Uma expedição científica sem precedentes no Oceano Atlântico revelou amostras profundas do manto terrestre, proporcionando novas perspectivas sobre a formação da crosta terrestre e os processos geológicos subjacentes. A equipe de pesquisadores conseguiu extrair uma amostra quase ininterrupta de 1.268 metros de rocha semelhante a mármore verde, proveniente de uma região onde a camada interna da Terra, que compõe mais de 80% da massa do planeta, emergiu através do fundo do mar.
O projeto, descrito em um artigo publicado em 8 de agosto na revista Science, oferece insights sem precedentes sobre os processos que levam à formação da crosta terrestre. A perfuração foi realizada pela embarcação JOIDES Resolution, que, após quatro décadas de serviço, está prestes a ser aposentada. Este navio revolucionou a ciência da Terra ao permitir o acesso a amostras do interior profundo do planeta, essenciais para entender sua composição e dinâmica. A equipe, liderada por cientistas de várias instituições, escolheu perfurar na Cidade Perdida, uma área no lado sul do maciço Atlantis, conhecida por suas fontes hidrotermais. A perfuração foi surpreendentemente fácil e três vezes mais rápida do que o normal, resultando em cilindros longos e ininterruptos de rocha, conhecidos como testemunhos.
As análises iniciais das amostras revelaram características oblíquas, que corroboram a teoria predominante sobre como o magma se separa do manto para formar a crosta. Além disso, a presença de diferentes tipos de rochas sugere que a fronteira entre o manto e a crosta não é tão definida quanto os dados sismográficos normalmente indicam. Essas descobertas são fundamentais para a compreensão da formação das placas tectônicas nos oceanos.
Apesar do sucesso da expedição, o futuro da pesquisa em perfuração oceânica enfrenta incertezas. Com o encerramento do Programa Internacional de Descoberta Oceânica e a aposentadoria do JOIDES Resolution, os cientistas estão preocupados com a continuidade dos estudos. A perfuração suave na Cidade Perdida, no entanto, abre caminho para futuras expedições, possivelmente conduzidas pelo navio de pesquisa japonês Chikyū, que pode acessar rochas do manto ainda não alteradas pela água do mar.