A cadeia do agronegócio que tem evitado a sangria na economia brasileira. E em Goiás, a atividade agropecuária é a sua alma. Mas, para que isso tenha acontecido, há uma história na garupa do cavalo. O nascimento de entidades classistas rurais como a Faeg, liderada por homens do porte de Ruy Brasil Cavalcante, Felix Curado, Ruy Brasil Cavalcanti Júnior, Antônio Flávio Lima, Paulo Seronni, José Mário Schreiner, entre outros. SGPA, com Altamiro de Moura Pacheco. Importante salientar que a SGPA foi criada em momento político de tendência nacionalista e ideias modernizantes, “visando a inserção do setor agrário ao projeto desenvolvimentista em curso no Brasil”, assim, a entidade é fruto desta conjuntura. Em Goiás, neste período, apenas a pecuária entrou neste rol, visto que a agricultura permaneceu tradicional até a década de 1960.
Fundada em 1956, a OCB-GO tem sua página na história do cooperativismo goiano. Mais, uma vez, surge Jaime Câmara como um dos pioneiros desponta no fomento do agro no Estado. Outros nomes de destaque: Haroldo Max de Sousa, Jales Naves, Eduardo Pereira de Andrade, Antônio Carlos Borges e Adilon Antônio de Souza. Roberto Balestra e Joaquim Guilherme, na atualidade. Balestra, além do cooperativismo, foi o fomentador da cultura da laranja no Cerrado do Brasil Central. Tudo começou em Inhumas. Esses pioneiros e seus demais seguidores em suas instituições em defesa dos produtores e fomentadores da produção e sua conseqüente qualidade são responsáveis diretos pelo status que hoje Goiás representa no contexto político e econômico.
Por isso, esperava mais sobre a cadeia da agropecuária no debate. Seus propósitos. Kátia Maria, candidata do PT, criticou Ronaldo Caiado justamente no ponto em que ele assume posições firmes em prol dos produtores. O senador é uma liderança inconteste da porteira da fazenda ao mercado exportador de carnes, grãos, frutas e hortaliças. Mais, ainda, quando sentiu que havia ameaça de tomada de terras no Brasil, e, sobretudo, em Goiás como Estado produtor de alimentos, Ronaldo Caiado ajudou a criar a UDR (União Democrática Ruralista), em 1985,em Presidente Prudente (SP).
No ano seguinte, em Goiânia foi fundada a UDR Nacional, sediada em Brasília, como resultado de uma significativa mobilização dos grandes proprietários rurais do Brasil, na Assembleia Constituinte de 1987. Essa atuação se concentraria principalmente na defesa dos direitos de propriedade, que consideravam ameaçados pela esquerda, favorável à realização da reforma agrária de interesse comunizante no País. Como resultado da atuação dos ruralistas, a Constituição de 1988 preserva os direitos de propriedade rural em terras produtivas.
Os produtores brasileiros em 1995, massacrados pelo governo FHC, e sendo ainda acusados de caloteiros, fizeram uma manifestação em Brasília. O caminhonaço ou a marcha a Brasília reuniu milhares de agricultores e pecuaristas. Em Goiás, João Bosco Umbelino dos Santos, Antônio Flávio Lima, Macel Caixeta, Paulo Seronni e José Mário Schreiner lideraram a gigantesca manifestação. Na capital federal, ninguém menos que Ronaldo Caiado e Roberto Balestra reagiram contra o governo.
Mas, Wesley Garcia (PSOL), ao invés de proclamar a necessidade de fortalecimento dos pequenos produtores através dos sistemas cooperativista e associativista, preferiu acusar o senador do DEM de escravagista. Esses conceitos inconsequentes não pegam mais. Kátia Maria, mais moderada, rateou também no segmento do agro. Chamou de lei do veneno, a legislação em discussão no Congresso Nacional que trata do uso dos defensivos agrícolas. A única maneira de combate as pragas, fungos,pragas e ervas daninhas é combatendo com uso de agrotóxicos. A forma de usar é que deve ser ensinada melhor. Aliás, o Senar, por exemplo, já ministra cursos nesse sentido em Goiás.
O setor agrícola brasileiro mais uma vez teve bom desempenho externo, em 2017, segundo dados da Esalq. A farta oferta agrícola desse ano, que cresceu aproximadamente 30% segundo a Conab, foi suficiente para atender com folga a demanda brasileira por alimentos, fibras e energia, além disso, gerou excedentes para que as exportações atingissem patamares recordes.
Desse modo, além de contribuir para a queda dos índices de inflação, que ficou abaixo da meta estabelecida pelo governo federal, foi fundamental também para a estabilidade do câmbio, visto que resultou em expressivo superávit nas relações comerciais com o resto do mundo, gerando significativa entrada de divisas, que compensaram o déficit comercial proveniente de outros setores produtivos.
Enquanto o saldo comercial dos outros setores ficou negativo em quase US$ 15 bilhões em 2017, o superávit gerado pelo agronegócio foi superior a US$ 81 bilhões no ano, mais que compensando toda saída de moeda estrangeira (dólar) do País. Nesse cenário, a balança comercial brasileira fechou 2017 com superávit superior a US$ 66 bilhões.
A participação do agronegócio nas exportações totais do País foi de 44% e ficou um pouco abaixo da participação do ano anterior. No acumulado dos últimos 18 anos (de 2000 a 2017), o saldo comercial do agronegócio brasileiro, receitas das exportações menos gastos com importações em dólares, aumentou em cinco vezes, com crescimento de 447%.
A logística dos transportes mereceu mais um pouco da atenção durante o debate. José Eliton alardeou que o Estado está cortado de rodovias construídas pelos governos tucanos. Inclusive, que está sendo entregue estrada asfaltada entre Alto Paraíso e Colinas. Kátia Maria reclamou da necessidade de interligação do norte goiano com o oeste da Bahia. Daniel Vilela (MDB) e Ronaldo Caiado defendem a integração rodovia, ferrovia e hidrovia.
Quanto à assistência técnica, Eliton rasgou elogios ao trabalho da Emater, ressaltando o nome de Pedro Arrais, como dos melhores pesquisadores do País.
Mas, programas destinados ao desenvolvimento do agro em Goiás, foram praticamente deixados no vazio, apesar de sua importância econômica e social, gerador e mantenedor de empregos.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histadrut, em Tel Aviv, Israel. Autor do livro: O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste. Edita às segundas a página de agro no Diário da Manhã)