Por onde Lula passa, multidões o acolhem com alegria, exceção os ruralistas. Curioso. Em seus mandatos, agropecuária e agronegócio tiveram o maior impulso e foi quando o setor ganhou mais dinheiro. Mas, como sabemos, dinheiro é o que menos importa aos ruralistas, em sua faina diária para aumentar produção, produtividade, exportações e a fartura nas mesas brasileiras, a baixos preços, além de cada vez mais lutarem pela preservação ambiental.
Comecei a ocupar este espaço em 13 de maio de 2013, 125 anos depois da Lei Áurea abolir a escravidão. Mais alguns dias e a coluna assoprará cinco velinhas e a Lei 130 delas.
Na estreia, Um espaço para o agronegócio, escrevia: “Nunca foi alta a densidade de notícias sobre agropecuária nas folhas diárias. Mesmo jornais dedicados à economia mostravam ser difícil arrumar matéria para aquela única página convencional. Secas e geadas eram vistas com alívio nas Redações (...) E por que não haveria de ser assim? A persistirem circulando publicações dedicadas aos armamentos de guerra e halterofilismo, entendia que alfaces, caprinos, ovos de codorna e sementes oleaginosas deveriam merecer a mesma proeminência”. Recolhi 83 compartilhamentos.
Durante esse período, se procurarem, encontrarão recordes de quase 10 mil daqueles “efezinhos”. Hoje em dia, não mais. Mesmo mostrando alguns sinais de vitalidade, a repercussão do tema e, consequentemente, da coluna já não é a mesma. Por quê?
Primeiro que as folhas e telas cotidianas passaram a se ocupar mais da agropecuária, embora apenas quando “vista assim do alto”, nada de lupa. Depois de 2015, as crises econômica e política dominaram completamente o noticiário.
Sinto isso quando dou à coluna uma pegada política ou fortemente crítica. Aumentam os acessos.
Na verdade, e aí o interesse seria ainda menor, proliferam aspectos técnicos do “como produzir”, mas de forma tão específica que somente interessaria aos produtores de cada cultura, já informados pelas revistas especializadas, boletins técnicos de Embrapa, Emater, faculdades de agronomia, empresas de insumos, e assim por diante.
Daí o fato de eu insistir com a lupa e a necessidade do extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário, hoje emaranhado pelo atual governo ilegítimo junto a outras repartições. Mais do que os ruralistas bancados, quem precisa desses conhecimentos está na agricultura familiar, aí incluídos assentados e pequenos produtores agrícolas, pecuaristas e pescadores.
Não tenho dúvida de que a política econômica brasileira, levada em modelo neoliberal, na contramão do planeta, é a causa de sucessivas perdas entre os produtores familiares de pequeno porte.
Assim como venho alertando sobre as restrições que o protecionismo norte-americano e europeu fará difícil a vida dos exportadores brasileiros de alimentos, fibras, biocombustíveis e derivados de madeira.
A concentração de renda e os oligopólios que se formam entre os fabricantes mundiais de insumos para a produção agropecuária, característicos do século XXI, tornam o comércio exterior mais restrito para países pobres ou emergentes.
Segundo a FAO, por seu diretor-geral, o brasileiro José Graziano da Silva, “em 2016, depois de mais de uma década de sucessivos recuos que reduziram a população subalimentada do planeta, constatou-se uma inflexão ascendente”.
Anotem aí. O Brasil, que recentemente deixou o mapa da fome planetária, a continuar com um modelo econômico, político e social a favor do rentismo em detrimento de produção, comércio e serviços, também restringindo o acesso ao consumo cortando programas de caráter assistencial para os mais pobres, logo voltará a constar do nefasto mapa.
(Rui Daher, colunista de CartaCapital. Criador e consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola. ruidaher@yahoo.com.br)