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CULTURA

Carne crua

Por Mazinho Souza

O fusca demorou um pouco para pegar, eu acelerava e o motor roncava com todas as forças, enquanto Alessandra entrava pela outra porta para um passeio (com sabor de despedida) pelas ruas de Goiânia. Caía uma fina chuva, liguei o rádio do fusca e deixei ser absorvido pela poesia doce de Bob Dylan. Atravessei um sinal vermelho por estar tão distraído (quase transcendendo) com as notas simples e vaidosas dessa gaita de blues.

        Meu cérebro era devorado por uma maré de pensamentos confusos. Tanto eu quanto Alessandra estávamos bastante loucos de ácido e maconha. As ruas estavam totalmente desertas, já se passavam das três horas da madrugada, com um dos braços para fora eu sentia a deliciosa e fria chuva que caía. Eu dirigia há quarenta por hora e desejava que aquele passeio jamais acabasse, pois logo após descer a avenida Araguaia e passar pelo túnel Jaime Câmara, olhei para Alessandra e em seu olhar balançava uma chama que me fez queimar os lábios. Com uma mão eu segurava o volante e com a outra acariciava os longos cabelos cacheados, o rosto e as pernas de Alessandra. E aquela chama que enxerguei em seu olhar já lhe queimava todo o corpo, pois eu conseguia sentir o seu suspiro sempre que acariciava entre suas pernas. Alessandra mantinha os olhos fechados como se viajasse em algum cosmo, balançando o pescoço e abrindo cada vez mais as pernas.



        Ainda com o fusca em movimento, passei a mão no pescoço de Alessandra, que abriu os olhos e me deu um sorriso sedutor de puta e disse estar se sentindo em Paris. Não questionei. Vagarosamente puxei sua cabeça até mim e antes que eu pudesse pensar, Alessandra já brincava com sua língua (como uma serpente) dentro da minha garganta. Assustei com a buzina de um carro, quando atravessei pela contramão próximo ao aeroporto. Com um gemido bastante gostoso Alessandra se mostrou assustada. Voltei a mão para suas pernas para que se acalmasse. Imaginando que eu também havia me assustado, Alessandra pegou em minha perna direita, subiu até encontrar o zipper do meu short e o abriu, curvou em minha direção e começou a explorar.  Subiu, rapidamente, uma sensação boa em todo meu corpo (me fazendo arrepiar os pelos das pernas e dos braços) quando senti a saliva quente que Alessandra trazia na língua, chicoteando meu pênis (que se encontrava ereto) e me fazendo acelerar e desacelerar o fusca conforme sua língua o envolvia.

        Aumentei o volume e gozei junto com o solo de saxofone que rolava no rádio. Era o jazz da madrugada, subindo e descendo os morros, transmitindo incríveis sensações aos meus ouvidos, meus braços e minha trêmulas pernas. Passando por algumas avenidas escuras e rotatórias, eu dirigia sem muito perigo. Dei a volta logo que avistei o parque do Goiânia II, entrei com o fusca e estacionei bem próximo ao lago. Os pingos da chuva já estavam bem poucos e conseguimos avistar uma grande quantidade de estrelas naquele lugar. A lua amarela tinha o formato de uma banana.

ilustrativo (1)

Bolei um baseado e acendi assim que Alessandra conseguiu fechar o vidro do fusca. Enquanto fumávamos foi criando, dentro do fusca, uma nuvem branca e cheirosa. Deixando as coisas mais quentes que estavam. Ficamos ali, durante algum tempo, hora conversando sobre música e literatura, outra apenas apreciando o silêncio e o céu. “Quem precisa mais que isso para ser feliz?”, pensei. Alessandra disse estar se sentindo mais sensível que o normal. Me deu um longo beijo. Na verdade seu beijo foi tão quente quanto demorado.

Segurando o baseado de lado, deixei que a brasa caísse em minha camisa e quando percebi já havia feito um pequeno buraco, que queimava de leve o lado esquerdo do peito. Alessandra sorria, enquanto eu (um pouco desajeitado) batia a mão sobre a camisa, na tentativa de apagar a brasa. Apagou, mas antes queimou o suficiente para nascer uma pequena bolha no local. Passei o baseado para Alessandra, abrimos o vidro e decidimos ir para minha casa, pois o fusca se tornaria ainda menor se Alessandra ousasse me beijar outra vez. Saímos do parque, deixando para trás o céu, e a fumaça eu vi desaparecer pelo retrovisor. Enquanto eu dirigia o fusca eu tinha impressão que ele apagaria a qualquer momento, sempre engasgando quando eu acelerava um pouco mais forte. Andei ainda mais devagar e assim que chegamos em casa, após errar a entrada da Perimetral e andar mais dez minutos até chegar ao Itatiaia, escolhi um disco da Janis Joplin, deixei rolando na vitrola no volume mais alto e fiquei, junto com Alessandra, caminhando pela casa e pelo quintal, olhando todas as pinturas que havia pela casa, principalmente a capa do “in the court of the crimson king” que parecia ter vida na parede esquerda do meu quarto. Estávamos deitados no colchão, olhando para a parede e Alessandra (como um dócil gatinho) acariciava de leve meu braço. No ritmo da música deitei Alessandra no colchão, comecei beijar seu pescoço e fui descendo até seus compactos seios. Enquanto eu tirava sua roupa, Alessandra com os braços jogados para trás dizia querer me sentir dentro dela.

_ Quero ser sua puta, quero que me coma, quero sentir você - dizia.

E sentiu, assim que tirei sua calcinha e comecei, vagarosamente, passar a língua entre suas pernas e com o dedo, acariciando de leve seu mamilo esquerdo.

_ Isso é muito bom - Alessandra repetia a cada vinte segundos.

Eu estava louco para penetra-la, mas não conseguia tirar a língua de sua boceta (que já se encontrava bastante molhada) e por ali fiquei mais um tempo. Quase virando do averso Alessandra se contorcia toda sobre o lençol vermelho, soltando baixos e altos gemidos, e eu me sentia um vulcão prestes a entrar em erupção.

        Tirando e colocando, em uma velocidade minima, comecei a penetra-la, envolvendo os braços sobre seu corpo. Suas unhas cravavam em minhas costas sempre que eu chegava no fundo. Em ritmo intenso rolei com ela pelo chão e sentia seu gozo quente sempre que ficávamos entrelaçados (as pernas em formato de tesoura) nos devorando em uma conexão única. Tive ali, pela primeira vez, a sensação de eternidade: não temia a morte nem o inferno.

        Quando terminamos já era dia e nossos corpos pingava o salgado suor, o cheiro de sexo ficou penetrado pelo quarto durante dois ou três dias. Não importei. Saímos do quarto com bastante dificuldades, sentindo dores em todas as partes do corpo e uma fraqueza imensa nas pernas. Tomei um delicioso banho gelado na ducha que ficava próximo ao pé de romã, no fundo do quintal. Chamei Alessandra para entrar. Recusou alegando estar muito gelada a água e ficou sentada nua no sofá. Sentei ao seu lado e acendi um cigarro. Olhei para o céu e estava bastante azul. Dei um satisfatório trago e tive certeza ali que o Diabo me olhava com respeito e Deus temia meu poder.


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