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Tik Tok foi a rede social mais utilizada por crianças e adolescentes em 2021
A popularização das redes sociais tornou o ambiente virtual um espaço para além da diversão e do entretenimento. O Instagram e o Tik Tok são ferramentas importantes de propagação de informações e conteúdos, além de ser um meio de divulgar serviços e atrair potenciais clientes por profissionais de diversas áreas. No entanto, os vídeos curtos e chamativos não contextualizam temas sérios, como a saúde pública.
Transtornos mentais podem ser diagnosticados em poucos segundos? Vídeos rápidos e que prometem realizar o diagnóstico de doenças como depressão, ansiedade, borderline e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) viralizam nas redes e ganham cada vez mais espaço.
Os vídeos normalmente seguem o mesmo padrão: alguém mencionando uma lista de possíveis sintomas. Se o usuário se identificar com determinada quantidade, o diagnóstico está fechado. Essas informações superficiais, podem acarretar problemas como a automedicação e a banalização de transtornos psicológicos e patologias.
A psiquiatra Lorena Bochenek explica que ''com acesso à informação as pessoas interpretam na medida de suas possibilidades. Informação não é o mesmo que conhecimento. É preciso recorrer à um saber médico, caso contrário, o preço que se paga é transformar sentimentos em doenças."
Venda de remédios para dormir e antidepressivos teve aumento de mais de 30% entre 2019 e 2022
Conforme dados do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos, o consumo de remédios para ansiedade cresceu 10% entre 2019 e 2022; o de sedativos, usados para dormir, aumentou 33%; e o de antidepressivos saltou 34%.
A psiquiatra também alerta para os riscos do uso excessivo de medicamentos para ansiedade, antidepressivos e sedativos sem prescrição ou acompanhamento.
"A pessoa pode tornar-se dependente da medicação, utilizar doses erradas sobrecarregando órgãos como coração rim, fígado. Aumento do peso. Descompensar outras doenças como glaucoma, arritmia, doença da tireoide. Esses são alguns dos inúmeros riscos de uma falta de prescrição e acompanhamento médico."
Lorena contou que é comum receber pacientes que buscam apenas por um tratamento. "Lembro muito bem de um paciente que relatou que o diagnóstico ele ja tinha. Quando discordei, ele saiu da consulta e rasgou a receita e minhas orientações, e disse que iria procurar outro medico que concordasse com os testes que ele fez na internet."
A psicoterapeuta e professora universitária Eloise Barbosa explicou como funcionam as questões éticas da profissão e as etapas que antecedem um diagnóstico definitivo. Ela também esclareceu que os tratametos são individuais por diversos motivos, dessa forma, o que funciona para um paciente não necessariamente irá atender as demandas de outro.
"A primeira grande questão é avaliar a demanda psicoemocional que aquele paciente traz, depois definir quais são as expectativas para aquele tratamento e então definir as técnicas que serão utilizadas."
Uma pesquisa feita pela TIC Kids Online Brasil, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e divulgada em 2022 apontou que 88% das crianças e adolescentes entre nove e 17 anos que usam a internet no Brasil têm ao menos um perfil nas redes sociais. Conforme os dados da pesquisa:
Crianças de 9 e 10 anos
39% preferem o TikTok
12% preferem o Instagram
4% preferem o Facebook
Crianças de 11 e 12 anos
48% preferem o TikTok
22% preferem o Instagram
8% preferem o Facebook
Adolescentes de 13 e 14 anos
37% preferem o TikTok
35% preferem o Instagram
12% preferem o Facebook
Adolescentes de 15 a 17 anos
21% preferem o TikTok
52% preferem o Instagram
17% preferem o Facebook
Os dados revelam que um grande número de jovens em processo de formação de identidade e que procuram respostas para as incertezas da vida possuem acesso à vídeos que oferecem soluções e diagnósticos para doenças sérias e complexas de forma simples e superficial.
"Acho que tanto a família como a mídia deveriam estar mais preocupadas com uma questão educacional", afirmou Eloise, que também pontuou alguns fatores que influenciam o autodiagnóstico e a automedicação "questões sociais, culturais e uma dificuldade de acesso aos consultórios psicológicos e às políticas públicas".
"É necessário ter mais momentos educacionais, onde profissionais capacitados possam informar de forma adequada o que as pessoas têm que fazer para ter uma vida psicológica saudável. Hoje uma das maiores demandas que a gente tem é que todos tenhamos uma saúde psicoemocional favorável", reforçou Eloise.
