- Cenário é de pressão e de alta no mercado do boi gordo na maioria das praças agropecuárias
Os criadores estão sentindo no bolso o estio prolongado desta época do ano. Os confinadores de gado neste regime de seca precisam suplementar o alimento dos animais. Já em julho, o custo da ração de milho sofreu alta de 25% a 27% em relação a igual período de 2017. É o que sustenta o especialista de mercado de pecuária de corte Rodrigo Albuquerque, ao Diário da Manhã. Os confinadores tiveram alta na arroba do boi gordo de 2% a 6% dentro das curvas do mercado futuro que prossegue até dezembro. Albuquerque observa que os custos da suplementação alimentar ficaram acima da média dos preços pagos aos produtores.
Ofertas de compra acima da referência são cada vez mais comuns e o cenário é de pressão de alta no mercado do boi gordo na maioria das praças pecuárias pesquisadas pelo Beef Point. Em São Paulo, por exemplo, as escalas de abate giram em torno de quatro a cinco dias, mas ainda existem aqueles frigoríficos que precisam de boiadas para o início da próxima semana resultando em ofertas de R$1,00 acima da referência. No Estado, a arroba do boi gordo está cotada em R$142,00, à vista, livre de Funrural. Alta de 2,2% desde o início de julho. Destaque também para Goiás e Mato Grosso do Sul.
A estiagem diminuiu o volume de boiadas terminadas e o resultado foi a valorização média da arroba de 2,7% em Goiás e 2,1% em Mato Grosso do Sul no período. No mercado atacadista de carne bovina com osso, o boi casado de animais castrados está cotado em R$9,25/kg. Na visão de Rodrigo Albuquerque o “estio é normal nesta época do ano em todo o Centro-Oeste”. As chuvas devem aflorar na segunda quinzena de outubro.
LEITE: QUINTA ALTA
Os preços do leite ao produtor em junho (referentes à captação de maio), por sua vez, registraram a quinta alta consecutiva, impulsionados pela menor oferta. De acordo com pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o valor líquido se elevou em 3,3% frente ao mês anterior, chegando a R$ 1,296/litro “Média Brasil” (inclui Goiás, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Considerando-se o acumulado deste primeiro semestre, a alta é de 28%.
O aumento dos preços em junho foi inferior aos registrados nos meses anteriores – em abril e maio, por exemplo, a valorização do leite superou os 7%. Isso ocorreu porque, em maio, quando aconteceu a captação do leite no campo, agentes da indústria relatavam dificuldades em fazer o repasse da valorização da matéria-prima aos derivados, alegando demanda enfraquecida. Com negociações truncadas, a necessidade de realizar promoções freou a valorização do leite spot e também dos derivados, em especial do UHT, fator que limitou a elevação dos preços ao produtor em junho.
No entanto, a oferta limitada tem pesado mais que a demanda no processo de formação de preços no campo, ditando a dinâmica do mercado lácteo neste ano. O setor sofre com as consequências dos baixos preços praticados no segundo semestre de 2017, que desestimulou produtores a investirem na atividade. Além disso, com o avanço da entressafra e o aumento dos preços dos grãos entre abril e maio deste ano, a produção foi prejudicada, elevando a competição entre indústrias para assegurar o fornecimento de matéria-prima.
Para completar, a greve dos caminhoneiros no final de maio e a consequente interrupção do transporte de leite aos laticínios agravou ainda mais esse cenário. O Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L) recuou expressivos 14,4% de abril para maio, acumulando queda de 24,1% no ano. Paraná e Minas Gerais foram os estados com maior redução do volume captado, em 20,6% e em 15,1%. O resultado, atípico, esteve atrelado ao grande volume descartado de leite ainda nas propriedades.
No correr de junho, os laticínios e canais de distribuição enfrentaram a situação conjunta de esvaziamento de estoques. Como consequência, os preços dos derivados se elevaram consideravelmente. O longa-vida, termômetro para o setor, se valorizou quase 30% na primeira quinzena de junho. Na segunda metade do mês, a valorização foi menos intensa, de 5,8%.
Para julho, por sua vez, a competição das empresas em junho para compra do leite com o objetivo de recompor estoques deve sustentar a alta dos preços ao produtor. A alta no próximo mês, inclusive, pode superar a verificada em junho.