A fome esmaga hoje mais de 821 milhões de pessoas em todo o mundo, números que correspondem a quase quatro populações do Brasil, segundo dados estatísticos da Organização das Nações Unidas (ONU). Somos acostumados a sentir fome porque passou do horário do almoço, do lanche ou do jantar. Mas, ao chegarmos em casa, basta abrir a geladeira e em instantes se monta um prato de comida. Ou, por outra, se vai a uma lanchonete, a um restaurante e o desejo de comer logo estará saciado. Mas, estamos falando da fome que nem todos enxergam. Falamos daquele subnutrido, que padece lentamente por falta de vitaminas, proteínas e sem elas o seu organismo não resiste e a pessoa adoece e morre.
A ONU e a OMS (Organização Mundial da Saúde) definem que, por dia, cada pessoa precisa consumir no mínimo 2500 calorias. Caso as pessoas consumam, em média, menos do que isso, considera-se que elas estejam com fome endêmica ou oculta. E, mostra-se presente de forma mais acentuada nos países da África, Ásia e América Latina. O Brasil está nesse contexto. São 5,2 milhões de pessoas ou 2,5% da população.
Goiás está nesse contexto e Goiânia também. Segundo dados do Pnad (Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios), mais de 400 mil goianos enfrentaram situação grave de privação de alimentos, incluindo experiência de fome.
A fome está presente em 51 países do mundo, afetando 124 milhões de pessoas, segundo dados do Relatório Global sobre Crises Alimentares, apoiado pela ONU. É a segunda edição desse estudo, preparado por 12 instituições globais coordenadas pela Food Security Information Network e que fornece uma visão clara do problema. O número representa 11 milhões a mais do que no ano anterior, quando existiam 48 países em situação de crise alimentar.
Já em 2003, lançava o meu livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste e ressaltava em uma de suas páginas que a FAO abraçava o Projeto Fome Zero, proposto pelo então presidente Lula. A idéia era liberar um milhão de dólares ou cerca de quatro milhões de reais para a iniciativa pioneira no Brasil. Não sei no que resultou. Mas, o problema da fome crônica continua no País.
Mas, em situações tão lamentáveis e humilhantes, é bom acompanhar iniciativas de cunho social e solidário. Goiânia oferece um exemplo marcante. O Ipog (Instituto de Pós Graduação e Graduação), uma iniciativa privada, formou uma parceria com o Projeto Amar e o Farol da Terra, que contribui para matar a fome de pelo menos 350 crianças. Com esse ato de solidariedade, o projeto Pare a Fome assegura a elevação do nível de vida e o resgate da cidadania. A instituição tem o apoio da Faculdade de Nutrição da UFG em diferentes níveis, além da doação de alimentos.
Com as doações, depois de montado o pacote com 380 gramas de alimento pode alimentar em média de quatro a seis pessoas, faz-se a distribuição. São produzidos 1.400 pacotes, ricos em proteína de soja, com cebola, alho, tomate e arroz. Para ser preparada, a porção deve ser colocada em água e cozida, por 40 minutos ou até o ponto de consumo. Além disso, o projeto Pare a Fome colabora para a execução de duas importantes metas da ONU.
Kelson Costa, coordenador do MBA Ipog, caçula de nove irmãos filhos do Estado do Tocantins, já sentiu essas necessidades e atualmente procura dar a sua contribuição para redução do grave problema de ordem social. Na condição de jornalista do agro e filho das beiras do Araguaia naquele Estado, tem me convidado a participar de suas reuniões e formação de grupo com o objetivo de melhorar a vida de patrícios. A inclusão social está em nossos planos.
Desta vez, outro colega foi convidado e deu o seu recado. Antônio Pereira, mais conhecido por Toninho, que dirige programa de agro no SBT, dirigiu-se aos presentes. Discorreu sobre a escassez de alimentos e água no mundo. Lamentou o desperdício e chamou a atenção para a geração de empregos na pecuária e na agricultura. Fez, inclusive, comparativos numéricos entre uma atividade e outra. Encerrou ressaltando o importante papel de iniciativas como o Farol da Terra e Projeto Amar.
Em resumo, cada contribuição no combate à fome merece o agradecimento da sociedade como um todo. Só temos que dar parabéns ao Ipog e demais componentes do Projeto Pare a Fome. Não vou citar nomes para não incorrer em possíveis lapsos de esquecimento de alguém.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista de cooperativismo agropecuário pela Histradut, sediada em Tel Aviv, Israel. Autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste e editor da página de Agronegócio do Diário da Manhã, que circula às segundas-feiras)