A Ferrovia Norte-Sul, que tem uma extensão de 2,2 mil quilômetros e levou quase quatro décadas para ser concluída, custou mais de R$ 11 bilhões. Durante esse longo período, foram encontrados desvios milionários de verbas. Recentemente, a ferrovia recebeu sua primeira viagem completa. As estimativas da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) indicam que cerca de 22,7 milhões de toneladas de carga devem transitar pelos trilhos até o ano de 2055.
Com a conclusão da parte em Goiás, a ferrovia agora conecta quatro regiões do país, atravessando cinco estados e unindo os portos de Itaqui (MA) a Santos (SP). "É uma ferrovia que basicamente foi construída com recursos públicos, 90% da obra. Mas houve concessões e subconcessões nesse período para permitir a conclusão da obra", explicou o secretário Nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro.
Na porção norte, a VLI é a administradora, enquanto nos trechos central e sul, a empresa responsável é a Rumo.
Valor Total
O secretário mencionou que é difícil calcular com precisão o custo total da obra. A parte entre Porto Nacional (TO) e Estrela D’Oeste (SP) teve um custo de R$ 11 bilhões. Quanto ao ramal sul, entre Porto Nacional e Açailândia (MA), houve flutuações de moeda durante o período, além de uma crise inflacionária, o que torna incerta a estimativa do valor investido.
Irregularidades Financeiras
Durante a fase de construção, o Ministério Público Federal descobriu que houve desvio de dinheiro público na construção da ferrovia. A Procuradoria da República em Goiás informou que estão em andamento investigações sobre o uso indevido de verbas nos estados de Goiás, Maranhão, Tocantins e São Paulo.
Um dos casos envolve o ex-presidente da Valec, Juquinha das Neves, que foi condenado por lavagem de dinheiro em 2017. Naquela época, o MPF alegou que, durante o período em que Juquinha esteve à frente da Valec, de 2006 a 2011, o prejuízo aos cofres públicos foi de aproximadamente R$ 630 milhões, apenas em Goiás.
A defesa de Juquinha afirmou que a condenação foi anulada e que o ex-presidente foi "absolvido em mais de uma dezena de processos". Alegaram também que a ferrovia foi entregue a um preço justo, sem superfaturamento.
O G1 tentou entrar em contato com a Procuradoria-Geral da República para obter informações sobre o valor total desviado conforme as investigações e quantas pessoas foram investigadas e julgadas.
Evoluçao dos fatos
A construção da ferrovia teve início em 1987, sob a gestão da Valec, uma empresa pública ligada ao Ministério da Infraestrutura. Atualmente, a Valec foi incorporada pela Infra S.A., após uma fusão com outra estatal.
Inicialmente, o projeto tinha 1,5 mil km, conectando Açailândia (MA) a Anápolis, a 55 km de Goiânia. Mais tarde, o plano foi expandido, estendendo a ferrovia até Estrela D’Oeste (SP).
Em 2007, foi concluído o primeiro trecho, abrangendo Açailândia e Porto Nacional (TO), operado sob concessão por uma empresa privada de logística. Essa parte da ferrovia tem aproximadamente 720 km de extensão.
Em 2019, o trecho que se estende do Tocantins a São Paulo, passando por Goiás e Minas Gerais, foi transferido para a empresa Rumo, que concluiu as obras. Ao todo, a ferrovia abrange 1.537 km.
Expectativa
O Governo Federal tem grandes expectativas com a conclusão dessa obra. Espera-se que a produção agrícola do país para exportação cresça, além do desenvolvimento das cidades próximas à ferrovia. Essa iniciativa também terá um impacto positivo na segurança das rodovias e na qualidade ambiental.
O secretário de Transporte Ferroviário ressaltou as vantagens do modelo ferroviário, destacando sua eficiência econômica e ambiental. Um trem com 100 vagões pode substituir 357 caminhões, o que é altamente eficiente.
Realidade
O maquinista Wodson Baltazar Silva expressou sua felicidade por ser o condutor do primeiro trem após a conclusão da ferrovia. Os moradores locais também demonstraram surpresa e entusiasmo ao testemunhar a passagem dos vagões após anos de construção.
A primeira viagem
A primeira viagem foi realizada em caráter de comissionamento, com uma composição de 112 contêineres saindo de Cubatão, em São Paulo, e indo até Anápolis. A carga era composta por defensivos agrícolas, algodão e peças importadas para a fabricação de carros.
Essa nova conexão ferroviária promove uma integração vital para o país, ligando a cadeia agropecuária e industrial, bem como conectando o interior do Brasil aos principais portos do país. A carga foi levada até o Porto Seco de Anápolis, que foi adaptado para receber o terminal de contêineres.
Além de trazer benefícios econômicos, o transporte ferroviário terá um impacto positivo no meio ambiente. Uma locomotiva com 80 vagões pode substituir 170 carretas, resultando em viagens mais eficientes e menos emissões de CO2. Este é um passo importante em direção a soluções mais sustentáveis e ecológicas.