Em um mundo em constante evolução, a medicina tem desempenhado um papel crucial na preservação da saúde e bem-estar das pessoas. Entre as várias formas de prevenção de doenças, as vacinas têm se mostrado uma das medidas mais eficazes. Entre elas, a vacina Bacillus Calmette-Guérin (BCG) ganha destaque por seu impacto significativo na proteção das crianças contra uma das doenças mais antigas e mortais da humanidade: a tuberculose.
A tuberculose, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, é uma infecção respiratória que afeta principalmente os pulmões, mas também pode afetar outros órgãos. A doença é altamente contagiosa e pode levar a complicações graves e mesmo à morte se não for tratada até a transferência. Embora seja um problema global, as crianças são particularmente diferenciadas aos efeitos negativos da tuberculose.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO), a meta de cobertura da vacina BCG é de 90%. No entanto, em 2021, a cobertura coberta apenas 74,21%, subindo para 79,59% em 2022 e, em seguida, caindo novamente para 71,1% em 2023. Já a vacina Tríplice Viral D1 imunizou 79,53% da população em 2021, 82,34% em 2022 e 72,45% neste ano, sendo que a meta para essa vacina é de 95%. De acordo com a SES, essa queda vem sendo observada desde 2016.
De acordo com a docente de biomedicina da Estácio e doutora em imunologia, Adeliane Castro da Costa, apesar de Goiás ser o segundo estado com menor número de casos no Brasil, o estado não apresentou redução nos registros, com cerca de 800 casos notificados, sendo 500 deles classificados como casos pulmonares primários. De acordo com dados do Sinan, Goiânia registra uma taxa de aproximadamente 16 casos de tuberculose por cada 100 mil habitantes.
A vacinação com BCG é recomendada principalmente para crianças, pois elas têm maior probabilidade de desenvolver formas graves de tuberculose e são mais resistentes a complicações da infecção. A imunização precoce oferece proteção contra formas graves de tuberculose, como a meningite tuberculosa, que pode levar a danos permanentes e até mesmo à morte.
O Diário da Manhã entrevistou a doutora em enfermagem e coordenadora na UniEvangélica, Elisângela Boeira, e Adeliane Castro da Costa para tirar as dúvidas sobre a vacina BCG.
DM: Qual é a indicação principal da vacina BCG e por que é recomendada para crianças?
Elisângela: A principal indicação da vacina BCG é a prevenção da tuberculose. A vacina BCG é recomendada para crianças porque elas são mais testadas à infecção por tuberculose e têm um risco maior de desenvolver a forma mais grave da doença. A vacina é indicada de rotina a partir do nascimento até antes de a criança completar 5 anos de idade. Além disso, é indicada a pessoas de qualquer idade que convivem com portadores de hanseníase (lepra).
DM: Além da prevenção da tuberculose, existem outros benefícios conhecidos da vacina BCG? Quais são eles?
Elisângela: A vacina BCG não oferece eficácia de 100% na prevenção da tuberculose pulmonar, mas sua aplicação em massa permite a prevenção de formas graves da doença, como a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar (forma disseminada).
DM: Existe algum grupo de crianças que não deve receber a vacina BCG? Quais são as contraindicações?
Elisângela: Pessoas imunodeprimidas e recém-nascidos de mães que usaram medicamentos que possam causar imunodepressão do feto durante a gestação. Além de bebês prematuros, até que atinjam 2 kg de peso.
DM: A vacina BCG tem uma eficácia de longo prazo na prevenção da tuberculose? São necessárias doses de reforço?
Elisângela: A vacina é de dose única, a revacinação de crianças que não desenvolveram cicatriz deixou de ser recomendada pelo Ministério da Saúde em fevereiro de 2019. Ainda, no Brasil, embora a incidência de tuberculose pulmonar venha aumentando, quase não são mais registradas as formas graves da doença. A vacina protege a população somente com a dose única.
DM: Em termos de saúde pública, quais são os efeitos da vacina BCG e por que ela é considerada uma das vacinas mais importantes do programa de imunização infantil?
Adeliane: Em termos de saúde pública, a vacina BCG é considerada a vacina viva mais segura do mundo, pois é uma vacina viva atenuada, apesar disso ela é incapaz de gerar danos ao hospedeiro, por isso é considerada segura, podendo ser utilizada em crianças imunocompetentes. Após a imunização, a vacina BCG induz uma resposta de memória duradoura, favorecendo a proteção contra o desenvolvimento de Tuberculose miliar e meningite tuberculosa, as formas mais graves de tuberculose na infância.
DM: Qual é a importância da vacina BCG em crianças pequenas e como ela pode beneficiar sua saúde?
Adeliane: Esta vacina também induz proteção cruzada, favorecendo a indução de resposta imune contra outros tipos de microrganismos, além de Mycobacterium tuberculosis. O tipo de resposta imune induzida pela vacina BCG promove uma proteção contra diversos tipos de microrganismos (resposta imune cruzada), como bactérias, fungos e até mesmo infecções virais.
Para os responsáveis que não optam por vacinarem suas crianças, Dra. Elisângela tem um recado importante: "A BCG é vacina integrante do programa de vacinação infantil, e segundo a OMS, previne mais de 40 mil casos anuais de meningite tuberculosa. Daí a importância da vacinação e do impacto que a cobertura vacinal causa na população, razão pela qual se indica todas as crianças".
Em um cenário global onde a tuberculose continua sendo um problema de saúde pública, a vacina BCG desempenha um papel fundamental na proteção das crianças contra essa doença devastadora. Ao garantir que as crianças sejam vacinadas transcendentes, podemos contribuir para um futuro mais saudável e seguro para as gerações vindouras