Semaglutida é uma substância que foi desenvolvida inicialmente para controlar a diabetes tipo 2, mas que, tornou-se uma grande promessa. O medicamento foi aprovado em junho nos Estados Unidos, mas, no Brasil, só pode ser usada em modo offlabel ( com o aval médico, mas fora da indicação prevista em bula).
O medicamento é aplicado com a ajuda de uma "caneta", aplicador que também é usado para injetar outros tipos de medicamentos.
Alexandre Hohl, presidente do departamento de endocrinologia feminina, andrologia e transgeneridade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), diz que a "maior pandemia do planeta está relacionada com o peso".
"Antes da pandemia de Covid-19, a gente já tinha 2,4 bilhões de pessoas com sobrepeso ou obesidade. Então, esse é um número avassalador. Acabaram de sair os números de diabetes entre 2019 e 2021: aumentou em 30% no mundo", afirma.
O que é essa substância?
A semaglutida é um análogo ao GLP-1, hormônio que temos no intestino: toda vez que uma pessoa se alimenta, ele sinaliza para o cérebro que é hora de reduzir a fome, retardar o esvaziamento do estômago e aumentar a produção de insulina, que promove a absorção da glicose nas células.
"O nosso hormônio dura 10 minutos, já a semaglutida dura uma semana. Aquela sensação de 'comi e perdi a minha fome' é dada pelo GLP-1 e a semaglutida é um medicamento que imita essa ação. O paciente tem a sensação de que está sem fome. E, se ele come, para de comer porque o estômago enche rápido", explica João Eduardo Salles, endocrinologista e coordenador da Disciplina de Endocrinologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Como ela é aplicada?
A dose para o tratamento de obesidade é de 2,4 mg por semana, segundo as evidências científicas publicadas, mas precisa ser acordada junto ao médico para evitar efeitos colaterais mais graves. O paciente deve comprar a "caneta" para a injeção.
Porém, ainda não há um produto com a exata dose a venda no Brasil, já que o medicamento é aprovado oficialmente para o tratamento da diabetes, com uma quantidade diferenciada.
Para quem é recomendado?
Por enquanto, o uso offlabel é feito para pacientes obesos, com Índice de Massa Corporal acima de 30, e, como é previsto em bula, para tratar a diabetes.
Já em caso de sobrepeso, segundo Salles, o tratamento poderá ser feito se a pessoa já estiver com efeitos negativos na saúde, como apneia do sono, mudança da pressão arterial, entre outros, incluindo a própria diabetes.
Quais são os efeitos colaterais?
A semaglutida pode causar efeitos colaterais no sistema gastrointestinal. O principal deles é a náusea. Há, ainda, de acordo com a FDA, agência reguladora dos Estados Unidos, chance de:
- Diarreia
- Vômito
- Prisão de ventre
- Dor abdominal
- Dor de cabeça
- Fadiga
- Dispepsia (indigestão)
- Tontura
- Distensão abdominal
- Eructação (arroto)
- Hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue) em pacientes com diabetes tipo 2
- Flatulência (acúmulo de gases)
- Gastroenterite (uma infecção intestinal)
- Doença do refluxo gastresofágico (um tipo de distúrbio digestivo)
Salles diz que a principal forma de reduzir o desenvolvimento de efeitos colaterais é a conversa e o planejamento junto ao médico.
"Sempre bom ressaltar que é um medicamento para a diabetes. O uso offlabel precisa ser acordado entre médico e paciente. Ele precisa saber se o médico se sente seguro para fazer o tratamento, precisa-se discutir com o paciente se o benefício ou o risco do paciente valem a pena", afirmou.
O que dizem os estudos?
Os pesquisadores prescreveram 2,4 mg por semana para um grupo e, para o outro, o placebo. A partir de 4 semanas, os pacientes que estavam recebendo o tratamento começaram a emagrecer. A perda média foi de 15% do peso corporal ao final do ensaio.
"Este estudo é muito bonito, muito bem feito. Ele mostra uma perda de peso fantástica. É uma promessa para o tratamento da obesidade muito importante. É o principal medicamento que a gente pode ter nos próximos tempos", disse Salles.
Quem não pode usar?
Nos Estados Unidos, o medicamento possui uma advertência sobre o potencial risco de desenvolvimento de câncer na tireoide, mesmo que os casos tenham ocorrido de forma rara. Então ele deve ser evitado em pessoas com histórico familiar da doença.
O mesmo vale para pacientes com histórico de pancreatite, problemas na vesícula biliar, lesão renal aguda ou retinopatia diabética (lesão na retina do olho).
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