobre um regime de governo que pode flexibilizar as soluções políticas sem traumas como o impeachment da presidente Dilma e a facilidade de melhorar as representações populares nos parlamentos. Para ele o estabelecimento de um voto distrital, em que apenas candidatos identificados com os locais ou distritos terão a primazia de representar os eleitores nas instâncias legislativas. “Muitas vezes vemos um deputado eleito com votos majoritariamente da região norte e que trabalha mais para municípios da região sul, o que é um grande erro da política que precisa ser corrigido”.

Manoel dos Reis lembrou ainda de seu tempo de médico recém-formado e do surgimento de novos medicamentos que revolucionaram a terapêutica, com destaque para a sulfa e para a penicilina, que permitiram o combate a doenças com muito maior eficácia. Falou com orgulho de ter sido um dos fundadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, onde foi catedrático de Otorrinolaringologia, sua especialidade, e de todas as homenagens que recebeu dos alunos como para ser paraninfo, padrinho ou homenageado pelas turmas de formandos. “Sou um homem realizado e grato a Deus por tudo o que recebi”, finalizou ele na entrevista.

A crise nacional

Goiás está superando com maior facilidade esse período de dificuldades que o Brasil atravessa porque o governador Marconi Perillo é realizador, sério e que tem responsabilidade administrativa, além de ter um cunho bastante popular. Mas, na esfera federal eu tenho cá minhas restrições, principalmente continuo criticando setores da cultura, da economia e do ponto de vista social. Na cultura não se pensa em nada que faça realmente a promoção da cultura de maneira geral, não vejo nenhuma medida do governo federal para mudar isto. A economia está estagnada e não tem nenhuma ação que fomente o crescimento econômico do país, o que é muito preocupante, porque todos perdem com isso.

Sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff fica a dúvida sobre se isso foi realmente bom para o Brasil, porque a descontinuidade governamental sempre paralisa as ações sócio-administrativas do país por um período considerável e isso provoca grande retrocesso. E foi o que aconteceu. Agora, se havia motivos políticos, morais e sociais para o afastamento eu não tenho condições de julgar e evito fazer isto.

Quanto ao enorme número de citações do presidente Temer e de seus ministros em atos de corrupção e recebimento de propina não há dúvidas de que isto compromete a governabilidade, entretanto, encerrar esse período novamente é muito perigoso. Creio que eleição somente em 2018, após o cumprimento desse período de mandato. Mas, ele precisa traçar objetivos para dar respostas efetivas para áreas como da probidade administrativa, da educação e antecipar soluções para problemas futuros.

Solução política

Acredito que a melhor forma para encaminhar soluções para o Brasil passa por uma mudança na forma de governo e de representação legislativa para a população. Eu já defendi outras vezes e reitero que o melhor para o Brasil é um regime parlamentarista com um parlamento eleito pelo voto distrital. Isso, porque uma forma de governo parlamentar possibilita a troca de políticas com mais facilidade e menos traumática do que nesse sistema presidencialista que temos hoje.

Para a escolha dos membros do Legislativo, ou do parlamento, é preciso reformar a forma de eleição, privilegiando um voto distrital, privilegiando a relação mais próxima dos eleitos com os eleitores. Há discrepâncias visíveis, como um representante da região norte, eleito com os votos dos eleitores desses locais que atua mais em defesa da região sul onde é maior sua identificação. Isso precisa ser mudado com urgência para melhorar nossa forma de fazer política. Eleições regionais, para melhorar a legitimidade dos representantes.


Pedro Ludovico, por ter construído Goiânia já merece um lugar cativo no panteão dos grandes vultos na história”

Goiás está superando com maior facilidade esse período de dificuldades que o Brasil atravessa porque o governador Marconi Perillo é realizador, sério e que tem responsabilidade administrativa, além de ter um cunho bastante popular”

 

O que se extrai de bom dos governos militares

Havia um respeito muito grande com a coisa pública e qualquer deslize significava um problemão. A probidade administrativa era uma das mais bem guardadas medidas que os homens públicos daquele tempo prezavam. Se havia qualquer denúncia ou suspeita de malversação da coisa pública isso era minuciosamente apurado pelo Serviço Nacional de Investigações (SNI) e comprovada a culpa o responsável era punido com severidade para servir de exemplo para os demais componentes do poder para que não fizessem esses atos mais. O que eu sinto agora é exatamente esse desconhecimento de valores como o respeito à coisa pública, por parte dos eleitos, dos legisladores e de grande parte dos eleitores.

A origem

Eu nasci em Trindade, antigo Distrito de Barro Preto, que pertencia ao município de Campinas de Goiás, berço de Goiânia e que se tornou o primeiro bairro da capital. Meu pai era o coronel João Braz, líder político da cidade e que depois viria a ser partidário do interventor Pedro Ludovico Teixeira. Esse homem, Pedro Ludovico, por ter construído Goiânia já merece um lugar cativo no panteão dos grandes vultos na história.

Fui coroinha do saudoso Padre Pelágio, missionário que veio para organizar e cristianizar a romaria do Divino Pai Eterno, de Trindade. Coroinhas eram os meninos ajudantes dos padres nas celebrações religiosas. Viajava em lombo de burros pelas capelas do interior da paróquia ajudando Padre Pelágio em missas, batizados e casamentos. Tive a ventura de conviver com um homem santo que já foi beatificado e que está em avançado processo de canonização pela Igreja Católica.

Depois fui estudar em Bomfim, atual Silvânia e de lá fui para Belo Horizonte estudar medicina, onde me formei médico em 1949. Fiquei até 1952 me especializando em otorrinolaringologia e vim para Goiânia clinicar.

A profissão

Naquele tempo estavam surgindo medicamentos novos, como a sulfa, que já era um grande aliado no combate a doenças. Mas, no início da década de 1950 surgiu uma medicação foi uma verdadeira revolução: a penicilina, antibiótico que salvou inúmeras vidas.

Em Goiânia eu recebia pacientes de Goiás inteiro, do Mato Grosso, da Bahia e do Triângulo Mineiro. Era uma loucura e trabalhava até tarde da noite. Ajudei a fundar a Faculdade de Medicina de Goiás, que depois passou a pertencer à Universidade Federal de Goiás. Fui professor de otorrinolaringologia por 12 anos, cargo chamado catedrático naquela época, e tive inúmeras satisfações. Fui paraninfo, patrono e homenageado por formandos por inúmeras vezes nesse período, o que me deu muitas alegrias.

Hoje sou um homem realizado, graças a Deus, que vivi muito e intensamente. Sou grato a tudo o que Deus me deu. Compensou viver.

 

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