A cantilena de que a população mundial está aumentando não é novidade para ninguém. Ainda que as taxas de fertilidade no mundo venham diminuindo, a Organização das Nações Unidas (ONU) projeta que em 2050 o contingente populacional chegue a mais de 9 bilhões, com acréscimo anual de 83 milhões de pessoas. Mas não somente a quantidade de pessoas é importante. Fatores como aumento da longevidade do ser humano, urbanização e maior acesso à renda também são determinantes na demanda de recursos que, de acordo com a instituição, considerando o mesmo horizonte de tempo, deverá ser de 60% a mais de comida, 50% a mais de energia e 40% a mais de água, caso o ritmo de crescimento seja mantido.
Restringindo a questão apenas para alimentos, basicamente só existem duas formas de aumentar a produção: aumentar a área plantada ou produzir mais na mesma área. Em termos de Brasil, apesar de diferentes órgãos mostrarem que cerca de 60% do território é preservado e que, se necessário, poderíamos aumentar a produção apenas utilizando pastagens já degradadas, falar em aumento da área destinada à agricultura é praticamente proibitivo. Então OK! Vamos deixar essa opção de lado e partir para produtividade.
A interferência nos cultivos a fim de buscar maior produtividade, independente de qual seja, é possível de duas maneiras: externa ou interna. As atividades externas consistem em atividades de manejo junto aos fatores controláveis de produção e que, consequentemente, vão definir os sistemas agrícolas. Neste contexto, além de aspectos físicos, como diferentes arranjos de espaçamentos e profundidades de semeadura/plantio, cita-se o emprego de insumos, como corretivos de solo, fertilizantes e defensivos agrícolas. E então caímos em outro ponto de discussão, com uma gama de taxações negativas às práticas culturais. Os agrotóxicos que os digam! O que não falta é “informação” sem fundamento ou cunho cientifico válido sendo divulgada na mídia. Mas Ok! Vamos assumir que as acusações são válidas e anular as interferências externas.
Bom, se não pode mexer por fora, nos resta mexer por dentro. Entra em cena então os alimentos transgênicos, desenvolvidos a partir de mecanismos de engenharia genética que objetivam incorporar na cultura em questão características novas ou melhoradas em relação ao indivíduo original. Uma dessas melhorias, inclusive, é a incorporação de resistência a pragas e doenças e que já apresentou resultados significativos. De acordo com dados do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações Agrícolas-Biotecnológicas (ISAAA), nas últimas duas décadas (de 1996-2015), 619 milhões de quilos de ingrediente ativo deixaram de ser aplicados graças às culturas biotecnológicas. E isso é apenas um dos benefícios. Mas advinha? Não pode também! Isso se seguirmos outra corrente que defende que os transgênicos fazem mal. Evidente, sem provas concretas.
A reflexão que fica é: se todas as alternativas identificadas ou desenvolvidas pelo homem não são suficientes, nos resta delegar a tarefa de aumentar a produção de alimentos para uma entidade divina? Seria esperar um “Deus” descer e criar novas variedades, mais produtivas e resistentes? Eu particularmente acredito que não. Na verdade, o que tem que se parar é de gerar ambientes de discussão e nortear conclusões a partir de cunhos ideológicos, onde muitas vezes se cria o problema para vender a solução. Os argumentos devem ser baseados em ciência. E ciência, não tem partido, credo ou ideologia. Ciência é ciência. Afinal, se todas as soluções desenvolvidas fazem tão mal assim, por que a população mundial está crescendo e ficando cada vez mais velha?
(João Rosa, professor do Pecege)