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Agir mesmo sem estar motivado pode ser fundamental no tratamento contra a depressão

O isolamento social e outras medidas de emergência levadas a cabo pela população em decorrência da pandemia de Covid-19, somadas ao temor gerado por uma situação sanitária e social inédita, com alto número de contágios e óbitos, teve um reflexo imediato no país: o aumento dos casos de transtornos mentais na sociedade.

Estudo realizado pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) entre março e abril de 2020, com 1.460 brasileiros, indicou que casos de depressão praticamente dobraram entre os entrevistados, enquanto as ocorrências de ansiedade e estresse tiveram um aumento de 80%, nesse período.

De acordo com dados da OMS de 2017, o número de pessoas afetadas pela depressão chega a 322 milhões em todo o mundo. Somente no Brasil, são cerca de 5,8 milhões de pessoas com o transtorno, que segundo a entidade internacional, deve se tornar, até 2030, a doença mais comum do mundo, à frente de outros problemas de saúde como câncer e doenças cardíacas.

Gatilhos para o auxílio no tratamento do transtorno mental

As alterações comportamentais desencadeadas pelo transtorno depressivo, de acordo com o médico psiquiatra Cyro Masci, podem ser revertidas como uma peça importante no auxílio ao tratamento da enfermidade.

“A motivação para realizar atividades do dia a dia - mesmo aquelas que eram as mais prazerosas - é afetada com o acometimento da depressão. Mas encontrar maneiras para se motivar é algo fundamental para a reversão deste quadro”, diz o especialista, ressaltando que, assim, é possível “superar o isolamento, aumentar o desejo de encarar a vida e de enfrentar os problemas do dia a dia sem cair na armadilha da desesperança”.

Segundo Masci, algumas mudanças no comportamento cotidiano podem favorecer o aumento da motivação, auxiliando o tratamento. A primeira delas é justamente não esperar estar motivado para agir. “A crença de que ‘primeiro é preciso se sentir motivado para fazer alguma coisa’ é um dos mitos que contribuem para manter a depressão”, diz ele

A ação, de acordo com o médico, deve vir antes da motivação, e não o contrário. “Aja primeiro, que o ânimo pode nascer e ir aumentando”, orienta Masci, ressaltando que, para isso, a lembrança de atividades realizadas no passado pode ser de grande valia.

“Anote numa lista tudo que você fazia antes de estar deprimido. Essas são atividades que já são familiares e que você pode e deve retomar. Insisto mais uma vez: é agindo que a motivação aparece, e não o contrário!”, aconselha o psiquiatra

A última dica de Masci é: comemore cada passo. Para ele, “pessoas que sofrem de depressão têm dificuldade em celebrar suas vitórias, seja por comparar com sucessos maiores no passado, seja por um perfeccionismo que não admite vitórias parciais”. Sendo assim, “a falta de estímulos no sistema de recompensas do cérebro pode reduzir ainda mais a motivação, que é o oposto do que se deseja no tratamento'.

Busca por motivação deve ser acompanhada por tratamento especializado

O especialista diz que “essas mudanças nas crenças e no comportamento são primordiais para gerar motivação e interesse”, mas pontua que “ao mesmo tempo, é aconselhável conversar com o médico que acompanha o tratamento”

A recomendação é especialmente relevante no contexto nacional, onde, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais da metade (52%) dos brasileiros que afirmaram ter diagnóstico de depressão não faziam uso de medicação.

“Um dos principais transmissores químicos do cérebro envolvidos na motivação é a dopamina, e várias medicações podem favorecer o funcionamento saudável do cérebro, promovendo mudanças benéficas que facilitam o retorno da motivação, do interesse na vida, na autoestima, e no bem-estar”, finaliza o psiquiatra.

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