Ser uma pessoa vivendo com HIV não é tarefa fácil. Mesmo com o avanço da ciência e tecnologia no tocante aos tratamentos disponíveis no mercado, milhares de pessoas que convivem com a doença são diariamente vítimas de situações de preconceito e propagação de estigmas.
Estudos realizados pelo UNAIDS (órgão ligado a Organização das Nações Unidas) têm revelado que a discriminação é uma das grandes responsáveis por prejudicar o enfrentamento a epidemia de HIV. Estas ações provocariam medo, vergonha e receio de procurar meios seguros de se informar, se prevenir.
No caso de pessoas que já vivem com o HIV, o preconceito e o estigma instalado em nossa sociedade é também um grande vilão, capaz de fazer com que sejam adotados comportamentos não seguros, pautados no medo de haver suspeitas sobre seu estado sorológico. Resistência ao uso de preservativo e a realização de testes regulares são alguns exemplos.
Fato é que, o preconceito é oriundo de diversas áreas da vida, e o ambiente e mercado de trabalho não fogem à esta triste realidade.
A Lei 14.289, sancionada em outubro de 2022, apresenta medidas para permitir que pessoas vivendo com HIV, hepatites crônicas, tuberculose e hanseníase tenha garantia do sigilo sobre sua condição no âmbito dos serviços de saúde, locais de ensino, locais de trabalho, administração pública, mídia escrita e audiovisual, processos judiciais e também na segurança pública. No entanto o medo de sofrer algum tipo de violência desencoraja e impede que estas pessoas possam desfrutar de plena cidadania.
De acordo com Augusto Menna, 46, Mestre em História Social e Coordenador do Coletivo Viveração, a proteção legal não é o suficiente para dar solução ao problema.
Sim, é fato que há proteção legal, porém entre o ideal da lei e a prática, há uma diferença enorme. De acordo com a pesquisa ‘Índice de Estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/AIDS – Brasil’, realizada pelo Unaids em 2019, mais de 30% dos entrevistados relataram, dificuldades momentâneas ou frequentes para atender às suas necessidades básicas de alimentação, moradia ou vestuário. Eu mesmo já fui demitido em razão da minha sorologia positiva para o HIV” Augusto Menna, 46, Mestre em História Social
O desconhecimento de muitos, seria um agravante para evolução do estigma, reforça Menna.
Augusto argumenta ainda, que, a educação sem tabus pode ser grande aliada:
Precisamos levar informação correta e cientifica para as pessoas, e principalmente, precisamos falar de sexualidade de forma mais descontraída e sem tabus, não há como falar de prevenção, cuidado e autocuidado em matéria de HIV e outras IST’s sem falar de afeto e sexualidade. A escola precisa abordar a sexualidade, a afetividade e a prevenção, considerando em que vivemos em um mundo transformado pela revolução tecnocomunicacional.” Augusto Menna
O boletim epidemiológico
da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde estima que
só no Brasil, mais de um milhão de pessoas vivam com HIV. Em 2022 foram registrados
16,7 mil casos da infecção.