Na década de 1970, o rock brasileiro era considerado um gênero de pouca relevância . A Jovem Guarda havia perdido espaço e migrava para a música pop romântica, largando os riffs com a identidade dos Beatles de lado. O movimento tropicalista buscava emplacar nas paradas de sucesso a música jovem, mas foi uma experiência rápida, e logo saiu de cena – não sem antes revolucionar a música, o cinema e a poesia. No entanto, bandas que se propunham a fazer um som com pegada progressiva, como Bixo da Seda, O Terço, Vímana e Casa das Máquinas, romperam com os padrões da época.
O nome mais clássico dessa galera, sem dúvida, é o dos paulistanos da Casa das Máquinas. Pioneira do rock nacional, a banda se prepara para lançar pelo selo goiano Monstro Discos novo disco após hiato de 44 anos. Trata-se de “Brilho nos Olhos”, nome provável do álbum, mas título do próximo single a ser lançado no mês que vem nas plataformas de streaming. Os dois integrantes remanescentes, Mario Testoni (teclado) e Mario Thomaz (bateria e vocal), se uniram aos recém-chegados Cadu Moreira (guitarra, violão e vocal), Geraldo Vieira (baixo e vocal) e Ivan Gonçalves (vocal) numa empreitada musical de respeito.
Com a sonoridade alternando entre o rockão puro do primeiro disco, “Casa das Máquinas”, de 1974, e a viagem lisérgica dos dois seguintes, “Lar de Maravilhas”, de 1975, e “Casa de Rock”, de 1976, o single “A Rua” traz versos com pegada social que falam sobre um problema bem comum nas cidades. “Nunca fizemos críticas social e política, mas chegou a hora. Criança na rua é um problema desde os anos 60.”, diz ao Diário da Manhã o tecladista Mario Testoni, 65, que está na banda desde o segundo álbum. “A música é do Aroldo Binda, ex-guitarrista da Casa das Máquinas, e existe há 25 anos”.
Além da mensagem transmitida pela letra, a mudança mais perceptível é no estilo do vocal. Na década de 1970, eram agudos e tinham um quê mais hard rock. “O mundo mudou desde os anos 70. É difícil seguir com a mesma sonoridade. Hoje, toca-se diferente”, afirma o Testoni. Mas, mesmo com todas essas transformações, a Casa das Máquinas segue com o estilo que lhe colocara no panteão dos maiores nomes da história do rock brasileiro. “A banda é uma banda de classic rock e rock progressivo, por isso a nossa demora em gravar. Não queríamos perder nossas raízes”, sentencia.
O disco completo estava previsto para ser lançado no dia 13 de junho, mas a quarentena provocada pela pandemia do novo coronavírus mudou os planos. “Íamos tocar no show da Monstro, em Goiânia, no festival Goiânia Noise, mas foi remarcado para agosto. O mesmo aconteceu com o lançamento do disco em São Paulo”, conta o músico. Das dez faixas que compõem o novo álbum, uma delas foi lançada no início do projeto, em 2018. “Nova Casa”, inclusive, pode ser ouvida nas plataformas de streaming. “Vou Morar no Ar” e “Casa de Rock”, clássicos da Casa das Máquinas, devem ser regravadas em breve.
Mario Testoni conta ainda que a Monstro Discos apareceu quando a Casa das Máquinas estava gravando a quinta música do novo álbum. “O público que a gente está atingindo é diferente, nunca pensei que ia atingir. Essa parceria foi como ganhar na loto”, pontua Testoni. Gravado no Orra Meu Estúdios, em São Paulo, o álbum será o sucessor de “Casa de Rock”, de 1976. Os outros discos são “Casa das Máquinas”, de 1974”, e “Lar de Maravilhas”, considerado pela crítica como um dos álbuns mais importantes da história do rock progressivo nacional. Fique em casa e ouça “A Rua”.
Conheça a discografia da Casa da Máquinas
O primeiro disco da banda paulistana é um disco visceral do começo ao fim. As músicas denotam um rockão cru, clássico, sem firulas.
No segundo disco, a banda acentuou a pegada progressiva. É considerado pela crítica um dos álbuns mais importantes do rock progressivo nacional.
Diferente do antecessor, este disco simboliza o retorno da Casa às raízes rock and roll.
Casa das Máquinas na década de 1970 - Foto: Reprodução