A pandemia da covid-19 varreu o mundo, deixando em seu rastro não apenas consequências físicas, mas também profundas marcas na saúde mental da população global. Com base em diversos estudos e relatos, fica claro que os desafios emocionais e psicológicos associados a esse período de incerteza e isolamento estão afetando pessoas de todas as idades e profissões. Para entender melhor a dimensão dessa crise e descobrir estratégias para enfrentá-la, o Diário da Manhã conversou com a psicóloga Lauren Rosa Lima, formada pela UFMG.
Impacto global na saúde mental
A pandemia da covid-19 trouxe consigo uma crise de saúde mental global. "A crise de saúde mental é considerada a 4ª onda de consequências da pandemia. A primeira é a sobrecarga imediata dos serviços de saúde, a segunda é a redução dos recursos para o cuidado de outros quadros agudos e a terceira é a interrupção dos cuidados aos quadros crônicos", diz Lauren Lima".
Um grupo que enfrenta desafios únicos são os profissionais da imprensa. Eles têm a árdua tarefa de lidar com notícias frequentemente desanimadoras e trabalhar em um ambiente hostil. Lauren Lima destaca que "seja por conta da drástica redução da socialização, impacto dos inúmeros lutos, incertezas no trabalho ou dúvidas quanto ao futuro, observamos um aumento significativo dos casos principalmente de ansiedade e depressão".
Jovens: Vulnerabilidade acentuada
Os jovens são outra população que está particularmente vulnerável. A psicóloga ressalta que "os jovens constituem a parcela mais afetada pela crise de saúde mental decorrente da pandemia." Isso se deve à sensibilidade específica desse período da vida em relação ao estresse. A interrupção abrupta da socialização e a incerteza em relação ao futuro contribuíram para um aumento preocupante de comportamentos suicidas e automutilação nesse grupo.
“A pandemia impactou enormemente a forma de interação social dos jovens e sua perspectiva de futuro. No momento de vida em que os jovens estariam criando maior autonomia em relação ao núcleo familiar, vivenciaram a experiência de confinamento. Com a redução das possibilidades de vazão às frustrações e angústias existenciais, os jovens voltaram seus movimentos ao próprio corpo, seja nos formatos nocivos como autoagressão e aumento do uso de álcool e outras drogas, seja com mudanças corporais saudáveis como cortes e cores de cabelo diferenciados, piercings ou tatuagens” Lauren Rosa Lima
Realocação de recursos e busca de ajuda profissional
A disponibilidade de serviços de saúde mental tem sido afetada pela realocação de recursos para o combate à pandemia. No entanto, Lauren observa que "muitos países estão reconhecendo a importância crucial da saúde mental e incluindo planos de apoio psicossocial em suas estratégias de resposta à covid-19."
Diante desse cenário desafiador, a psicóloga enfatiza a importância de buscar ajuda profissional. Além disso, ela destaca algumas estratégias que os indivíduos podem adotar para cuidar de sua saúde mental, como a tríade fundamental de alimentação saudável, atividade física ao ar livre e sono adequado. Ela também incentiva a busca por atividades que proporcionem alegria e conexão social.
Em tempos difíceis, é fundamental lembrar que a situação atual é temporária. "É importante aceitar o momento presente, reconhecer o esforço dos profissionais de saúde e outros serviços essenciais e lembrar que a situação vai passar", enfatiza Lauren.
No entanto, a preocupação com a saúde mental leva muitos países a incluir saúde mental e apoio psicossocial em seus planos de resposta a pandemia. A situação tem sido tão preocupante que a Comissão Nacional do Ministério Público (CNMP) realizou um evento para discutir os desafios pós-pandemia da COVID-19 para a saúde menta.
A profissional ainda destaca sobre a rede pública para psicossocial ainda é insuficiente. "A rede pública de atenção psicossocial já era insuficiente para atendimento da demanda antes mesmo do aumento da demanda pós-pandemia. No mês de maio desse ano, o Ministério da Saúde retoma o incentivo a equipes multidisciplinares, possibilitando que os municípios ofereçam atendimento psicológico, dentre outras especialidades, na Atenção Primária à Saúde".
O pós-pandemia desencadeou uma crise global de saúde mental, afetando pessoas de todas as esferas da vida. Profissionais da imprensa e jovens estão enfrentando desafios únicos, mas estratégias de autocuidado e a busca por ajuda profissional podem ser caminhos cruciais para superar essa crise.