A internet criou uma ponte entre o repórter e o leitor. Pouco tempo antes, que na verdade se confunde com os dias atuais, o único veículo de informação era a mídia. O poderio das empresas, sempre em acordo com o governo (muitas vezes opressor), fez com que dizeres como “liberdade de imprensa” se tornassem indispensáveis para que o jornalismo resistisse neste mundo atual. Essa resistência tem origem nos períodos mais obscuros da história brasileira. Na verdade, tem origem em pessoas que figuram, atualmente, como grandes motores da liberdade de expressão e do intelectualismo brasileiro. Tarso de Castro é uma destas pessoas. Nascido no dia 11 de setembro de 1941, na cidade de Passo Fundo, é o criador do jornal Pasquim e do caderno Folhetim, de cultura, da Folha de São Paulo.
Tarso é um dos mais importante se polêmicos jornalistas do Brasil. O Pasquim, criado por ele em parceria com outros intelectuais brasileiros, em junho de 1969, durante a Ditadura Militar, deu voz para contracultura. Sem medo de contrariar os censores do governo, os jornalistas d’O Pasquim demonstraram o que havia de podre dentro do modelo. Se atualmente podemos postar opiniões, criar blogs com críticas e até mesmo criar jornais eletrônicos, isso tudo teve como ponto de partida esses periódicos: feitos com o único intuito de desafiar a “verdade” instaurada.
A história de Tarso de Castro e a sua influência na formação da sociedade brasileira atual, são os temas do longa-metragem “A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro”, com direção de Leo Garcia e Zeca Brito. O filme estreou na última quinta-feira (24/50, na cidade de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Niterói, Curitiba, Caxias do Sul, Aracaju, Manaus, Rio Branco e Vitória. A película chega ao público após ser exibida no Festival de Cinema do Rio 2017 e na 41ª Mostra Internacional de cinema de São Paulo. O cenário deste projeto é o Brasil dos anos 60,70 e 80, e a geração de intelectuais que resistiram à ditadura militar, promovendo uma revolução de costumes ao lado de Tarso.
EXTRA-ORDINÁRIO
“O Tarso foi um personagem fascinante e muito complexo. E nunca foi tão urgente falar e discutir sobre jornalismo como hoje. Muita gente se esforçou para tentar apagar o Tarso da história (e isso é abordado no nosso filme), então espero que ele seja redescoberto, principalmente por parte das novas gerações. Tentamos fazer jus ao nosso personagem, realizando um documentário que aborda temas sérios, mas de uma maneira bem despojada e engraçada – no melhor estilo Tarso de Castro”, afirma o diretor e roteirista Leo Garcia. O filme também aborda a própria decadência de Tarso, que pagou o preço dos prazeres excessivos. Era alcoólatra e, não admitindo o tratamento, morreu de cirrose hepática aos 49 anos de idade, no ano de 1991.
“Tarso fez de sua vida uma instigante narrativa de paixões. Revolucionário e transgressor, mudou a imprensa brasileira vivendo intensamente o ofício de jornalista”, complementa Zeca Brito, diretor e roteirista do longa assinado pelas produtoras Coelho Voador, Epifania Filmes, Anti Filmes e Boulevard Filmes, com coprodução do Canal Brasil e distribuição da Boulevard Filmes.
Entre os entrevistados estão o cartunista Jaguar, o jornalista Sérgio Cabral (pai) e o filho de Tarso, João Vicente de Castro, além de outros companheiros do jornalista, como Paulo César Pereio, Caetano Veloso, Antônio Pedro, Nelson Motta, Roberto D’Avila, Bárbara Oppenheimer, Paulo Caruso e Gilda Midani. Além dos amigos já citados, Tarso conviveu e influenciou personalidades como Glauber Rocha, Tom Jobim, Leila Diniz, Paulo Francis, Samuel Wainer, Luiz Carlos Maciel, Sérgio Porto, Hugo Carvana, Leonel Brizola, João Ubaldo Ribeiro e Sérgio Buarque de Holanda.
FICHA TÉCNICA
Roteiro e Direção: Leo Garcia e Zeca Brito
Produção Executiva: Letícia Friedrich e Mariana Mêmis Müller
Som Direto: Fernando Basso
Desenho de Som e Mixagem: Tiago Bello
Direção de Fotografia: Bruno Polidoro
Pesquisa: Alice Spitz e Sylvio Siffert
Montagem: Jardel Machado Hermes
Produção: Leo Garcia, Letícia Friedrich, Lourenço Sant’Anna, Mariana Mêmis Muller e Zeca Brito
Produção Musical: Rita Zart
Trilha Sonora Original: Tiago Abrahão
Empresas produtoras: Anti Filmes, Boulevard Filmes, Coelho Voador, Epifania Filmes e Canal Brasil
Distribuição: Boulevard Filmes
OS DIRETORES
LEO GARCIA
Leo Garcia é sócio da Coelho Voador e diretor geral do FRAPA, o maior Festival de Roteiro da América Latina, com cinco edições realizadas. Mestre em Roteiro (UPSA -Salamanca, Espanha), já teve trabalhos exibidos na RBSTV, Globo Internacional, Canal Brasil, TVE, Prime Box Brazil e TV BRASIL. Um de seus destaques é o curta de animação “Ed” – no qual é roteirista e produtor – que conta com 27 prêmios (entre ele o Grande Prêmio Canal Brasil 2014) e foi selecionado para mais 100 festivais mundo afora. Leo também escreveu e produziu o longa de ficção “Em 97 Era Assim”, premiado em festivais internacionais, com lançamento marcado para 2018. Também assina o roteiro de dois longas de ficção em finalização: o drama histórico “Legalidade”, com previsão de lançamento para o segundo semestre de 2018; e “Depois de Ser Cinza”, gravado no Brasil e na Croácia, previsto para 2019.
ZECA BRITO
Zeca Brito é diretor e roteirista, graduado em Realização Audiovisual pela Unisinos e Artes Visuais pela UFRGS, premiado por seus curtas e longas-metragens. É sócio da empresa Anti Filmes e diretor artístico do Festival Internacional de Cinema da Fronteira. Zeca roteirizou e dirigiu diversos curta-metragens, com destaque para “Aos Pés” e “O Sabiá”. Estreou em longa-metragem em 2011 com o drama “O Guri” (Canal Brasil); em 2015 lançou o documentário “Glauco do Brasil” (39ª Mostra SP); e em 2018 também estreia sua comédia “Em 97 Era Assim” (Melhor Filme – Best Film Festival Seattle 2017). Dirigiu ainda o telefilme documental “Grupo de Bagé”, para o Canal Curta, e a ficção “Legalidade”, em finalização, ambos com previsão de exibição para 2018.
SINOPSE DO FILME
Boêmio. Provocador. Sedutor. Revolucionário. Além de idealizador do “Pasquim”, Tarso de Castro foi um dos maiores jornalistas do Brasil. Ao investigar sua vida, vem à tona a história de um país embriagado pela ditadura e pela censura, onde o sonho de democracia nascia de uma geração libertária.