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Moby Dick, ou A Baleia - A apreciação póstuma da obra de Herman Melville

Ian Caetano Especial para Diário da Manhã

Este livro, que hoje é tido como clássico da literatura universal, em sua época de lançamento foi severamente enxovalhado pela crítica e não chegou a vender, segundo historiadores, nem três mil exemplares até a morte de Melville.

O que é possível retirar da história oficial é que parecia haver, por parte da crítica literária da época, uma certa cisma com Herman Melville, o autor da obra. Tudo que este indivíduo publicara foi tão intensamente enxovalhado que, após a publicação de Moby Dick, a crítica o destroçou, chamando o livro de superficial e sem sentido. O autor, abalado, ainda tentara algumas obras (como o genial Bartleby), mas a crítica não descansava e este caiu em uma depressão tão profunda que ficou recluso em um trabalho burocrático (funcionário de alfândega) e só voltou a escrever algumas poucas poesias no final da vida.



Nos últimos meses de vida escreve uma obra chamada Billy Budd (hoje tida como outro clássico) e morre três meses depois, com apenas três linhas no obituário do The New York Times, que ainda cometera a crueldade história de errar no nome do autor no obituário, chamando-o Henry Melville.

Moby Dick ficou por tempos esquecido, hoje é aclamado como o grande “épico americano”, aos moldes do que seria Odisseia, de Homero.

Sem a menor sombra de dúvidas, Moby Dick é um clássico. A história é cativante, e tem por premissa abordar o embate dos homens contra as forças da natureza, por vezes desconhecidas e isso tudo à luz de um angustiante debate interno no autor, que tinha uma forte veia protestante, mas era profundamente tocado pela crítica da moral e dos costumes consolidados.

Mas antes de entrar na história, falarei de uma das coisas que mais me chamou a atenção durante a leitura: a estrutura do texto.

Moby Dick perpassa quase todos os estilos de escrita, é majoritariamente escrito como uma narrativa em prosa, mas tem capítulos em forma de teatro, de poesia, de ensaio filosófico, de relato e até um capítulo inicial com estrutura de escavação teórico-científica, e ainda alguns em canto. E o narrador, que é um personagem, ora aparece como si próprio, ora de maneira omnisciente, mas isso tudo de maneira bastante clara e bem colocada no contexto da história. O livro, na verdade, não é a “história presente”, mas é Ismael (o personagem que narra a história) alguns anos depois dos acontecimentos narrando-os de maneira dispersa, como causos de pesca contados à beira do fogo. Note que falei “o personagem que narra a história” e não “o personagem central da história”, porque, de fato, pouco tem Ismael de impactante nos eventos contados, é como um espectador sortudo que presenciara eventos dignos de nota.



Ismael, um marinheiro jovem a quem não apetecia ficar muito tempo em terra, trabalhara boa parte de sua experiência em navios mercantes; então decide mudar de ares, resolve ingressar em uma pesca baleeira – o espermacete de baleia era uma especiaria de alto custo àquela época. Depois de fazer amizade com Queequeg, um africano que mal falava inglês (em um encontro engraçadíssimo), resolvem ingressar juntos no Pequod, um navio de estética colonial, de madeira escura e bem robusto. Com um capitão – com claras tendências à loucura – chamado Ahab. Pequod sairia em uma viagem de quatro anos em busca do precioso espermacete.

Ismael nos narra durante o livro as aventuras do Pequod e a obsessão de Ahab em reencontrar a grande Baleira Branca, conhecida por Moby Dick, em busca de vingança. Reecontrar, pois este homem conseguiu a enorme façanha de topar com o temido leviatã e sair vivo, ainda que sem uma perna, feito que já era tomado por milagre, dada a impiedade e cruel esperteza atribuída ao cachalote albino.

Uma história que traz até a participação do temido Kraken; além de diversos costumes verídicos, como a disputa entre os baleeiros ingleses e americanos; a dificuldade das famílias, que por vezes não tinham o retorno de seus familiares e ainda detalhes precisos sobre os procedimentos e as curiosidades referentes à pesca de ser tão monumental como a baleia cachalote. (Vale dizer que Melville de fato passou parte da vida como marinheiro, então trazm em certos momentos, elementos de sua própria vivência).

Certamente um livro que vale a pena ser lido, permeado de sátiras sobre os costumes da época e críticas às formas sociais é um livro que mistura profundo conhecimento, com pitadas filosofia, ao grande humor no retrato dos costumes marujos. É um livro em grande parte alegre, embora retrate o agravar da loucura de um homem em sua monomania, pois trata dos sonhos e dos anseios daqueles que buscam as riquezas no mar. Pode ser, para algumas pessoas, em certos momentos, árido, por conta das descrições do processo de pesca, mas ver-se-á que vale a pena chegar ao final para confrontar – ou não – Moby Dick.

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