Evolução de novos tratamentos contra o HIV e preconceitos enfrentados
Fernando Boeira Keller
Publicado em 30 de novembro de 2021 às 20:34 | Atualizado há 4 meses
No início da década de 1980, o mundo se viu diante de um vírus que, nos próximos anos, viria a adoecer milhões de pessoas. A princípio, cientistas e médicos buscavam saber do que se tratava esse vírus e como era sua transmissão, bem como seu comportamento no corpo dos infectados. Devido à baixa imunidade pós infecção, a doença foi nomeada como Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).
Estudos feitos nos Estados Unidos na época identificaram que a maior parte dos pacientes eram do sexo masculino, homossexuais e moradores de São Francisco e Nova York. Tal fato elevou ainda mais o preconceito contra a comunidade LGBTQIA+ na época.
Na década de 1980, a AIDS se tornou epidemia e gerou pânico e preconceito. A doença se comportava de maneira agressiva no corpo, deixando o paciente extremamente doente. As pessoas tinham receio até mesmo de se aproximar de um portador da doença por medo de se contaminar, dada a falta de informação e entendimento do assunto.
Os homossexuais eram perseguidos por preconceituosos, que denominavam a AIDS como “doença gay”, um termo extremamente equivocado, visto que ao longo dos anos, homens e mulheres heterossexuais também apresentavam sintomas e testavam positivo para a doença.
Na mesma época em que a doença era transmitida, descobriu-se o agente etimológico, chamado de vírus da imunodeficiência humana, o HIV, que causa a AIDS.
Foi por volta de 1995 que os remédios mais eficazes para o tratamento chegaram ao sistema de saúde, o que diminuiu a gravidade da doença, permitindo que o indivíduo não fosse mais tratado mais como paciente, e sim como um cidadão saudável, tendo maior autonomia e controle sobre o HIV.
Hoje, graças aos avanços das pesquisas sobre a AIDS, as pessoas que convivem com a doença podem ter uma vida normal com os antirretrovirais, sem sofrer com as consequências que, décadas atrás, mataram pessoas públicas como Cazuza, Freddie Mercury e Renato Russo.
Matheus Bueno, 25 anos, convive com o HIV há quatro anos e conta como precisou ter cautela e paciência para lidar com o diagnóstico.
“Hoje em dia , lido com muita tranquilidade. Mas nem sempre foi assim, foi um processo um tanto desgastante , tanto fisicamente, como mentalmente. Pois não é fácil receber esse diagnostico , mesmo sabendo que a medicina esteja tão avançada hoje em dia. O peso de você carregar esse fardo no inicio do diagnostico não é nada fácil. Pois vivemos numa sociedade ainda preconceituosa, sem informação , sem conhecimento, uma geração totalmente ignorante”, relata.

Ele relata sobre o preconceito da sociedade, que até hoje se mostra resistente para entender do que de fato se trata o HIV.
“Muitas vezes esse preconceito vem das pessoas que a gente mais ama, seja amigos, namorado/esposo ou até mesmo nossa família. A partir daí vem o medo de ser julgado, de ficar sozinho pelo resto da vida e de ser rejeitado, além da depressão, por não se sentir bem consigo mesmo e não ter ninguém para desabafar, e a frustração de ter que tomar uma medicação pelo resto da vida, até o momento sem ter um vacina”, lamenta.
Hoje Matheus possui uma conta no Instagram, onde relata sobre vivências e tira dúvidas sobre infecções sexualmente transmissíveis.
“Hoje lido muito bem com tudo isso, me aceitei da forma que sou , independente da minha situação sorológica. Um diagnóstico não define a pessoa que sou. Tomo minhas medicações todos dos dias, sem falta”, conclui.
Avanço no tratamento
Enquanto cientistas estudam uma vacina eficaz contra o vírus, outros estudos sugerem um grande avanço para o tratamento.
Na segunda-feira, 29, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), aprovou um medicamento que combina duas substâncias diferentes em um comprimido. Dovato, nome do remédio, pode simplificar o tratamento e também a adesão dos pacientes.
“A aprovação representa um avanço no tratamento das pessoas portadoras do vírus que causa a AIDS, já que reúne em uma dose única dois antirretrovirais que não estavam disponíveis em um só comprimido”, afirmou a agência reguladora em nota.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil é o país com maior cobertura de tratamento para HIV/AIDS, com mais de 64% das pessoas que vivem com HIV recebendo tratamento antirretroviral.
É necessária a conscientização da população em geral sobre o HIV, pois não é um vírus exclusivo da comunidade LGBTQIA+, ele atinge toda a sociedade, não sendo, portanto, o gênero ou a sexualidade do indivíduo que determina se ela possui o vírus ou não.
O que determina são comportamentos de risco, como sexo sem preservativo, compartilhamento de agulhas para uso de entorpecentes e perinatal, abrangendo a transmissão da mãe para o filho durante a gestação, parto ou por aleitamento materno.