Os profissionais das equipes de saúde que atuam nas unidades de terapia intensiva (UTIs) do Hospital Estadual de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (Hugo) receberam nesta semana a visita de psicólogos para tirar dúvidas sobre o atendimento e falar sobre desafios na rotina hospitalar.
Grupos de residentes em psicologia hospitalar do Hugo foram às UTIs de quarta, 25, a sexta-feira, 27, para desfazer mitos e responder perguntas a respeito da atuação de um psicólogo numa unidade que trata pacientes de urgência e emergência.
No primeiro dia de ações em alusão ao Dia do Psicólogo, celebrado no dia 27 de agosto, as residentes em psicologia hospitalar Daniele Cristina, Laura Ferreira e Thays Fortunato visitaram três UTIs do Hugo. Na UTI 1, as psicólogas se reuniram com os profissionais de diferentes áreas da saúde que tratam pacientes na ala de terapia intensiva para falar sobre mitos e verdades a respeito da psicologia no leito de hospital.
Quem cuida do paciente e lida com familiares e acompanhantes de pessoas em tratamento de saúde também precisa se cuidar, destacam as psicólogas. Thays Fortunato fez questão de destacar a importância do tripé da psicologia no ambiente hospitalar, que envolve o paciente, a família e o profissional. Em uma das atividades, a psicóloga pergunta à equipe da UTI: “O trabalho do psicólogo é fácil? Ele só conversa?”. O que, claro, é um mito.
Desenvolvimento da escuta
Com método e capacitação, o psicólogo desenvolve a escuta para lidar profissionalmente com as emoções, frustrações e angústias da pessoa internada, de quem a acompanha e das necessidades da equipe responsável pelo tratamento daquele paciente.
“Como o Hugo é um hospital de urgência e emergência, os traumas que acometem a pessoa que chega aqui são inesperados, repentinos. É preciso fazer o manejo do sofrimento e das angústias de quem está internado”, explica Laura Ferreira.
A psicóloga Daniele Cristina lembra que, além do paciente, a família está no Hugo com a pessoa que está internada precisa de suporte profissional para dar o suporte necessário a quem passa por um tratamento de saúde mais grave. “O atendimento ao profissional do hospital é feito por demanda da equipe de cada ala do Hugo e observa as necessidades dos profissionais.”
Para Thays, nada melhor para comemorar o Dia do Psicólogo do que repassar de forma científica quais são as atribuições do psicólogo hospitalar aos demais profissionais de saúde que atuam nas equipes multidisciplinares diretamente com os pacientes.
Esclarecer a atuação
“Somos, por vezes, chamados para trabalhar demandas que não dizem respeito à psicologia, mas imagino que por falta de clareza sobre qual é o papel do psicólogo em um hospital. Por isso a importância desses momentos educativos com a equipe, para que possamos compreender a percepção dos profissionais acerca das especificidades da nossa atuação como psicólogos”, avalia Thays.
As visitas têm horário definido, mas se adequam à realidade e ao momento de cada ala do Hugo. Na primeira tentativa, os profissionais que estavam de plantão na UTI 2 não tinham como parar o atendimento dos pacientes para conversar com as psicólogas. Mas no dia seguinte, na manhã de quinta-feira, 26, as três foram recebidas em um momento um pouco mais calmo e conseguiram esclarecer a atuação da psicologia hospitalar e oferecer cuidado.
Thays enfatiza que os integrantes das equipes de saúde do hospital são orientados a procurar o ambulatório de psicologia do Hugo para buscar atendimento psicológico ao colaborador. De acordo com a psicóloga, o trabalho é aprimorado constantemente para que o acompanhamento seja cada vez mais amplo e acessível. “Reforçamos a importância de cuidarmos de quem cuida.”
Perguntas sorteadas
Na tarde de sexta-feira, 27, os residentes Daniel Caldas, Isadora Lobo e Karllos Hoberty Alves se reuniram com parte da equipe que atua na ala de tratamento dos pacientes com Covid-19 no Hugo. “O que faz um psicólogo hospitalar?” é o nome da dinâmica feita com os colaboradores. Com sorteio de perguntas, cada participante respondia o que achava ser atribuição ou não do psicólogo na unidade de saúde.
“Um atendimento muitas vezes é um apagar de incêndio”, afirma Daniel. O psicólogo lembra que o paciente tem problemas que extrapolam aquele momento em que recebe tratamento no Hugo, é uma pessoa que carrega um histórico ao chegar àquela situação de enfermidade. “Muitas questões não são possíveis de resolver no momento do atendimento psicológico hospitalar”, observa Isadora.
Os residentes explicaram aos profissionais que atuam na enfermaria e na UTI de Covid-19 que o psicólogo precisa manter um vínculo terapêutico com paciente, mas é necessário existir limites nessa relação. Karllos destaca que o papel do psicólogo é esclarecer, não convencer o paciente, o familiar ou um membro da equipe de saúde do Hugo. “É preciso sempre respeitar a liberdade do paciente”, afirma Isadora.
Experiência
Entre os profissionais da ala de Covid-19 que participaram da atividade com os psicólogos, a assistente social Solange Generosa, que trabalha há dez anos no Hugo, enalteceu a iniciativa do ambulatório psicológico da unidade. “A ação foi extremamente importante. Ajudou para podermos desmistificar certas opiniões que tínhamos sobre trabalhar com a psicologia. Tudo que foi dito são coisas que estão muito presentes”, afirma Solange.
Para a assistente social, momentos como esse realizado pelos residentes da psicologia hospitalar do Hugo servem para esclarecer todas as dúvidas que a equipe multidisciplinar possa vir a ter. “Quando alguém diz ‘ele está choroso, está nervoso, chamem a psicologia’. Não é bem isso. A psicologia tem desenvolvido um trabalho excepcional no hospital, tem contribuído muito. É de suma importância para o nosso trabalho em equipe”, pontua a assistente social.
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