Recém-formada em Educação Física pela Esefego e recém-casada, ministrava aulas de dança-jazz, ginástica e yoga, dentre outros lugares, nas Escolas Yufon de Goiânia e Brasília dirigidas pela elegante e dinâmica Nize de Freitas, filha do primeiro prefeito de Goiânia, Venerando de Freitas. Todos os finais de ano como ocorre até os dias atuais, as academias ou escolas de dança faziam performances dos trabalhos desenvolvidos no ano.
Naquele final de 1979, Nize de Freitas convidou o ícone da dança jazz, Nino Giovanetti, para coreografar e dirigir o espetáculo Bubbling Brown Sugar, a ser realizado no Teatro Goiânia. O show contava com a participação do corpo docente e discente da academia Yufon.
Giovanetti era possuidor de um currículo invejável para os que lidavam com a dança, especialmente o jazz, a paixão e a especialidade daquela jovem professora. Diretor, professor e presidente da Academia Jazz de Ballet Nino Giovanetti, no Rio de Janeiro, ele era um dos mais requisitados bailarinos e coreógrafos do Brasil. Foi um dos introdutores do Jazz em nosso país. Fez cursos em vários lugares da Europa, da América Latina e dos Estados Unidos. Na Europa, foi o 1º bailarino na Cia de Luciano Lucianni. Morou e apresentou-se em Roma, dançou no México e nos EEUU com Martha Granham.
No Brasil, foi o 1º bailarino para Carlos Manga, e, na TV Excelsior/Rio, dançou com "feras" como Vilma Vermont, Lenie Dale, Bete Faria e David Dupré. Atuou na temporada do Ballet Jazz para quatro instrumentos ao lado de Rudolf Nureyev e Margot Fonteyn. Coreografou para a grande maioria das emissoras de TV do eixo Rio de Janeiro - São Paulo. Na extinta TV Tupy, atuou em programas com Bibi Ferreira, Moacir Franco e Chico Anisio. Foi diretor e coreógrafo de shows de Maysa, Elizete Cardoso, Wilson Simonal, Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle.
Participou, como convidado de Dalal Aschar, da 1ª performance no Brasil. Ao lado de Nina Verthinina e Helenita As Hearp, atuou no 1º Festival de coreógrafos no Museu de Arte Moderna. Integrou o elenco da novela global Dancing Days. Nino foi diretor tesoureiro e o fundador do Sindicato dos Profissionais da Dança do Estado do Rio de Janeiro. Fundou, ainda, o Conselho Brasileiro de Dança, através da UNESCO. Foi o coreógrafo da escola de Samba Império Serrano. Giovanetti, que nasceu em São Paulo em 1933, continuou atuante em sua academia no Rio de Janeiro até falecer em 26 de novembro de 2008 em Goytacazes.
Voltando ao show produzido por Nino Giovanetti em Goiânia: ressaltamos que os professores e alunos da Escola Yufon ficaram encantados com a presença frequente daquele ícone, nas idas e vindas entre Rio de Janeiro e Goiânia, para a direção e montagem do espetáculo goiano. Quando se ausentava, os professores eram os responsáveis pelos inúmeros e incansáveis ensaios das coreografias idealizadas pelo nobre coreógrafo. Na última vez em que esteve em nossa capital, antes do show, no ensaio geral, a professora não se conteve. Tiete. Pediu a ele para tirarem uma foto juntos. Imaginou (recém-casada com um marido ciumento) uma foto convencional ao lado de um ídolo. Que nada! Ele dirigiu a fotografia orientando-a: "coloque a perna direita aqui" (ela, num salto, colocou a perna flexionada na altura da cintura dele), e, segurando-a pela cintura, sugeriu que ela elevasse a perna e o braço esquerdos para o alto, enquanto fazia o mesmo com o braço direito. Ela pensava na ansiedade e no orgulho de estar, literalmente, nos braços daquele patrimônio artístico internacional... E o fotógrafo: clic! Clic! Clic.
Ah! - Conjecturou - depois aguardo o momento adequado para mostrar as fotos e sua alegria ao marido ciumento. Dias depois (ela ainda não tinha visto as fotografias), chegando à Escola Yufon para as aulas do período matutino, todos estavam eufóricos. Para sua surpresa, estava lá, enorme, estampada na página do jornal, com o Nino Giovanetti, num Pas de Deux, esteticamente perfeito e harmonioso. Usaram a fotografia para a divulgação maciça do show em Goiânia. Ficou mais uma vez orgulhosa e ainda mais ansiosa. Não tinha, ainda, mostrado as fotografias e nem abordado o assunto com o marido. Eis que, para sua maior surpresa, ele foi extremamente compreensivo. Aprovou e admirou as performances artísticas da professora-bailarina, e, percebendo o desempenho e o encantamento da esposa pela dança participou, mais ativamente, sem possessividade, do trabalho dela, enquanto professora de jazz, coreógrafa e bailarina. E a união entre os dois se fortaleceu.
Ela sou eu.
(Elizabeth Caldeira Brito, escritora acadêmica, dentre outras, da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás. Criadora e organizadora da página dominical do Diário da Manhã, Oficina Poética. beth-abreu@hotmail.com)