Três médicos infectologistas se reuniram no "Conversa com Bial", na madrugada desta sexta-feira (19), para discutir sobre os ataques ocasionados por posicionamentos políticos radicais contra profissionais de saúde. Os médicos alegaram que sofrem ameaças de pacientes por não receitarem cloroquina como método contra a Covid-19.
De acordo com o Dr. João Assis, que trabalha na linha de frente em Santarém, oeste do Pará, os médicos têm sofrido pressão dos pacientes assegurando que vão processá-los. "Como se houvesse uma obrigação legal de um médico prescrever um remédio que ele não vê evidências científicas o suficiente para fazer a prescrição", relatou.
Os médicos se posicionaram por meio de uma carta aberta que foi assinada pelo ministro interino da Saúde. Portanto, o documento instaurou uma discordância entre outros médicos que acreditam na eficácia do tratamento com cloroquina. Segundo o infectologista, alguns médicos sentiram que a carta interferia no trabalho deles.
"Esses médicos emitiram uma outra carta, inclusive com assinatura do prefeito da cidade, achando que havia motivação política da nossa parte, como se estivéssemos no dia a dia ali, trabalhando de domingo a domingo, vendo pessoas morrendo, e não queríamos prescrever um medicamento apenas porque queremos derrubar o presidente. Isso carece de qualquer lógica racional", declarou o Dr. João.
Insistência na cloroquina
O Ministério da Saúde ampliou a recomendação da cloroquina para tratar de crianças e gestantes com a covid-19. Também por se opor ao uso amplo do medicamento, dois ministros da Saúde já deixaram o governo. Já os Estados Unidos retiraram a autorização de emergência de tratamento com cloroquina e hidroxicloroquina.
O infectologista reconhecido em todo o mundo, Dr. Mauro Schechter, ficou insatisfeito com a persistência do governo em não seguir a ciência. Segundo ele, medicina não se faz por palpites e discursos presidenciais. "Os países que se deram melhores na pandemia até o momento foram aqueles que tiveram uma liderança que respeitou a ciência", alegou.
Desrespeito a pacientes, médicos e outros profissionais de saúde
O presidente Jair Bolsonaro incentivou, durante uma transmissão ao vivo realizada na última semana, a seguidores entrarem em hospitais para filmar leitos de UTI e mostrar se eles estão ocupados. O Dr. Mauro alegou que essa situação é revoltante. "Me faltam palavras para descrever esse desrespeito aos profissionais de saúde, às pessoas que estão doentes e aos familiares dessas pessoas.", declarou.
O Dr. Clóvis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirmou que há pessoas que pensa que o profissional de saúde pode transmitir o vírus só pelo traje, ou por frequentar o mesmo ambiente trabalho. "Eu acredito que, quando conseguirmos informar melhor a população, essa minoria voltará a aplaudir os profissionais de saúde".
Segundo o Dr. João, a agressão maior é o Brasil ter entrado na pandemia por último, com tempo de classificar diversas experiências, e está contando milhares de pacientes infectados. Estes que estão falecendo por abandono à ciência, ou por conta de política e negacionismo dos outros. "Até quando vamos insistir nesse caminho e quantas pessoas ainda vão morrer até que a gente tome o rumo correto?", questionou.
*Com informações do UOL